sábado, setembro 29, 2007
Everness
Sólo una cosa no hay. Es el olvido.
Dios, que salva el metal, salva la escoria
Y cifra en Su profética memoria
Las lunas que serán y las que han sido.
Ya todo está. Los miles de reflejos
Que entre los dos crepúsculos del día
Tu rostro fue dejando en los espejos
Y los que irá dejando todavía.
Y todo es una parte del diverso
Cristal de esa memoria, el universo;
No tienen fin sus arduos corredores
Y las puertas se cierran a tu paso;
Sólo del otro lado del ocaso
Verás los Arquetipos y Esplendores.
jorge luis borges
pindaro
sexta-feira, setembro 28, 2007
L´ivresse
Anjos e paisagens
Etre amoureux, c'est se créer une religion dont le dieu est faillible.
Jorge Luis Borges
Pindaro
quinta-feira, setembro 27, 2007
Zona de afirmação
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Carlos Drummond de Andrade
pindaro
A recreação dos sentidos
... e, depois de recolhidos, gastaram em o desejo da (noite) que se seguia o mesmo espaço que daquela poupavam; que muitas vezes a recreação dos sentidos vence a necessidade do repouso que os suspende.
Francisco Roíz Lobo
Pindaro
Persistiré en tu gracia
Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.
Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.
Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!
Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.
Pablo Neruda
pindaro
domingo, setembro 23, 2007
Segredos de estimação
sexta-feira, setembro 21, 2007
Impressões finas
Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar. Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidos. Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar. Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.
Agustina Bessa-Luís
pindaro
Um mar sem ondas
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria…
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga
pindaro
No leito estreito da redondilha
Teu corpo claro e perfeito,
– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em antigas se derrama...
Volúpia da água e da chama...
A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
Manuel Bandeira
pindaro
quinta-feira, setembro 20, 2007
Palavras
Afinidades e pontas
Como una fruta
Ha venido tu lengua; está en mi boca
como una fruta en la melancolía...
António Gamoneda
pindaro
A arte do encontro
A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Vinicius de Morais
pindaro
quarta-feira, setembro 19, 2007
Fico ao teu lado
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
cecília meireles
píndaro
terça-feira, setembro 18, 2007
De frente y gustoso
Qué tristeza este pasar
el caudal de cada día
(vueltas arriba y abajo!),
por el puente de la noche
(vueltas abajo y arriba!),
al otro sol!
Quién supiera
dejar el manto, contento,
en las manos del pasado;
no mirar más lo que fue;
entrar de frente y gustoso,
todo desnudo, en la libre
alegría del presente!
Juan Ramón Jiménez
pindaro
Aparta el tiempo
le echa hacia atrás, ensancha el mundo breve
donde puede besarse todavía...
segunda-feira, setembro 17, 2007
O ramal definitivo
Passam os séculos e gasta-se o mundo
Assenhorear-se
La fonction de l'art est de permettre aux hommes d'échapper à leur condition d'hommes non par une évasion, mais par une possession... Tout art est un moyen de possession du destin... Tout le destin de l'art, tout le destin de ce que les hommes ont mis sous le mot culture, tient en une seule idée: transformer le destin en conscience.
André Malraux
pindaro
Comprimentos e pontas
Ser de todas as maneiras porque só pode haver verdade se faltar ainda alguma coisa.
Fernando Pessoa
pindaro
Trajectórias dos astros
Conheci jovens que saíram do mundo dos deuses.
Os seus gestos faziam pensar nas trajectórias dos astros; não nos espantávamos de achar insensível o seu duro coração de mármore; se estendiam a mão, a rapacidade daqueles mendigos requintados era um vício de deuses.
Como todos os deuses, apresentavam inquietantes parentescos com os lobos, os chacais, as víboras...
Marguerite Yourcenar
pindaro
Na floresta sem atalhos
Não deve causar estranheza que cálculos rigorosos, de ordem histórica e literária, tendentes a dar a uma personagem imaginária o máximo da plausibilidade a levem a embater como por acaso numa personagem real. Continuo a espantar-me com a quantidade e a intensidade das movimentações obscuras que nos orientam para um nome, um facto, uma personagem e não para outro. Entramos aí na floresta sem atalhos.
Marguerite Yourcenar
pindaro
Vorazes
quinta-feira, setembro 13, 2007
Práticas de gosto
Porque, nas práticas de gosto, primeiro cansam os sentidos que os desejos.
Francisco Roíz Lobo
pindaro
E nunca em mais nenhum
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum
Eugénio de Andrade
pindaro
O movimento pendular
À flor da pele
Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário do humano.
clarice lispector
Pindaro
quarta-feira, setembro 12, 2007
O vinho e a mirra
Sem margens
terça-feira, setembro 11, 2007
En mémoire
L'amour c'est quand le temps se transforme en mémoire et nous fait le présent d'un passé plein d'espoir
Yves Duteil
pindaro
Pelas alfamas da alma
...sintió por él ese anémico desprecio que despiertan las cosas que más deseamos sin saberlo.
Carlos Ruiz Zafón
pindaro
segunda-feira, setembro 10, 2007
As roucas sílabas da posse
Que o fosso da memória se transponha,
que seja a solidão atravessada!
Da cálida crissálida renasça
de novo para o corpo o corpo todo!
Venham as roucas sílabas da posse
no búzio dos ouvidos enroladas!
Sobre a teia das veias impalpáveis,
reconstrua-se a cúpula dos olhos!
Que tudo agora súbito se emprenhe
da realidade que a lembrança apenas
em folha de álbum, ressequida, guarda!
Que eu vá de novo decorar-te a seiva,
como um poema líquido que seja
urgente recitar na eternidade!
David Mourão-Ferreira
pindaro
domingo, setembro 09, 2007
Para siempre
Alguíen dijo una vez que en el momento en que te paras a pensar si quires a alguíen, ya as dejado de quererle para siempre.
Carlos Ruiz Zafón
pindaro
As marcas e os sinais
La volupté unique et suprême de l'amour gît dans la certitude de faire le mal. Et l'homme et la femme savent de naissance que dans le mal se trouve toute volupté.
Charles Baudelaire
pindaro
Pela barra fora
pindaro
Partimos pela barra fora
meu amor achei-o estranho
mais tarde por lá ficou
onde foi que importa agora
tive um barco e nada tenho
e o meu amor não voltou
Manuel de Andrade
pindaro
O golpe na sua pureza
Os segredos da vindima
Para um apaixonado existem sempre dois tempos: aquele que concede a si próprio e aquele que tem que ganhar.
Bodo Kirchhoff
pindaro
Por dentro do silêncio
La musique commence là où s'arrête le pouvoir des mots.
Richard Wagner
pindaro
Nusquama (nenhures)
About a secret
A photograph is a secret about a secret.
The more it tells you
The less
you know.
Diane Arbus
pindaro
quarta-feira, setembro 05, 2007
Trevas e sombreados
anónimo
É o que se tira da carta à rainha, da pluma de Sir Walter Raleigh:
“Dêem-me a minha concha de silêncio,
O meu bordão de fé, para me amparar,
A minha escritura de júbilo, imortal dieta,
A minha garrafa de salvação,
A minha toga de glória, verdadeiro penhor de esperança,
E então farei a peregrinação.”
O navegante, dominador que era de obscuridades subtis, tinha por certo lido os ensinamentos do grande Giordano Bruno em “The shadows of ideas”:
“A sombra tempera a luz...As sombras não se dissolvem,
Mas mantêm e protegem a luz que há em nós
E conduzem-nos ao conhecimento e à recordação.”
Mais tarde, Sir Thomas Browne, gourmet de trevas e sombreados, dado a sínteses, dobrou esta esquina bicuda com um simples adágio no imperecível “Urne-Burial & Garden of Cyrus”:
“A noite do tempo supera em muito o dia.”
(Percebe-se a tirada de Virgínia Woolf: “But why fly in the face of facts? Few people love the writings of Sir Thomas Browne, but those who do are of the salt of the Earth.”)
Foi depois que Voltaire, dando moldura às estátuas e aos vultos, arrematou todo o tema das sombras com um belíssimo sinal da cruz:
“É o escândalo público que faz a ofensa, pecar em segredo não é sequer pecar.”
Solino
Na cava da palavra
As coisas não se submetem
à nossa vestidura;
na máscara que somos
as coisas nos conjuram.
Por que não escutá-las,
tão sáfaras e puras,
como flores ou larvas,
estranhas criaturas?
Por que desprezá-las
no sopro que as transmuda
com os olhos de favas,
fechados na espessura?
Por que não escutá-las
na linguagem mais dura,
comprimidas as asas
na testa que as vincula?
Despimos a armadura
e a viseira diurna;
a linguagem resvala
onde as coisas se apuram.
Recônditas e escravas
na cava da palavra,
são fiandeiras escuras
ou áspides sequiosas.
As coisas não se submetem
à nossa vestidura.
Carlos Nejar
pindaro
terça-feira, setembro 04, 2007
O entendimento perfeito
Ce qu'il y a de beau dans un mystère, c'est le secret qu'il contient et non la vérité qu'il cache.
Eric-Emmanuel Schmitt
pindaro
Galantería simpar
A todas las mujeres hay que pedírsela, porque la que no te lo da, te lo agradece.
Porfirio Rubirosa
pindaro