SI de tus dones y de tus destrucciones, Océano a mis manos pudiera destinar una medida, una fruta, un fermento, escogería tu reposo distante, las líneas de tu acero, tu extensión vigilada por el aire y la noche, y la energía de tu idioma blanco que destroza y derriba sus columnas en su propia pureza demolida.
No es la última ola con su salado peso la que tritura costas y produce la paz de arena que rodea el mundo: es el central volumen de la fuerza, la potencia extendida de las aguas, la inmóvil soledad llena de vidas. Tiempo, tal vez, o copa acumulada de todo movimiento, unidad pura que no selló la muerte, verde víscera de la totalidad abrasadora.
Del brazo sumergido que levanta una gota no queda sino un beso de la sal. De los cuerpos del hombre en tus orillas una húmeda fragancia de flor mojada permanece. Tu energía parece resbalar sin ser gastada, parece regresar a su reposo.
La ola que desprendes, arco de identidad, pluma estrellada, cuando se despeñó fue sólo espuma, y regresó a nacer sin consumirse.
Toda tu fuerza vuelve a ser origen. Sólo entregas despojos triturados, cáscaras que apartó tu cargamento, lo que expulsó la acción de tu abundancia, todo lo que dejó de ser racimo.
Tu estatua está extendida más allá de las olas.
Viviente y ordenada como el pecho y el manto de un solo ser y sus respiraciones, en la materia de la luz izadas, llanuras levantadas por las olas, forman la piel desnuda del planeta. Llenas tu propio ser con tu substancia.
Colmas la curvatura del silencio.
Con tu sal y tu miel tiembla la copa, la cavidad universal del agua, y nada falta en ti como en el cráter desollado, en el vaso cerril: cumbres vacías, cicatrices, señales que vigilan el aire mutilado.
Tus pétalos palpitan contra el mundo, tiemblan tus cereales submarinos, las suaves ovas cuelgan su amenaza, navegan y pululan las escuelas, y sólo sube al hilo de las redes el relámpago muerto de la escama, un milímetro herido en la distancia de tus totalidades cristalinas. Pablo Neruda
Tão cedo passa tudo quanto passa! Morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada. Ricardo Reis
Ao longo da vida, em geral, os apetites mais nobres são os que surgem apenas depois de nos termos decidido a comer, o que só conseguimos compreender depois de termos comido...
Quand le ciel bas et lourd pèse comme un couvercle Sur l'esprit gémissant en proie aux longs ennuis, Et que de l'horizon embrassant tout le cercle Il nous verse un jour noir plus triste que les nuits;
Quand la terre est changé en un cachot humide, Où l'Espérance, comme une chauve-souris, S'en va battant les murs de son aile timide Et se cognant la tête à des plafonds pourris;
Quand la pluie étalant ses immenses traînées D'une vaste prison imite les barreaux, Et qu'un peuple muet d'infâmes araignées Vient tendre ses filets au fond de nos cerveaux,
Des cloches tout à coup sautent avec furie Et lancent vers le ciel un affreux hurlement, Ainsi que des esprits errants et sans patrie Qui se mettent à geindre opiniâtrément.
- Et de longs corbillards, sans tambours ni musique, Défilent lentement dans mon âme; l'Espoir, Vaincu, pleure, et l'Angoisse atroce, despotique, Sur mon crâne incliné plante son drapeau noir.
Il est bon d'apprendre quelquefois aux heureux de ce monde, qu'il est des bonheurs supérieurs aux leurs, plus vastes et plus raffinés. Charles Baudelaire
L'important c'est que la photo possède une force constatative et que le constatatif de la photo porte, non sur l'objet, mais sur le temps. Roland Barthes pindaro
Les âmes se pèsent dans le silence, comme l'or et l'argent se pèsent dans l'eau pure, et les paroles que nous prononçons n'ont de sens que grâce au silence où elles baignent. Maurice Maeterlinck pindaro
Linguagem é sempre duplo sentido, alusão. Só os auto-suficientes supõem que dizem o que querem e com todo o rigor. Não há tal. Vitorino Nemésio pindaro
As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa). Não há meio-termo possível. É preciso Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora. É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços Alguma coisa além da carne: que se os toque Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência. É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas No enlaçar de uma cintura semovente. Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras É como um rio sem pontes. Indispensável. Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida A mulher se alteie em cálice, e que seus seios Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas. Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal! Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!). Preferíveis sem dúvida os pescoços longos De forma que a cabeça dê por vezes a impressão De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros. Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos Ao abri-los ela não estará mais presente Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber O fel da dúvida. Oh, sobretudo Que ela não perca nunca, não importa em que mundo Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre O impossível perfume; e destile sempre O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável. Vinicius de Moraes
Sempre a tentativa nunca vã… O equilíbrio musical dos instrumentos, a paciência do teu pulso suave e certo, o teu rosto mais largo e a calma força que sobe e que modelas palmo a palmo, rio que ascende como um tronco em plena sala. A tua casa habita entre o silêncio e o dia. Entre a alma e a luz o movimento é livre. Acordar a leve chama veia a veia, erguê-la do fundo e solta propagá-la aos membros e ao ventre, até ao peito e às mãos e que a cabeça ascenda, cordial corola plena. Todo o corpo é uma onda, uma coluna flexível. Respiras lentamente. A terra inteira é viva. E sentes o teu sangue harmonioso e livre correr ligado à água, ao ar, ao fogo lúcido. No interior centro cálido abre-se a flor da luz, rigor suave e óleo, música de músculos, roda lenta girando das ancas ao busto ondeado e cada vez mais ampla a onda livre ondula a todo o corpo uno, num respirar de vela. Sobre a toalha de água, à luz de um sol real, dança e respira, respira e dança a vida, o seu corpo é um barco que o próprio mar modela.
"Todos nós corremos com desvantagens secretas" Pursewarden
"Justine apoiada num fuste de uma coluna de Taposiris, a cabeça negra recortando-se contra a obscuridade murmurante da água, uma mecha desfeita pela brisa marinha, dizendo:
Na língua inglesa há uma única expressão que para mim tem significado :Time immemorial."
Quando não posso contemplar teu rosto, contemplo os teus pés. Teus pés de osso arqueado, teus pequenos pés duros. Eu sei que te sustentam e que teu doce peso sobre eles se ergue. Tua cintura e teus seios, a duplicada purpura dos teus mamilos, a caixa dos teus olhos que há pouco levantaram voo, a larga boca de fruta, tua rubra cabeleira, pequena torre minha. Mas se amo os teus pés é só porque andaram sobre a terra e sobre o vento e sobre a água, até me encontrarem. pablo neruda
Nesse theatrum mundi os homens e as mulheres perseguem-se mutuamente, tentando conquistar um sentido de centralidade e escapar ao aborrecido anonimato da sua condição social pela ilusão de um momento sexual privilegiado. Maria Nencová Banerjee
Queima o sangue um fogo de desejo, de desejo a alma é ferida, dá-me os teus lábios, o teu beijo é o meu vinho e minha mirra. Reclina para mim a cabeça ternamente, faz que eu durma sereno até que sopre um dia alegre e se dissipe a névoa nocturna. A. Púchkin
That is where they live: Not here and now, but where all happened once. This is why they give An air of baffled absence, trying to be there Yet being here.
Que reste-t-il de nos amours Que reste-t-il de ces beaux jours Une photo, vieille photo De ma jeunesse Que reste-t-il des billets doux Des mois d' avril, des rendez-vous Un souvenir qui me poursuit Sans cesse
Bonheur fané, cheveux au vent Baisers volés, rêves mouvants Que reste-t-il de tout cela Dites-le-moi
Un petit village, un vieux clocher Un paysage si bien caché Et dans un nuage le cher visage De mon passé
Les mots les mots tendres qu'on murmure Les caresses les plus pures Les serments au fond des bois Les fleurs qu'on retrouve dans un livre Dont le parfum vous enivre Se sont envolés pourquoi?
Rien ne suscite plus grande mélancolie que l'idée de ne pas connaître tous les êtres qu'on aurait pu aimer, qu'on va mourir avant d'avoir pu les rencontrer. Carlos Fuentes