Havia nela, sem que o soubesse, as sonoridades dos mistérios, que na sua incessante e confiada inquietude nos cercavam, numa fugaz toada encantatória, própria dos beijos dados ao lusco-fusco.
Beleza não pensada.
Vamos lá...então!
Estás linda...
Leonardo
quarta-feira, março 30, 2005
terça-feira, março 29, 2005
Nusquama (nenhures)
"Navegavam sem o mapa que faziam"
sophia de melo breyner
O deslumbramento e a nostalgia da errância vão discorrendo por entre as emboscadas das horas.
É voltar a soltar amarras, é voltar a peregrinar o sul dos encantos, que só o incessante rumor da distância nos redime.
Leonardo
sophia de melo breyner
O deslumbramento e a nostalgia da errância vão discorrendo por entre as emboscadas das horas.
É voltar a soltar amarras, é voltar a peregrinar o sul dos encantos, que só o incessante rumor da distância nos redime.
Leonardo
sábado, março 26, 2005
Legenda
“Do latim medieval legenda, o que deve ser lido.
Representação de factos ou personagens ampliadas pela imaginação.
Todo o texto que acompanha uma imagem e lhe dá sentido.”
Dic. Le Robert
Brassaí conta que um ser muito jovem e belo por quem um grande nome das letras francesas se apaixonara lhe dera uma fotografia nas costas da qual tinha escrito estas palavras:
Look at my face; my name is
Might have been;
I am also called
No more, Too late, Farwell.
Na nudez do “Might have been” atravessam, ao mesmo tempo, a ausência e o excesso de sentido, levadas em dois sopros no mesmo vento.
Nesse canto elegíaco de desnudamento, perpassa, macio, o refrulho de Giulia Sissa: a alma é um corpo de mulher...
Naquela privação, voraz como um vinho que se entorna, só o tempo lambe o golpe, o tempo entrevisto por Yeats, pois com o tempo a sabedoria:
Embora muitas sejam as folhas, a raiz é só uma;
Ao longo dos enganadores dias da mocidade,
Oscilaram ao sol minhas folhas, minhas flores;
Agora posso murchar no coração da verdade.
Depois, fabricantes de simulacros, como animais marcaríamos em cada dia novo território no mapa da rosa-dos-ventos, debruado de sabores ásperos e avivado de azul.
Doutor Lívio
Representação de factos ou personagens ampliadas pela imaginação.
Todo o texto que acompanha uma imagem e lhe dá sentido.”
Dic. Le Robert
Brassaí conta que um ser muito jovem e belo por quem um grande nome das letras francesas se apaixonara lhe dera uma fotografia nas costas da qual tinha escrito estas palavras:
Look at my face; my name is
Might have been;
I am also called
No more, Too late, Farwell.
Na nudez do “Might have been” atravessam, ao mesmo tempo, a ausência e o excesso de sentido, levadas em dois sopros no mesmo vento.
Nesse canto elegíaco de desnudamento, perpassa, macio, o refrulho de Giulia Sissa: a alma é um corpo de mulher...
Naquela privação, voraz como um vinho que se entorna, só o tempo lambe o golpe, o tempo entrevisto por Yeats, pois com o tempo a sabedoria:
Embora muitas sejam as folhas, a raiz é só uma;
Ao longo dos enganadores dias da mocidade,
Oscilaram ao sol minhas folhas, minhas flores;
Agora posso murchar no coração da verdade.
Depois, fabricantes de simulacros, como animais marcaríamos em cada dia novo território no mapa da rosa-dos-ventos, debruado de sabores ásperos e avivado de azul.
Doutor Lívio
sexta-feira, março 25, 2005
Divide et impera
“A singularidade é um conceito existencial; já a identidade é um conceito de referenciação, de circunscrição da realidade a quadros de referência, quadros estes que podem ser imaginários.”
Guattari
Pelo meio do século XIX assomou à História o sistema de Governo conhecido por “Transformismo”, do lema do político Agostino Depretis, figura de esquerda no Risorgimento e primeiro-ministro italiano por três vezes, para quem governar era “transformar os inimigos em amigos”.
Adepto e consagrador dessa teoria no plano internacional foi Henry John Temple, Lord Palmerston, que governava norteado pela divisa divide et impera.
A melhor forma de lidar com as exigências das oposições e adversários, pensava, não era a de resistir a quaisquer concessões, à maneira dum Guizot ou de um Costa Cabral, mas apartar, pela razoabilidade das concessões, os moderados dos radicais.
Não ser rígido e intransigente, mas mostrar abertura e flexibilidade para poder cativar, de entre opositores e descontentes, os que se acomodavam com o possível e o realizável.
O “Transformismo” traduziu-se no ensaio da concretização nos países da Europa do Sul do modelo de equilíbrio político inglês, confinando a luta ao palco parlamentar, sob a liderança de cavalheiros que sabiam ser tolerantes e, mostrando desprendimento em relação a purezas ideológicas, entrar hoje num governo com os adversários de ontem.
Veja-se o exemplo nacional: entre 1850 e 1890 sucederam-se vinte e dois governos, mas foram chefiados tão só por dez individualidades.
Fontes, “quem todo lo manda”, presidiu a quatro, os famosos Duques de Saldanha, Loulé, e Ávila, bem como o Marquês de Sá da Bandeira a três, cada um, e o Duque da Terceira e Joaquim António de Aguiar a dois, cada um.
Fontes, com doze anos, Loulé com nove e Saldanha com seis, governaram Portugal em vinte e sete desses quarenta anos.
“Em politica e Administração a oportunidade é uma condição essencial”, dizia Serpa Pimentel, fidalgo, poeta romântico, socialista nas ideias, conservador nos meios, e o seu chefe Fontes Pereira de Melo reputava-se um “oportunista”: um homem de ideias avançadas que no entanto nunca as tentava aplicar sem que prudentemente avaliasse a “oportunidade” de o fazer.
Deu-se bem com o princípio, pois foi, com doze anos no total, quem mais tempo em Portugal esteve à frente de Governos saídos de eleições e, até Cavaco Silva o ultrapassar um século depois, quem liderou o Governo de maior duração – 1871 a 1877.
Depretis, Palmerston, Melbourne, Rodrigo, Loulé, Fontes, Ávila, todos beberam a seiva essencial do “Transformismo”, que, matizado e amodernado, atravessou dois séculos e pôde ser apercebido, entre outros, em Sá Carneiro e Helmut Schmidt, em Cavaco Silva, Schroder e Blair.
D. Júlio
Guattari
Pelo meio do século XIX assomou à História o sistema de Governo conhecido por “Transformismo”, do lema do político Agostino Depretis, figura de esquerda no Risorgimento e primeiro-ministro italiano por três vezes, para quem governar era “transformar os inimigos em amigos”.
Adepto e consagrador dessa teoria no plano internacional foi Henry John Temple, Lord Palmerston, que governava norteado pela divisa divide et impera.
A melhor forma de lidar com as exigências das oposições e adversários, pensava, não era a de resistir a quaisquer concessões, à maneira dum Guizot ou de um Costa Cabral, mas apartar, pela razoabilidade das concessões, os moderados dos radicais.
Não ser rígido e intransigente, mas mostrar abertura e flexibilidade para poder cativar, de entre opositores e descontentes, os que se acomodavam com o possível e o realizável.
O “Transformismo” traduziu-se no ensaio da concretização nos países da Europa do Sul do modelo de equilíbrio político inglês, confinando a luta ao palco parlamentar, sob a liderança de cavalheiros que sabiam ser tolerantes e, mostrando desprendimento em relação a purezas ideológicas, entrar hoje num governo com os adversários de ontem.
Veja-se o exemplo nacional: entre 1850 e 1890 sucederam-se vinte e dois governos, mas foram chefiados tão só por dez individualidades.
Fontes, “quem todo lo manda”, presidiu a quatro, os famosos Duques de Saldanha, Loulé, e Ávila, bem como o Marquês de Sá da Bandeira a três, cada um, e o Duque da Terceira e Joaquim António de Aguiar a dois, cada um.
Fontes, com doze anos, Loulé com nove e Saldanha com seis, governaram Portugal em vinte e sete desses quarenta anos.
“Em politica e Administração a oportunidade é uma condição essencial”, dizia Serpa Pimentel, fidalgo, poeta romântico, socialista nas ideias, conservador nos meios, e o seu chefe Fontes Pereira de Melo reputava-se um “oportunista”: um homem de ideias avançadas que no entanto nunca as tentava aplicar sem que prudentemente avaliasse a “oportunidade” de o fazer.
Deu-se bem com o princípio, pois foi, com doze anos no total, quem mais tempo em Portugal esteve à frente de Governos saídos de eleições e, até Cavaco Silva o ultrapassar um século depois, quem liderou o Governo de maior duração – 1871 a 1877.
Depretis, Palmerston, Melbourne, Rodrigo, Loulé, Fontes, Ávila, todos beberam a seiva essencial do “Transformismo”, que, matizado e amodernado, atravessou dois séculos e pôde ser apercebido, entre outros, em Sá Carneiro e Helmut Schmidt, em Cavaco Silva, Schroder e Blair.
E pode continuar a ser percebido, nos próximos tempos, entre nós.
D. Júlio
Rewind (IV)
Cerrando o quarteto Rewind – um relance a esmo sobre os chefes do governo lusos – e porque os primeiros são os últimos, vamos bispar a época que vai de 1821 aos fins de 1834.
Então, esses chefes eram Ministros, ou do Reino ou de todas as pastas ou Assistentes ao Despacho.
Fica, assim, coberto, de nomes, o tempo decorrido entre 1821 e 2005, um bom pedaço da nossa História, que fez o que somos e que fará o que seremos.
-Inácio da Costa Quintela
-Felipe Ferreira de Araújo e Castro
-Conde de Subserra
-José de Almeida e Araújo Correia de Lacerda
-Francisco Trigoso de Aragão Morato
-Luís Manuel de Moura Cabral
-Francisco Alexandre Lobo
-2º Visconde de Santarém
-Carlos Honório de Gouveia Durão
-6º Duque de Cadaval
-4º Conde de Basto
-António José Guião
-Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque
-José Ferreira Braklamy
-José Dionísio da Serra
-Cândido José Xavier
-Bento Pereira do Carmo
D. Júlio
Então, esses chefes eram Ministros, ou do Reino ou de todas as pastas ou Assistentes ao Despacho.
Fica, assim, coberto, de nomes, o tempo decorrido entre 1821 e 2005, um bom pedaço da nossa História, que fez o que somos e que fará o que seremos.
-Inácio da Costa Quintela
-Felipe Ferreira de Araújo e Castro
-Conde de Subserra
-José de Almeida e Araújo Correia de Lacerda
-Francisco Trigoso de Aragão Morato
-Luís Manuel de Moura Cabral
-Francisco Alexandre Lobo
-2º Visconde de Santarém
-Carlos Honório de Gouveia Durão
-6º Duque de Cadaval
-4º Conde de Basto
-António José Guião
-Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque
-José Ferreira Braklamy
-José Dionísio da Serra
-Cândido José Xavier
-Bento Pereira do Carmo
D. Júlio
quinta-feira, março 24, 2005
Rewind (III)
Aproximando-nos do nosso tempo, vamos espionar os oito responsáveis máximos dos governos de Portugal, no período compreendido entre 1926 e 1974:
-José Mendes Cabeçadas Júnior
-Manuel de Oliveira Gomes da Costa
-António Óscar de Fragoso Carmona
-José Vicente de Freitas
-Artur Ivens Ferraz
-Domingos Alves da Costa Oliveira
-António de Oliveira Salazar
-Marcelo das Neves Alves Caetano
E, entrando no ciclo “pós 25 de Abril”, recordem-se os escolhidos e, depois, os eleitos, até agora catorze ao todo:
-Adelino da Palma Carlos
-Vasco dos Santos Gonçalves
-José Batista Pinheiro de Azevedo
-Mário Nobre Soares
-Alfredo Nobre da Costa
-Carlos da Mota Pinto
-Maria de Lurdes Pintasilgo
-Francisco Lumbrales Sá Carneiro
-Francisco Pinto Balsemão
-Aníbal António Cavaco Silva
-António de Oliveira Guterres
-José Manuel Durão Barroso
-Pedro Santana Lopes
-José Sócrates Pinto de Sousa
D. Júlio
-José Mendes Cabeçadas Júnior
-Manuel de Oliveira Gomes da Costa
-António Óscar de Fragoso Carmona
-José Vicente de Freitas
-Artur Ivens Ferraz
-Domingos Alves da Costa Oliveira
-António de Oliveira Salazar
-Marcelo das Neves Alves Caetano
E, entrando no ciclo “pós 25 de Abril”, recordem-se os escolhidos e, depois, os eleitos, até agora catorze ao todo:
-Adelino da Palma Carlos
-Vasco dos Santos Gonçalves
-José Batista Pinheiro de Azevedo
-Mário Nobre Soares
-Alfredo Nobre da Costa
-Carlos da Mota Pinto
-Maria de Lurdes Pintasilgo
-Francisco Lumbrales Sá Carneiro
-Francisco Pinto Balsemão
-Aníbal António Cavaco Silva
-António de Oliveira Guterres
-José Manuel Durão Barroso
-Pedro Santana Lopes
-José Sócrates Pinto de Sousa
D. Júlio
quarta-feira, março 23, 2005
Rewind (II)
Continuando a lembrar, agora por arrumação cronológica, os portugueses que por mor de talentos e vicissitudes ocuparam a chefia do governo da nação, vejamos quem eles foram de 1910 a 1926:
- Joaquim Fernandes Teófilo Braga
-João Pinheiro Chagas (2 vezes)
- Ayres Augusto Braga de Sá Nogueira e Vasconcellos
-Duarte Leite Pereira da Silva
- Afonso Augusto Costa (3 vezes)
- Bernardino Luís Machado Guimarães (2 vezes)
-Victor Hugo de Azevedo Coutinho
-Joaquim Pereira Pimenta de Castro
-José Soares Ribeiro de Castro
-Sidónio Cardoso da Silva Pais
-João do Canto e Castro Silva Antunes
-António José de Almeida
-João Tamagnini de Sousa Barbosa
-José Mascarenhas Relvas
-Domingos Leite Pereira (3 vezes)
-Alfredo Ernesto de Sá Cardoso
-Francisco José Fernandes Costa
-António Maria Batista
-José Ramos Preto
-António Maria da Silva (4 vezes)
-António Joaquim Granjo (2vezes)
-Álvaro Xavier de Castro (2 vezes)
-Liberato Damião Ribeiro Pinto
-Tomé José de Barros Queirós
-Manuel Maria Coelho
-Carlos Henrique da Silva Maia Pinto
-Francisco Pinto da Cunha Leal
-António Ginestal Machado
-Alfredo Rodrigues Gaspar
-José Domingos dos Santos
-Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães
Tivemos, assim, em dezasseis anos, 31 portugueses que, entre si, ocuparam o cargo 42 vezes.
Logo por aqui fica, em boa medida, esclarecida a estimação da I República e, também em boa medida, fica explicado o advento do que se segue.
D. Júlio
- Joaquim Fernandes Teófilo Braga
-João Pinheiro Chagas (2 vezes)
- Ayres Augusto Braga de Sá Nogueira e Vasconcellos
-Duarte Leite Pereira da Silva
- Afonso Augusto Costa (3 vezes)
- Bernardino Luís Machado Guimarães (2 vezes)
-Victor Hugo de Azevedo Coutinho
-Joaquim Pereira Pimenta de Castro
-José Soares Ribeiro de Castro
-Sidónio Cardoso da Silva Pais
-João do Canto e Castro Silva Antunes
-António José de Almeida
-João Tamagnini de Sousa Barbosa
-José Mascarenhas Relvas
-Domingos Leite Pereira (3 vezes)
-Alfredo Ernesto de Sá Cardoso
-Francisco José Fernandes Costa
-António Maria Batista
-José Ramos Preto
-António Maria da Silva (4 vezes)
-António Joaquim Granjo (2vezes)
-Álvaro Xavier de Castro (2 vezes)
-Liberato Damião Ribeiro Pinto
-Tomé José de Barros Queirós
-Manuel Maria Coelho
-Carlos Henrique da Silva Maia Pinto
-Francisco Pinto da Cunha Leal
-António Ginestal Machado
-Alfredo Rodrigues Gaspar
-José Domingos dos Santos
-Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães
Tivemos, assim, em dezasseis anos, 31 portugueses que, entre si, ocuparam o cargo 42 vezes.
Logo por aqui fica, em boa medida, esclarecida a estimação da I República e, também em boa medida, fica explicado o advento do que se segue.
D. Júlio
terça-feira, março 22, 2005
Rewind
Em tempos de estreia de um novo poder, dê-se uma olhada atrás, à monarquia parlamentar, a ver como se houveram, em termos de duração, os chefes dos governos e governalhos que, conforme puderam e souberam, administraram esta terra, de meados dos anos 30 do século XIX até 1910.
De Palmela e Saldanha a Veiga Beirão e Teixeira de Sousa, foram vinte e nove os escolhidos para tal faina por reis e sucedimentos.
Duraram dias, uns, meses, outros, e alguns, anos.
Dos mais duradouros aos mais mudáveis, eis o rol, na soma dos seus dias:
-Fontes Pereira de Melo (4284)
-José Luciano de Castro (3276)
-Duque de Saldanha (3123)
-Ernesto Hintze Ribeiro (3086)
-Duque de Loulé (3052)
-Duque da Terceira (2185)
-Joaquim António de Aguiar (1574)
-Marquês de Sá da Bandeira (1064)
-Duque d´Ávila e Bolama (852)
-Marquês de Tomar (683)
-Anselmo Braamcamp (664)
-João Franco Pinto Castelo Branco (627)
-João Crisóstomo de Abreu e Sousa (462)
-José Dias Ferreira (404)
-Duque de Palmela (389)
-Francisco Ferreira do Amaral (326)
-António Serpa Pimentel (274)
- Barão da Ribeira de Sabrosa (223)
-Venceslau Lima (223)
-Francisco Veiga Beirão (187)
-Conde do Bonfim (161)
-José Jorge Loureiro (155)
-Artur Campos Henriques(108)
-Teixeira de Sousa (102)
- António Dias Oliveira (71)
-Conde de Lumiares (55)
-Sebastião Teles (34)
-Conde de Linhares (23)
-Marquês de Valença (1)
D. Júlio
De Palmela e Saldanha a Veiga Beirão e Teixeira de Sousa, foram vinte e nove os escolhidos para tal faina por reis e sucedimentos.
Duraram dias, uns, meses, outros, e alguns, anos.
Dos mais duradouros aos mais mudáveis, eis o rol, na soma dos seus dias:
-Fontes Pereira de Melo (4284)
-José Luciano de Castro (3276)
-Duque de Saldanha (3123)
-Ernesto Hintze Ribeiro (3086)
-Duque de Loulé (3052)
-Duque da Terceira (2185)
-Joaquim António de Aguiar (1574)
-Marquês de Sá da Bandeira (1064)
-Duque d´Ávila e Bolama (852)
-Marquês de Tomar (683)
-Anselmo Braamcamp (664)
-João Franco Pinto Castelo Branco (627)
-João Crisóstomo de Abreu e Sousa (462)
-José Dias Ferreira (404)
-Duque de Palmela (389)
-Francisco Ferreira do Amaral (326)
-António Serpa Pimentel (274)
- Barão da Ribeira de Sabrosa (223)
-Venceslau Lima (223)
-Francisco Veiga Beirão (187)
-Conde do Bonfim (161)
-José Jorge Loureiro (155)
-Artur Campos Henriques(108)
-Teixeira de Sousa (102)
- António Dias Oliveira (71)
-Conde de Lumiares (55)
-Sebastião Teles (34)
-Conde de Linhares (23)
-Marquês de Valença (1)
D. Júlio
segunda-feira, março 21, 2005
Diable !
"...deitou-me uma amostra do olhar taoista, e percebi logo o que queria dizer.
Era um pequeno olhar imenso cheio de descaramento e insolência, de ironia e de riso.
Era um olhar de cumplicidade sardónica - cheio da consciência divertida e oblíqua de quão precioso é o que não pode ser dito.
Era como que a primeira ligação entre seres humanos, ao reconhecerem a sua aliança dentro do processo universal.
Diable!
Era o olhar mais malvado que eu jamais trocara com um ser humano - à excepção de duas mulheres que pareciam ter sido dotadas pelos deuses com esse olhar.
(...)
Era um pouco o olhar do Grande Paradoxo.
Nada mais há a dizer - é isso o taoismo, e no momento em que tentamos ser explícitos acerca dele, estragamo-lo, como ao tentarmos agarrar desajeitadamente uma borboleta entre os dedos."
Ld (Um sorriso nos olhos da alma)
Píndaro
Era um pequeno olhar imenso cheio de descaramento e insolência, de ironia e de riso.
Era um olhar de cumplicidade sardónica - cheio da consciência divertida e oblíqua de quão precioso é o que não pode ser dito.
Era como que a primeira ligação entre seres humanos, ao reconhecerem a sua aliança dentro do processo universal.
Diable!
Era o olhar mais malvado que eu jamais trocara com um ser humano - à excepção de duas mulheres que pareciam ter sido dotadas pelos deuses com esse olhar.
(...)
Era um pouco o olhar do Grande Paradoxo.
Nada mais há a dizer - é isso o taoismo, e no momento em que tentamos ser explícitos acerca dele, estragamo-lo, como ao tentarmos agarrar desajeitadamente uma borboleta entre os dedos."
Ld (Um sorriso nos olhos da alma)
Píndaro
Camera lucida
"Cinco cores misturadas não deixam as pessoas ver nenhuma."
provérbio chinês
"Um poema a encher-se de água
Uma mulher atravessando-o a nadar
(...)
Quando ela sorri as rugas em torno dos olhos
Ajustam-se às marcas reais do tigre,
Às linhas reais da nobre conduta.
(...)
Estes amores de Inverno não desiludirão,
Não são engendrados nem pelo Verão nem por parentes
E regalam os olhos ocultos debaixo da pele.”
Ld
Píndaro
Dentada na cereja
"Os grandes defeitos são tão profundos que uma pessoa não vê nada à superfície excepto o sorriso.
E as grandes experiências definitivas só sucedem uma vez, infelizmente!
Sim, só tens direito a uma dentada na cereja.
A longa noite aproxima-se, e a treva é explícita.
Bebe como os tigres bebem, furtivamente.
(...)
Uma ideia é como uma ave rara que não pode ser vista.
O que uma pessoa vê é o estremecimento do ramo de onde ela acaba de levantar voo."
Lawrence Durrel (Monsieur ou o Príncipe das trevas - Quinteto de Avinhão)
píndaro
E as grandes experiências definitivas só sucedem uma vez, infelizmente!
Sim, só tens direito a uma dentada na cereja.
A longa noite aproxima-se, e a treva é explícita.
Bebe como os tigres bebem, furtivamente.
(...)
Uma ideia é como uma ave rara que não pode ser vista.
O que uma pessoa vê é o estremecimento do ramo de onde ela acaba de levantar voo."
Lawrence Durrel (Monsieur ou o Príncipe das trevas - Quinteto de Avinhão)
píndaro
Franc - tireur
"Pour faire Face au Prince des Ténèbres qui
a un royaume formé de cinq éléments le Père
de la Grandeur évoque la Mère de la Vie
qui, a son tour, évoque l´Homme
Primordial qui a cinq fils: L´Air, le Vent,
la Lumière, l´Eau et le Feu."
Cahiers d´Etudes Cathares,
Narbonne
píndaro
a un royaume formé de cinq éléments le Père
de la Grandeur évoque la Mère de la Vie
qui, a son tour, évoque l´Homme
Primordial qui a cinq fils: L´Air, le Vent,
la Lumière, l´Eau et le Feu."
Cahiers d´Etudes Cathares,
Narbonne
píndaro
O vento e o fogo
"A ausência está para o amor como o vento para o fogo: apaga o pequeno, ateia o grande."
Os prazeres de amor são males que se fazem desejar, deslizantes como segredos, e a sua linguagem é a do fluxo das marés.
Coisas de naufrágios, portanto, onde se sentem bem os náufragos.
Um deles, Giovan Battista Marino, bem dizia: “Ahi, ch´altro non risponde, che il mormorar de l´onde!”, e uma outra, Ayn Rand, percebeu, nas luzes da noite, que ninguém consegue escapar à necessidade da filosofia e que a única variação é se sua filosofia é escolhida por si próprio ou pelo acaso...
Ressemantizadas as frases, do que se trata é de fingir de verdade, como uma luz de relâmpagos agrupados, sabendo que - outro náufrago, Scott Fitzgerald – toda a boa escrita é nadar debaixo de água com a respiração suspensa.
Afinal, quem mareou ao redor da ilha do dia antes sabe que há pessoas que nunca se apaixonariam se não ouvissem falar de amor...
solino
Os prazeres de amor são males que se fazem desejar, deslizantes como segredos, e a sua linguagem é a do fluxo das marés.
Coisas de naufrágios, portanto, onde se sentem bem os náufragos.
Um deles, Giovan Battista Marino, bem dizia: “Ahi, ch´altro non risponde, che il mormorar de l´onde!”, e uma outra, Ayn Rand, percebeu, nas luzes da noite, que ninguém consegue escapar à necessidade da filosofia e que a única variação é se sua filosofia é escolhida por si próprio ou pelo acaso...
Ressemantizadas as frases, do que se trata é de fingir de verdade, como uma luz de relâmpagos agrupados, sabendo que - outro náufrago, Scott Fitzgerald – toda a boa escrita é nadar debaixo de água com a respiração suspensa.
Afinal, quem mareou ao redor da ilha do dia antes sabe que há pessoas que nunca se apaixonariam se não ouvissem falar de amor...
solino
terça-feira, março 15, 2005
Cebolinha
"Antes dessoutras me quero eu meter como cebolinha em réstia"
frl
"Porque dizem que abaixo fica quem não se adianta", eis mais uma ou duas ideias:
"E quanto em todas as mais entradas e saídas, como são o lavar das mãos, mesuras e prolfaças, liberal como nas eiras.
E a verdade é que o verdadeiro cumprimento em que se declaram os demais, e que serve de lei mental a todos é :
todo sou vosso tirando fazenda e corpo.
No acudir ao perigo, fazer-se manco.
Na cama pequena deitar ao meio.
No lugar estreito, correr diante, que quem vem tarde mal se agasalha.
Ribeiro grande, saltar de trás, que a verdadeira discrição é experimentar em cabeça alheia, e a mais trilhada parvoíce é não cuidei.
- Não vos desfaçais dessa doutrina, que é a melhor regra para viver em paz sobre a face da terra que quantas andam nas cartilhas antigas"
francisco roíz lobo
píndaro
frl
"Porque dizem que abaixo fica quem não se adianta", eis mais uma ou duas ideias:
"E quanto em todas as mais entradas e saídas, como são o lavar das mãos, mesuras e prolfaças, liberal como nas eiras.
E a verdade é que o verdadeiro cumprimento em que se declaram os demais, e que serve de lei mental a todos é :
todo sou vosso tirando fazenda e corpo.
No acudir ao perigo, fazer-se manco.
Na cama pequena deitar ao meio.
No lugar estreito, correr diante, que quem vem tarde mal se agasalha.
Ribeiro grande, saltar de trás, que a verdadeira discrição é experimentar em cabeça alheia, e a mais trilhada parvoíce é não cuidei.
- Não vos desfaçais dessa doutrina, que é a melhor regra para viver em paz sobre a face da terra que quantas andam nas cartilhas antigas"
francisco roíz lobo
píndaro
segunda-feira, março 14, 2005
Em uso de banhos
Na sua viagem pelas Praias de Portugal – Póvoa do Varzim, Granja, Vila do Conde, Figueira da Foz, Pedrouços, Cascais, Ericeira, Nazaré, Setúbal – Ramalho Ortigão dedica um capítulo às “praias obscuras”, que descreve como”pontos adequados à instalação de uma família em uso de banhos”.
Ente essas “pequenas praias” refere como “particularmente dignas de menção” as de Âncora, Apúlia, Lavadores, Furadouro, Costa Nova, Assenta, Santa Cruz, São Pedro de Moel, Porto Brandão, Alfeite, Fonte da Pipa e a de São Martinho do Porto.
Eis como Ramalho, à luz do Séc. XIX, viu a praia de São Martinho do Porto, que em meados do século seguinte viria a atingir por entre névoas e ambiguidades um destino prodigioso:
“ São Martinho do Porto, na Estremadura, entre as Caldas da Rainha e Alcobaça.
É uma povoação de pescadores.
Aluga por módicos preços vinte ou trinta casas mobiladas.
Está ligada à Marinha Grande por um caminho–de-ferro americano, e comunica com as Caldas da Rainha, com Alcobaça e com a Batalha por uma boa estrada.
A temporada em São Martinho do Porto presta-se às mais interessantes excursões artísticas que se podem fazer comodamente em Portugal.
São Martinho do Porto é principalmente habitado nos meses de Verão por famílias espanholas.
As pessoas de Leiria , de Alcobaça, da Marinha Grande preferem a Nazaré.
A viagem de Lisboa a São Martinho do Porto faz-se por Chão de Maçãs e Leiria ou pelo Carregado e Caldas, e custa mais ou menos uma libra por passageiro tomando lugar de primeira classe no caminho–de- ferro e prosseguindo na diligência do Carregado ou de Leiria.
Em Setembro do ano passado encontrámos em Mérida uma estimável família espanhola que chegava de São Martinho do Porto.
Traziam cabazes cheios de excelente fruta de Alcobaça.
Tinham-se provido para o seu Inverno de uma barrica de magníficos badejos, pescados em São Martinho e conservados em salmoura.
Disseram-me maravilhas da cómoda e tranquila vida passada durante dois meses no agradável retiro que tinham tido a lembrança de escolher. “
píndaro
domingo, março 13, 2005
Contos exemplares
“Nasceu com o dom do riso e com a ideia de que o mundo era louco.
E esse foi todo o seu património”
Rafael Sabatini (“Scaramouche”)
“…e quando entrávamos no bar um homem, sempre o mesmo, voltava-se no banco alto e, trazendo o seu copo, vinha sentar-se connosco numa mesa.
E era difícil dizer de que tempo ele vinha; pois das personagens das histórias dum tempo antigo ele tinha a voz, o olhar e os gestos, mas não o destino nem a vida vivida.
Era mesmo como se ele tivesse rejeitado todo o destino, toda a vida vivida, como uma coisa alheia, exterior e falsa, e lhe bastasse aquele momento, aquele bar, aquela conversa, aquele copo.
Era como se ele tivesse querido guardar o seu ser à margem do vivido, por não haver na vida acto nenhum onde o ser pudesse ser cumprido e a existência concreta fosse apenas deturpação, falsificação, profanação.
E assim ele tinha resolvido usar a sua própria vida como não sendo dele, usá-la como os músicos da orquestra usavam os seus fatos alugados...
E o homem que se tinha vindo sentar junto de nós falava misturando as suas palavras com o tempo, com a noite, com o barulho do mar, com o respirar da brisa nas folhagens.
E das suas palavras nascia uma grande imagem que se ia abrindo e desdobrando em inumeráveis espaços.
A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura.
Enquanto falava abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul duma chama de álcool.
E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa.
Talvez:
A memória longínqua duma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos
E à medida que ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior à alma daqueles que o escutavam, como um mito.
Ele era como um limite como um marco que dissesse: Daqui em diante o mar não é mais navegável.
No entanto ele não se confundia com um deus.
Nos deuses ser e existir estão unidos.
Nele a vida vivida nem sequer era serva do ser, nem sequer era o chão que o ser pisava, mas apenas acaso sem nexo, desencontro, acidente sem forma e sem verdade, acidente desprezado.
… esteve um longo tempo calado.
Depois debruçou-se sobre a mesa e disse:
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray
Where all my dreams of yesterday
Are mine.
(...) "
Sophia de Mello Breyner
("Contos Exemplares"- personagem inspirado em D. José Zarco da Câmara, Conde da Ribeira Grande)
píndaro
E esse foi todo o seu património”
Rafael Sabatini (“Scaramouche”)
“…e quando entrávamos no bar um homem, sempre o mesmo, voltava-se no banco alto e, trazendo o seu copo, vinha sentar-se connosco numa mesa.
E era difícil dizer de que tempo ele vinha; pois das personagens das histórias dum tempo antigo ele tinha a voz, o olhar e os gestos, mas não o destino nem a vida vivida.
Era mesmo como se ele tivesse rejeitado todo o destino, toda a vida vivida, como uma coisa alheia, exterior e falsa, e lhe bastasse aquele momento, aquele bar, aquela conversa, aquele copo.
Era como se ele tivesse querido guardar o seu ser à margem do vivido, por não haver na vida acto nenhum onde o ser pudesse ser cumprido e a existência concreta fosse apenas deturpação, falsificação, profanação.
E assim ele tinha resolvido usar a sua própria vida como não sendo dele, usá-la como os músicos da orquestra usavam os seus fatos alugados...
E o homem que se tinha vindo sentar junto de nós falava misturando as suas palavras com o tempo, com a noite, com o barulho do mar, com o respirar da brisa nas folhagens.
E das suas palavras nascia uma grande imagem que se ia abrindo e desdobrando em inumeráveis espaços.
A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura.
Enquanto falava abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul duma chama de álcool.
E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa.
Talvez:
A memória longínqua duma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos
E à medida que ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior à alma daqueles que o escutavam, como um mito.
Ele era como um limite como um marco que dissesse: Daqui em diante o mar não é mais navegável.
No entanto ele não se confundia com um deus.
Nos deuses ser e existir estão unidos.
Nele a vida vivida nem sequer era serva do ser, nem sequer era o chão que o ser pisava, mas apenas acaso sem nexo, desencontro, acidente sem forma e sem verdade, acidente desprezado.
… esteve um longo tempo calado.
Depois debruçou-se sobre a mesa e disse:
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray
Where all my dreams of yesterday
Are mine.
(...) "
Sophia de Mello Breyner
("Contos Exemplares"- personagem inspirado em D. José Zarco da Câmara, Conde da Ribeira Grande)
píndaro
Extra-dry
“A história íntima do passado, sobretudo da corte, ganha muito em ser escrita por uma plume de gentilhomme.”
E d Q
Eça de Queirós preparava, em 1888, a partir de Paris, o primeiro número da sua Revista de Portugal e, querendo a colaboração do Conde de Sabugosa, escreve-lhe em 31 de Outubro:
“ Quer você, meu caro Conde de Sabugosa, ser desta panelinha de alta literatura?
Os deveres que se lhe impõe são ligeiros – um fino e burilado artigo de vez em quando, alguma graciosa estrofe aqui e além, muita amizade pela revista e alguma pelo seu director.
Por seu turno, a revista, essa, imprime o artigo e a estrofe no melhor tipo que a Inglaterra funde, sobre o melhor papel que a Alemanha fabrica; e respeitosamente resvala na mão do autor um punhado de ouro!
Voilá! É como a mesa do Tavares ou Bragança – com a diferença do champagne extra-dry não ser servido em copos, mas em frases!”
píndaro
E d Q
Eça de Queirós preparava, em 1888, a partir de Paris, o primeiro número da sua Revista de Portugal e, querendo a colaboração do Conde de Sabugosa, escreve-lhe em 31 de Outubro:
“ Quer você, meu caro Conde de Sabugosa, ser desta panelinha de alta literatura?
Os deveres que se lhe impõe são ligeiros – um fino e burilado artigo de vez em quando, alguma graciosa estrofe aqui e além, muita amizade pela revista e alguma pelo seu director.
Por seu turno, a revista, essa, imprime o artigo e a estrofe no melhor tipo que a Inglaterra funde, sobre o melhor papel que a Alemanha fabrica; e respeitosamente resvala na mão do autor um punhado de ouro!
Voilá! É como a mesa do Tavares ou Bragança – com a diferença do champagne extra-dry não ser servido em copos, mas em frases!”
píndaro
Spleen
“…E ela morava adiante, no começo da Bela Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro, dando à rua sombra e perfume.”
E de Queirós
"Le verbe aimer est l´un des plus difficiles
à conjuguer;
Son passé n´est pas simple,
son présent n´est qu´indicatif
et son futur
est toujours conditionnel »
J. Cocteau
píndaro
E de Queirós
"Le verbe aimer est l´un des plus difficiles
à conjuguer;
Son passé n´est pas simple,
son présent n´est qu´indicatif
et son futur
est toujours conditionnel »
J. Cocteau
píndaro
domingo, março 06, 2005
Biombo na taberna
“Os piratas, esses sim, tinham aplomb e conheciam as sombras”
anónimo
É o que se tira da carta à rainha, da pluma de Sir Walter Raleigh:
“Dêem-me a minha concha de silêncio,
O meu bordão de fé, para me amparar,
A minha escritura de júbilo, imortal dieta,
A minha garrafa de salvação,
A minha toga de glória, verdadeiro penhor de esperança,
E então farei a peregrinação.”
O navegante, dominador que era de obscuridades subtis, tinha por certo lido os ensinamentos do grande Giordano Bruno em “The shadows of ideas”:
“A sombra tempera a luz...
As sombras não se dissolvem,
Mas mantêm e protegem a luz que há em nós
E conduzem-nos ao conhecimento e à recordação.”
Mais tarde, Sir Thomas Browne, gourmet de trevas e sombreados, dado a sínteses, dobrou esta esquina bicuda com um simples adágio no imperecível “Urne-Burial & Garden of Cyrus”:
“A noite do tempo supera em muito o dia.”
(Percebe-se a tirada de Virgínia Woolf: “But why fly in the face of facts? Few people love the writings of Sir Thomas Browne, but those who do are of the salt of the Earth.”)
Foi depois que Voltaire, dando moldura às estátuas e aos vultos, arrematou todo o tema das sombras com um belíssimo sinal da cruz:
“É o escândalo público que faz a ofensa,
pecar em segredo não é sequer pecar.”
Solino
anónimo
É o que se tira da carta à rainha, da pluma de Sir Walter Raleigh:
“Dêem-me a minha concha de silêncio,
O meu bordão de fé, para me amparar,
A minha escritura de júbilo, imortal dieta,
A minha garrafa de salvação,
A minha toga de glória, verdadeiro penhor de esperança,
E então farei a peregrinação.”
O navegante, dominador que era de obscuridades subtis, tinha por certo lido os ensinamentos do grande Giordano Bruno em “The shadows of ideas”:
“A sombra tempera a luz...
As sombras não se dissolvem,
Mas mantêm e protegem a luz que há em nós
E conduzem-nos ao conhecimento e à recordação.”
Mais tarde, Sir Thomas Browne, gourmet de trevas e sombreados, dado a sínteses, dobrou esta esquina bicuda com um simples adágio no imperecível “Urne-Burial & Garden of Cyrus”:
“A noite do tempo supera em muito o dia.”
(Percebe-se a tirada de Virgínia Woolf: “But why fly in the face of facts? Few people love the writings of Sir Thomas Browne, but those who do are of the salt of the Earth.”)
Foi depois que Voltaire, dando moldura às estátuas e aos vultos, arrematou todo o tema das sombras com um belíssimo sinal da cruz:
“É o escândalo público que faz a ofensa,
pecar em segredo não é sequer pecar.”
Solino
Cambiador
" Enfiamento é a linha fictícia que une dois ou três pontos situados na terra ou no mar... "
Já dizia o padre António Vieira ser “inclinação natural anelar ao negado.”
Retira-se de facto sabor acrescido se o alcançado é, antes, recusado.
Melhor ainda, tratando-se de coisa interdita.
E, delícia então, se a coisa é insólita.
O negado mais o proibido mais o insólito casam os cheiros e os sabores por inteiro.
A transgressão, a caça e a guerra amamentam-se disto.
O carácter do pecado navega no encanto da sensibilidade à angústia que fundamenta o interdito, porque transgredir não é negar a proibição, antes é rematá-la, perfazendo-a.
O objecto da dádiva é o descomedimento, soberbo e audaz, e o refluxo das proibições liberta o tumulto da exuberância e a desordem dos clamores e brados.
O paradoxo da tempestade. O rosto anuncia o que o vestido dissimula, o alcance luminoso.
Mas para adivinhar o enigma e ouvir a voz da inacessível solidão tem de se ter bem presente que “em ribeiro grande saltar de trás.”
D. Júlio
Il Valentino
CÉSAR BORGIA
Portrait en pied
Sur fond d´ombre noyant un riche vestibule
Où le buste d´Horace et celui de Tibulle
Lointains et de profil rêvent en marbre blanc,
La main gauche au poignard et la main droite au flanc
Tandis qu´un rire doux redresse la moustache,
Le duc César en grand costume se détache.
Les yeux noirs, les cheveux noirs et le velours noir
Vont contrastant, parmi l´or somptueux d´un soir,
Avec la pâleur mate et belle du visage
Vu de trois quarts et très ombré , suivant l´usage
Des Espagnols ainsi que des Venetiens
Dans les portraits de rois et de patriciens.
Le nez palpite, fin et droit. La bouche, rouge,
Est mince, et l´on dirait que la tenture bouge
Au souffle véhément qui doit s´en exaler.
Et le regard errant avec laisser-aller
Devant lui, comme il sied aux anciennes peintures,
Fourmille de pensers énormes d´aventures.
Et le front, large et pur, silloné d´un grand pli,
Sans doute de projects formidables rempli,
Médite sous la toque où frissone une plume
S´élançant hors d´un noeud de rubis qui s´allume.
Paul Verlaine
píndaro
Portrait en pied
Sur fond d´ombre noyant un riche vestibule
Où le buste d´Horace et celui de Tibulle
Lointains et de profil rêvent en marbre blanc,
La main gauche au poignard et la main droite au flanc
Tandis qu´un rire doux redresse la moustache,
Le duc César en grand costume se détache.
Les yeux noirs, les cheveux noirs et le velours noir
Vont contrastant, parmi l´or somptueux d´un soir,
Avec la pâleur mate et belle du visage
Vu de trois quarts et très ombré , suivant l´usage
Des Espagnols ainsi que des Venetiens
Dans les portraits de rois et de patriciens.
Le nez palpite, fin et droit. La bouche, rouge,
Est mince, et l´on dirait que la tenture bouge
Au souffle véhément qui doit s´en exaler.
Et le regard errant avec laisser-aller
Devant lui, comme il sied aux anciennes peintures,
Fourmille de pensers énormes d´aventures.
Et le front, large et pur, silloné d´un grand pli,
Sans doute de projects formidables rempli,
Médite sous la toque où frissone une plume
S´élançant hors d´un noeud de rubis qui s´allume.
Paul Verlaine
píndaro
Desafronta
“Ilustríssimo e Exmo. Senhor Pinto Coelho, digno director da Companhia das Águas de Lisboa e digno membro do Partido Legitimista.
Dois factores igualmente importantes para mim me levam a dirigir a V. Ex.ª estas humildes regras: o primeiro é a tomada de Cuenca e as últimas vitórias das forças carlistas sobre as tropas republicanas, em Espanha; o segundo é a falta de água na minha cozinha e no meu quarto de banho.
Abundaram os carlistas e escassearam as águas, eis uma coincidência histórica que deve comover duplamente uma alma sobre a qual pesa, como na de V. Exª, a responsabilidade da canalização e a do direito divino.
Se eu tiver a fortuna de exacerbar até às lágrimas a justa comoção de VExª, que eu interponha o meu contador, EXmo. Senhor, que eu o interponha nas relações da sensibilidade de V. Exª com o mundo externo! E que essas lágrimas benditas, de industrial e de político, caiam na minha banheira!E, pago este tributo aos nossos afectos, falemos um pouco, se V. Ex.ª o permitir, dos nossos contratos.
Em virtude de um escrito, devidamente firmado por V. Exª e por mim, temos nós – um para com o outro - certo número de direitos e encargos.
Eu obriguei-me para com V. Ex.ª a pagar a despesa de uma encanação, o aluguer de um contador e o preço da água que consumisse.V. Exª, pela sua parte, obrigou-se para comigo afornecer-me a água do meu consumo.
V.Exª fornecia, eu pagava.
Faltamos evidentemente à fé deste contrato: eu, se não pagar, V Exª, se não fornecer.
Se eu não pagar, V.Exª faz isto: corta me a canalização.
Quando V. Exª não fornecer, o que hei-de eu fazer, Exmº Senhor?
É evidente que, para que o nosso contrato não seja inteiramente leonino, eu preciso no caso análogo àquele em que V.Exª me cortaria a mim a canalização, de cortar alguma coisa a V.Exª …
Oh! E hei-de cortar-lha!..
Eu não peço indemnização pela perda que estou sofrendo, eu não peço contas, eu não peço explicações, eu chego a nem sequer pedir água!Não quero pôr a Companhia em dificuldades, não quero causar-lhe desgostos, nem prejuízos!Quero apenas, esta pequena desafronta, bem simples e bem razoável, perante o direito e a justiça distributiva: quero cortar uma coisa a V. Exª!
Rogo-lhe, Exmo Senhor, a especial fineza de me dizer, imediatamente, peremptoriamente, sem evasivas, nem tergiversações, qual é a coisa que, no mais santo uso do meu pleno direito, eu possa cortar a V. Exª.
Tenho a honra de ser.De V. ExªCom muita consideração e com umas tesouras.
(a)-Eça de Queirós”
píndaro
Dois factores igualmente importantes para mim me levam a dirigir a V. Ex.ª estas humildes regras: o primeiro é a tomada de Cuenca e as últimas vitórias das forças carlistas sobre as tropas republicanas, em Espanha; o segundo é a falta de água na minha cozinha e no meu quarto de banho.
Abundaram os carlistas e escassearam as águas, eis uma coincidência histórica que deve comover duplamente uma alma sobre a qual pesa, como na de V. Exª, a responsabilidade da canalização e a do direito divino.
Se eu tiver a fortuna de exacerbar até às lágrimas a justa comoção de VExª, que eu interponha o meu contador, EXmo. Senhor, que eu o interponha nas relações da sensibilidade de V. Exª com o mundo externo! E que essas lágrimas benditas, de industrial e de político, caiam na minha banheira!E, pago este tributo aos nossos afectos, falemos um pouco, se V. Ex.ª o permitir, dos nossos contratos.
Em virtude de um escrito, devidamente firmado por V. Exª e por mim, temos nós – um para com o outro - certo número de direitos e encargos.
Eu obriguei-me para com V. Ex.ª a pagar a despesa de uma encanação, o aluguer de um contador e o preço da água que consumisse.V. Exª, pela sua parte, obrigou-se para comigo afornecer-me a água do meu consumo.
V.Exª fornecia, eu pagava.
Faltamos evidentemente à fé deste contrato: eu, se não pagar, V Exª, se não fornecer.
Se eu não pagar, V.Exª faz isto: corta me a canalização.
Quando V. Exª não fornecer, o que hei-de eu fazer, Exmº Senhor?
É evidente que, para que o nosso contrato não seja inteiramente leonino, eu preciso no caso análogo àquele em que V.Exª me cortaria a mim a canalização, de cortar alguma coisa a V.Exª …
Oh! E hei-de cortar-lha!..
Eu não peço indemnização pela perda que estou sofrendo, eu não peço contas, eu não peço explicações, eu chego a nem sequer pedir água!Não quero pôr a Companhia em dificuldades, não quero causar-lhe desgostos, nem prejuízos!Quero apenas, esta pequena desafronta, bem simples e bem razoável, perante o direito e a justiça distributiva: quero cortar uma coisa a V. Exª!
Rogo-lhe, Exmo Senhor, a especial fineza de me dizer, imediatamente, peremptoriamente, sem evasivas, nem tergiversações, qual é a coisa que, no mais santo uso do meu pleno direito, eu possa cortar a V. Exª.
Tenho a honra de ser.De V. ExªCom muita consideração e com umas tesouras.
(a)-Eça de Queirós”
píndaro
sábado, março 05, 2005
Olho azul
Com modos práticos, mas finos,
Vais tesourando às escondidas
Esses canteiros femininos.
Mais corsário que jardineiro,
Para o meio de muitas vidas
Desejo impele o teu veleiro.
E, exclamam elas, navegadas:
-Esse olho azul é que é culpado!
Esse olho de azul transtornado
Em nós, maternais, coitadas!..
E assim as tens, crucificadas
No teu celeste mau olhado…
Alexandre O´Neill
píndaro
Jamais de la vie
"Todos nós corremos com desvantagens secretas"
"Purswarden"
"Justine apoiada num fuste de uma coluna de Taposiris, a cabeça negra recortando-se contra a obscuridade murmurante da água, uma mecha desfeita pela brisa marinha, dizendo: Na língua inglesa há uma única expressão que para mim tem significado :Time immemorial."
Lawrence Durrel
píndaro
"Purswarden"
"Justine apoiada num fuste de uma coluna de Taposiris, a cabeça negra recortando-se contra a obscuridade murmurante da água, uma mecha desfeita pela brisa marinha, dizendo: Na língua inglesa há uma única expressão que para mim tem significado :Time immemorial."
Lawrence Durrel
píndaro
Rua Garret
“No notar-se-lhe a ausência residia em parte o seu encanto”
Ladrilhando o percurso com risquinho bem feito para dar o elegante, lá vai ele, pimpão, para polir, de engraxada, o afiambrado em pleno Chiado, à direita de quem desce, quase ao nível da Bénard...
Com vistas ao luzimento.
Deve julgar-se um Jerónimo Condeixa, pois se até os transeuntes olha com um comprazimento finório.
solino
Ladrilhando o percurso com risquinho bem feito para dar o elegante, lá vai ele, pimpão, para polir, de engraxada, o afiambrado em pleno Chiado, à direita de quem desce, quase ao nível da Bénard...
Com vistas ao luzimento.
Deve julgar-se um Jerónimo Condeixa, pois se até os transeuntes olha com um comprazimento finório.
solino
Pragmática
“Ascendem a Ministros alguns homens com pouca prática da sociedade.
Cincam, principalmente, em certas normas da pragmática e da cortezia.
O titular de uma das pastas oferece um jantar aos chefes das missões estrangeiras.
À sobremesa, um colega sopra de tal modo a espuma da sua taça de champagne, que ela transborda e estraga o vestido da esposa do encarregado de negócios da Suécia, Mme Kantzow.
Doutra vez um destes mesmos Ministros, num jantar em que não havia brindes, teima em fazer um, a Lord Howard, e principia:
- Senhores, je bais à la santé de Mr. Lord Palmerston.
O ministro de Inglaterra limita-se a responder-lhe:
-Mr, le ministre, vous êtes extrement aimable.
Nos corredores das legações e nas salas da aristocracia casquina a risota por largo tempo.”
(Eduardo Noronha)
píndaro
Cincam, principalmente, em certas normas da pragmática e da cortezia.
O titular de uma das pastas oferece um jantar aos chefes das missões estrangeiras.
À sobremesa, um colega sopra de tal modo a espuma da sua taça de champagne, que ela transborda e estraga o vestido da esposa do encarregado de negócios da Suécia, Mme Kantzow.
Doutra vez um destes mesmos Ministros, num jantar em que não havia brindes, teima em fazer um, a Lord Howard, e principia:
- Senhores, je bais à la santé de Mr. Lord Palmerston.
O ministro de Inglaterra limita-se a responder-lhe:
-Mr, le ministre, vous êtes extrement aimable.
Nos corredores das legações e nas salas da aristocracia casquina a risota por largo tempo.”
(Eduardo Noronha)
píndaro
Sítios de Portugal
“…Hoje
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.”
Miguel Torga
“...O instinto, porém, protesta ainda.
E homens e bichos, irmanados no mesmo ardor que ele desperta, encontram-se dia a dia nos terreiros que o sol da razão não ilumina.
Ora, é no Ribatejo o sítio do mundo onde esse embate é mais belo e natural.
A luta ali não é para servir nenhum senhor, ou para distrair a atenção inquietante das massas.
É um lúdico acto de coragem, alegre e soalheiro.
Por sentir que o combate que vai travar não é um fruto do rancor mas o desabrochar de uma espontânea solicitação, o campino veste-se de garridos trajes, ergue na mão um pampilho, o ceptro da sua majestade, o símbolo de uma grandeza feita de graça e valentia e, quando soa na praça o clarim da refrega, é assim vistoso e confiado que ele se expõe.
E chama festa brava à lide gloriosa!
O toureio português, ribatejano, é a prova de que nem tudo no homem é cobardia de açougue, mistificação vegetariana.
A vida é um desempate permanente, e o que é preciso é jogar com limpeza e formosura em cada número da caprichosa roleta...”
M. Torga ( Portugal)
Sei apenas gostar
Duma nesga de terra
Debruada de mar.”
Miguel Torga
“...O instinto, porém, protesta ainda.
E homens e bichos, irmanados no mesmo ardor que ele desperta, encontram-se dia a dia nos terreiros que o sol da razão não ilumina.
Ora, é no Ribatejo o sítio do mundo onde esse embate é mais belo e natural.
A luta ali não é para servir nenhum senhor, ou para distrair a atenção inquietante das massas.
É um lúdico acto de coragem, alegre e soalheiro.
Por sentir que o combate que vai travar não é um fruto do rancor mas o desabrochar de uma espontânea solicitação, o campino veste-se de garridos trajes, ergue na mão um pampilho, o ceptro da sua majestade, o símbolo de uma grandeza feita de graça e valentia e, quando soa na praça o clarim da refrega, é assim vistoso e confiado que ele se expõe.
E chama festa brava à lide gloriosa!
O toureio português, ribatejano, é a prova de que nem tudo no homem é cobardia de açougue, mistificação vegetariana.
A vida é um desempate permanente, e o que é preciso é jogar com limpeza e formosura em cada número da caprichosa roleta...”
M. Torga ( Portugal)
Kwaheri means farewell
A map in the hands of a pilot is a testimony of a man's faith in other men; it is a symbol of confidence and trust.
It is not like a printed page that bears mere words, ambiguous and artful, and whose most believing reader--even whose author perhaps--must allow in his mind a recess for doubt.
A map says to you, 'Read me carefully, follow me closely, doubt me not.
It says, 'I am the earth in the palm of your hand. Without me, you are alone and lost.'
And indeed you are.
Were all the maps in this world destroyed and vanished under the direction of some malevolent hand, each man would be blind again, each city be made a stranger to the next, each landmark become a meaningless signpost pointing to nothing.
Yet, looking at it, feeling it, running a finger along its lines, it is a cold thing, a map, humourless and dull, born of calipers and a draughtsman's board.
That coastline here, that ragged scrawl of scarlet ink shows neither sand nor sea nor rock; it speaks or no mariner, blundering full sail in wakeless seas, to bequeath, on sheepskin or a slab of wood, a priceless scribble to posterity.
This brown blot that marks a mountain has, for the casual eye, no other significance, though twenty men, or ten, or only one, may have squandered life to climb it.
Here is a valley, there a swamp, and there a desert; and here is a river that some curious and courageous soul, like a pencil in the hand of God, first traced with bleeding feet.
Here is your map. Unfold it, follow it, then throw it away, if you will. It is only paper. It is only paper and ink, but if you think a little, if you pause a moment, you will see that these two things have seldom joined to make a document so modest and yet so full with histories of hope or sagas of conquest.
No map I have flown by has ever been lost or thrown away; I have a trunk containing continents....”
Beryl Markham (“West with night”)
It is not like a printed page that bears mere words, ambiguous and artful, and whose most believing reader--even whose author perhaps--must allow in his mind a recess for doubt.
A map says to you, 'Read me carefully, follow me closely, doubt me not.
It says, 'I am the earth in the palm of your hand. Without me, you are alone and lost.'
And indeed you are.
Were all the maps in this world destroyed and vanished under the direction of some malevolent hand, each man would be blind again, each city be made a stranger to the next, each landmark become a meaningless signpost pointing to nothing.
Yet, looking at it, feeling it, running a finger along its lines, it is a cold thing, a map, humourless and dull, born of calipers and a draughtsman's board.
That coastline here, that ragged scrawl of scarlet ink shows neither sand nor sea nor rock; it speaks or no mariner, blundering full sail in wakeless seas, to bequeath, on sheepskin or a slab of wood, a priceless scribble to posterity.
This brown blot that marks a mountain has, for the casual eye, no other significance, though twenty men, or ten, or only one, may have squandered life to climb it.
Here is a valley, there a swamp, and there a desert; and here is a river that some curious and courageous soul, like a pencil in the hand of God, first traced with bleeding feet.
Here is your map. Unfold it, follow it, then throw it away, if you will. It is only paper. It is only paper and ink, but if you think a little, if you pause a moment, you will see that these two things have seldom joined to make a document so modest and yet so full with histories of hope or sagas of conquest.
No map I have flown by has ever been lost or thrown away; I have a trunk containing continents....”
Beryl Markham (“West with night”)
À bolina
Eis como se bolina de encontro à vaga em mar largo:
“O poder está em toda a parte; não que englobe tudo mas porque vem de toda a parte.
E o “poder”no que tem de permanente, de repetitivo, de inerente, de auto-reprodutor, não passa do efeito de conjunto que se desenha a partir de todas as mobilidades; do encadeamento que se apoia em cada uma delas e procura, em troca, fixa-las.
Não há dúvida que tem de ser minimalista; o poder não é uma instituição e não é uma estrutura, não é um certo poder de que alguns saiam dotados – é um nome que se atribui a uma situação estratégica complexa numa dada sociedade
M. Foucault
píndaro
“O poder está em toda a parte; não que englobe tudo mas porque vem de toda a parte.
E o “poder”no que tem de permanente, de repetitivo, de inerente, de auto-reprodutor, não passa do efeito de conjunto que se desenha a partir de todas as mobilidades; do encadeamento que se apoia em cada uma delas e procura, em troca, fixa-las.
Não há dúvida que tem de ser minimalista; o poder não é uma instituição e não é uma estrutura, não é um certo poder de que alguns saiam dotados – é um nome que se atribui a uma situação estratégica complexa numa dada sociedade
M. Foucault
píndaro
Do andar de cima
Quando o Duque de Guermantes desce as escadas do seu “ hôtel particulier” para ir a um grandioso baile de máscaras a que faz muita questão de ir, uma das tias grita-lhe do andar de cima:
“ Basin, le pauvre Amanian vient de mourir il y a une heure!”
O nosso personagem horrorizado com a perspectiva de trocar um baile por um velório, responde:
“ Il est mort! Mais non, on exagère, on exagère ! “
M. Proust
píndaro
“ Basin, le pauvre Amanian vient de mourir il y a une heure!”
O nosso personagem horrorizado com a perspectiva de trocar um baile por um velório, responde:
“ Il est mort! Mais non, on exagère, on exagère ! “
M. Proust
píndaro
Brecha das almas
“Primeiro Amigo (bebendo conhaque e soda, debaixo das árvores, num terraço, à beira-d`água):
Camarada, por estes calores do Estio que embotam a ponta da sagacidade, repousemos do áspero estudo da Realidade humana…. Partamos para os campos do Sonho, vaguear por essas azuladas colinas românticas onde se ergue a torre abandonada do Sobrenatural, e musgos frescos recobrem as ruínas do Idealismo….Façamos fantasia!
Segundo Amigo:
Mas sobriamente, camarada, parcamente! E como nas sábias e amáveis alegorias da Renascença, misturando-lhe sempre uma Moralidade discreta”
Eça de Queirós
píndaro
Camarada, por estes calores do Estio que embotam a ponta da sagacidade, repousemos do áspero estudo da Realidade humana…. Partamos para os campos do Sonho, vaguear por essas azuladas colinas românticas onde se ergue a torre abandonada do Sobrenatural, e musgos frescos recobrem as ruínas do Idealismo….Façamos fantasia!
Segundo Amigo:
Mas sobriamente, camarada, parcamente! E como nas sábias e amáveis alegorias da Renascença, misturando-lhe sempre uma Moralidade discreta”
Eça de Queirós
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Segunda-feira
“O eu foge-me sempre e é ele, no entanto, que, ao fugir da minha pessoa, a desenha e a imprime”
P. Valéry
“O que é o amor?O amor é assim:
Hoje beija-se, amanhã não se beija,
Depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será…”
C Drummond de Andrade
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P. Valéry
“O que é o amor?O amor é assim:
Hoje beija-se, amanhã não se beija,
Depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe o que será…”
C Drummond de Andrade
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Nove
“Eram oito letrados ilustres, mais o filho de Yang Tche-Tchung, atrasado mental, o que fazia um total de nove “
Wou King-Tsen (Crónica indiscreta dos mandarins)
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Wou King-Tsen (Crónica indiscreta dos mandarins)
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