sexta-feira, dezembro 31, 2010

Se hace camino al andar...





Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.


Antonio Machado

pindaro

O tempo é a maré que leva e traz



























O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo das avenidas
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
Gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida


Ruy Belo


Pindaro

O último dia do ano















O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o
calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória,
doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o
clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do
acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos
séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras
espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Carlos Drummond de Andrade


pindaro

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Superfície reflexiva ou codificando a elegância




























Era bom que os espelhos reflectissem antes de nos devolverem as imagens.
Jean Cocteau

pindaro

L'un des charmes du style.




























La précision des équivoques est l'un des charmes du style.
Roger Judrin

pindaro

Ars artis




























A arte é a magia libertada da mentira de ser verdadeira
Theodore Wiesengrund Adorno

pindaro

Muchachita descalza






























Suéltate las cintas de tu cabello y la falda
y devoremos la noche hasta el aba, así
Muchachita descalza.

No necesitamos cielo si vos tenés a mi espalda
y la cintra enlazada, así
Tu cintura de plata.

Si mañana en el pueblo te ríes sola, espera,
No digas el secreto en que me llavas, así
Junco, flor miel y arena.

Gustavo Santaolalla

pindaro

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Alfândegas do espírito























Abandonando nobremente quem nos deixa, colocamo-nos acima de quem perdemos.
Madame de Stael

pindaro

O percurso que vai do tempo ao coração



























Da curva de entretanto à entrada do poço
De soletrar em mim a ler nas tuas mãos
Como é rápido e lento e recto e sinuoso
O percurso que vai do tempo ao coração.


David Mourão-Ferreira

pindaro

Ahora te quiero






















Ahora te quiero,
como el mar quiere a su agua:
desde fuera, por arriba,
haciéndose sin parar
con ella tormentas, fugas,
albergues, descansos, calmas.
¡Qué frenesíes, quererte!
¡Qué entusiasmo de olas altas,
y qué desmayos de espuma
van y vienen! Un tropel
de formas, hechas, deshechas,
galopan desmelenadas.
Pero detrás de sus flancos
está soñándose un sueño
de otra forma más profunda
de querer, que está allá abajo:
de no ser ya movimiento,
de acabar este vaivén,
este ir y venir, de cielos
a abismos, de hallar por fin
la inmóvil flor sin otoño
de un quererse quieto, quieto.
Más allá de ola y espuma
el querer busca su fondo.
Esta hondura donde el mar
hizo la paz con su agua
y están queriéndose ya
sin signo, sin movimiento.
Amor
tan sepultado en su ser,
tan entregado, tan quieto,
que nuestro querer en vida
se sintiese
seguro de no acabar
cuando terminan los besos,
las miradas, las señales.
Tan cierto de no morir,
como está
el gran amor de los muertos.


Pedro Salinas

pindaro

Une dissolution des formes constituées




























Ce qui est en jeu, dans l'érotisme, c'est toujours une dissolution des formes constituées.

Georges Bataille

pindaro

terça-feira, dezembro 28, 2010

Nos une por debajo de las lenguas




























La buena literatura tiende puentes entre gentes distintas y, haciéndonos gozar, sufrir o sorprendernos, nos une por debajo de las lenguas, creencias, usos, costumbres y prejuicios que nos separan.
Mario Vargas Llosa

pindaro

A ordem das coisas


























Há somente tantas realidades quantas pudermos imaginar
Lawrence Durrel

pindaro

A meiguice e o enliçamento animal






De cinta era fina, e no andar, um tudo-nada flexuoso, punha um dengue tão involuntário que se quedava em requebro natural, promissor de temperamento. Pertencia em suma à classe de mulheres que, a começar pelo corpo e a acabar pela alma, se tornam amantes perfeitas. Lianças com elas jamais se rompem. Quem as ama, ama-as até à morte. Quando desaparecem, deixam inextinguível braseiro. É que deram com a sua carne a beber o filtro que não perdoa, onde se concentraram meiguice e enliçamento animal, princípios sumos da voluptuosidade criadora.

Aquilino Ribeiro

pindaro

Somente por dentro é possível contemplá-la.



























Tua sedução é menos
de mulher do que de casa:
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

João Cabral de Melo Neto

pindaro

Cativos de si mesmos




















Muros castos e tristes
Cativos de si mesmos

Como criaturas que envelhecem
Sem conhecer a boca
De homens e mulheres.

Muros Escuros, tímidos:
Escorpiões de seda
No acanhado da pedra.

Há alturas soberbas
Danosas, se tocadas.
Como a tua própria boca, amor,
Quando me toca...

Hilda Hist

pindaro

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Não te aventures por elas





























As cousas que não têm cura
Amador, não cures delas,
e as que não têm ventura
não te aventures por elas.


Bernardim Ribeiro

pindaro

Rezas e melodias


























O amor é a mais bonita das religiões.
Cesare Pavese

Pindaro

Desobriga-me de fidelidade e de conjura


























Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Este da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.

Hilda Hilst

pindaro

Le Temps
























Le Temps nous égare
Le Temps nous étreint
Le Temps nous est gare
Le Temps nous est train.

Jacques Prévert


pindaro

sábado, dezembro 25, 2010

As perigosas tentações

























As perigosas tentações que espreitavam de todos os lados, para apanhar de surpresa o crente desprevenido, atacavam-no com redobrada violência nos dias de festas solenes.

Edward Gibbon

pindaro

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Solstício de mel






Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.

Natália Correia

pindaro

quinta-feira, dezembro 23, 2010

A infinita diversidade



























Os homens que têm a mania das mulheres dividem-se facilmente em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres a ideia que eles próprios têm da mulher tal como ela lhe aparece em sonhos, o que é algo de subjectivo e sempre igual. Aos outros, move-os o desejo de se apoderarem da infinita diversidade do mundo feminino objectivo.
Milan Kundera

pindaro

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Estender um véu composto de trevas honestas


























Dissimular é estender um véu composto de trevas honestas, do qual não se forma o falso mas sim dá algum repouso ao verdadeiro. (...) Nesta vida nem sempre se deve ser de coração aberto, e as verdades que mais nos importam dizem-se sempre até meio.
A dissimulação não é fraude. É uma indústria de não mostrar as coisas como são.E é indústria difícil: para nela ser excelente é preciso que os outros não reconheçam a nossa excelência. Se alguém ficasse célebre pela sua capacidade de camuflar-se, como os actores, todos saberiam que ele não é o que finge ser. Mas dos excelentes dissimuladores, que existiram e existem, não se tem notícia alguma.
Umberto Eco


pindaro

terça-feira, dezembro 21, 2010

Coisas efémeras que nunca acabam




















As mulheres não são pacientes com o amor. São pacientes com tudo e de tudo fazem hábitos. Do amor é que não. Daí que muitas delas deixem de ser honestas e se entreguem a uma forma de criação que é principiar do nada coisas efémeras que nunca acabam. Chama-se a isto Quinta-Essência, a região do fogo e do amor. (...)
Há, nesse círculo da quinta-essência, uma atracção tão arrebatada que ela serve de linguagem entre gente completamente estranha na raça e nos costumes. Um deleite, que não é dos sentidos mas superior nos seus efeitos...

Agustina Bessa Luís

pindaro

segunda-feira, dezembro 20, 2010

It is not it that we see




























A photograph is always invisible, it is not it that we see.
Roland Barthes

pindaro

Talvez houvesse uma flor

























Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.

Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.

David Mourão Ferreira

pindaro

Makes everyone a tourist





























The camera makes everyone a tourist in other people's reality, and eventually in one's own.
Susan Sontag

pindaro

domingo, dezembro 19, 2010

O grande mistério




















Assim que te despes
as próprias cortinas
ficam boquiabertas
sobre a luz do dia

Os teus olhos pedem
mas a boca exige
que te inunde as pernas
toda a luz do dia

Até o teu sexo
que negro cintila
mais e mais desperta
para a luz do dia

E a noite percebe
ao ver-te despida
o grande mistério
que há na luz do dia

David Mourão-Ferreira


pindaro

Comprimentos e pontas




























Os mistérios, quando são muito maliciosos, escondem-se na luz.
Jean Giono


Pindaro

Una rosa opulenta y desierta























Todas las rosas blancas de la luna caían,
por la ventana abierta, en el cuerpo desnudo ...
Mirando aquellas carnes blandas que florecían,
hundido entre mis sueños, yo estaba absorto y mudo.

Oh su sexo con luna! ¡Esencia indefinible
de su sexo con luna! Hervían los blancores
de la carne, y el rostro, perdido en lo invisible
de la penumbra, lánguido, cerraba sus colores.

Era el enervamiento del dolor ... Y cual una
rosa de treinta años, opulenta y desierta,
el cuerpo blanco se elevaba hacia la luna
frío, espectral, azul, como una pompa muerta ...

Juan Ramón Jiménez


pindaro

A gravidade das leis























Pour comprendre qu'être jaloux charnellement est une idiotie, il faut avoir été un libertin.
Cesare Pavese


pindaro

sábado, dezembro 18, 2010

À flor da água





















La meilleure séduction est de n'en employer aucune.
Charles Joseph, prince de Ligne

pindaro

La séduction suprême



























La séduction suprême n'est pas d'exprimer ses sentiments, c'est de les faire soupçonner.
Jules Amédée Barbey d'Aurevilly


pindaro

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Sabe-se que ele está por ali






O amor é como uma guerra de trincheiras: não se vê o inimigo mas, contudo, sabe-se que ele está por ali e que é melhor não deitar a cabeça de fora.
Lawrence Durrel

pindaro

A virtude do íman




















Parecia que entrava nele uma parcela da fascinação amorosa daquela mulher, assim como no ferro entra um pouco da virtude do íman. Tratava-se, verdadeiramente, de uma sensação magnífica de prazer, uma destas sensações agudas e profundas que se experimentam quase que unicamente no inicio de um amor, que parecem não possuir um fundo físico ou espiritual como sucede com todas as outras, mas que se baseiam ao contrário num elemento neutro do nosso ser a que eu chamaria quase intermediário de natureza desconhecida, menos simples do que um espírito e mais subtil do que uma forma, onde a paixão se recolhe como que num receptáculo.

Gabriel d’Annunzio

pindaro

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Gosto do mar desesperado







Gosto do mar desesperado
a bramir e a lutar
e gosto de um barco ainda mais ousado
sobre esta rebeldia a navegar


Miguel Torga

pindaro

A minha inclinação em matéria de livros






















A minha inclinação em matéria de livros (disse ele), de todos os que estão presentes é bem conhecida; somente poderei dar agora de novo a razão dela. Sou particularmente afeiçoado a livros de história verdadeira, e, mais que às outras, às do reino em que vivo e da terra onde nasci; dos Reis e Príncipes que teve; das mudanças que nele fez o tempo e a fortuna; das guerras, batalhas e ocasiões que nele houve; dos homens insignes, que, pelo discurso dos anos, floresceram; das nobrezas e brasões que por armas, letras, ou privança se adquiriram. O que me inclinou à escolha desta lição que tive alguma de um homem muito douto em o que o deve desejar de ser e parecer o que é nascido; ao qual ele dizia que o que mais convinha que soubesse era o apelido que tinha, donde lhe veio, quem foram seus passados, que armas lhe deixaram, a significação e fundamento da figura delas, como se adquiriram ou acrescentaram, os Reis que reinaram na sua pátria, as crónicas deles, os princípios, as conquistas, as empresas e o esforço dos seus naturais; porque, falando deles nas terras estranhas, ou na sua com estrangeiros, saiba dar verdadeira informação de suas cousas. E, alcançadas estas, lhe estará bem tudo o que mais puder saber das alheias. E, na verdade, nenhuma lição pode haver que mais recreie e aproveite que a que sei que é verdadeira, e, por natural, ao desejo dos homens deleitosa.

Francisco Roíz Lobo
(in Corte na Aldeia)

pindaro

Como a de uma pedra preciosa




























O que ele amava nela era a sua água - como a de uma pedra preciosa. É afinal de contas o que é realmente amado numa mulher - não a baínha de carne que a reveste - mas a sua assinatura.

Lawrence Durrel

Pindaro

Um mar sem ondas






Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria…
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga



pindaro

Ter um destino





























Ter um destino
é não caber no berço
onde o corpo nasceu,
é transpor as fronteiras
uma a uma
e morrer sem nenhuma.


Miguel Torga


pindaro

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Levas-nos pelo céu




























A terra leva-nos por terra;
mas tu, mar,
levas-nos pelo céu.


Juan Ramón Jimenez


pindaro

Templando







L’écrivain, Ramon del Valle Inclan, qui était belmontiste, lui a dit un jour : « Juanito, il ne te reste plus qu’à mourir dans l’arène », sous-entendu pour devenir un vrai dieu. Ce à quoi, le laconique Belmonte a répondu : « On fera ce qu’on pourra Don Ramon. »

Jacques Durand

pindaro

O que poderia ter sido e o que foi



























O Tempo passado, e o Tempo presente
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.
...Se o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que poderia ter sido é uma abstração
Permanecendo possibilidade perpétua
Somente em um mundo de especulação.
O que poderia ter sido e o que foi
Apontam para um final, que está sempre presente.


T.S. Eliot

pindaro

terça-feira, dezembro 14, 2010

Tábuas de juras mortas




























Os teus olhos, rasto de luz dos meus passos;
a tua testa, lavrada pelo brilho dos punhais;
as tuas sobrancelhas, orla do caminho da tragédia;
as tuas pestanas, mensageiros de longas cartas;
os teus cabelos, corvos, corvos, corvos;
as tuas faces, campo de armas de madrugada;
os teus lábios, hóspedes tardios;
os teus ombros, estátua do esquecimento;
os teus seios, amigos das minhas serpentes;
os teus braços, álamos à porta do castelo;
as tuas mãos, tábuas de juras mortas;
as tuas ancas, pão e esperança;
o teu sexo, lei de fogo na floresta;
as tuas coxas, asas no abismo;
os teus joelhos, máscara da tua altivez;
os teus pés, campo de batalha dos pensamentos;
as tuas solas, criptas em chama;
as tuas pegadas, olho da nossa despedida

Paul Celan

pindaro

Como el mar quiere a su agua





























Ahora te quiero,
como el mar quiere a su agua:
desde fuera, por arriba,
haciéndose sin parar
con ella tormentas, fugas,
albergues, descansos, calmas.
¡Qué frenesíes, quererte!
¡Qué entusiasmo de olas altas,
y qué desmayos de espuma
van y vienen! Un tropel
de formas, hechas, deshechas,
galopan desmelenadas.
Pero detrás de sus flancos
está soñándose un sueño
de otra forma más profunda
de querer, que está allá abajo:
de no ser ya movimiento,
de acabar este vaivén,
este ir y venir, de cielos
a abismos, de hallar por fin
la inmóvil flor sin otoño
de un quererse quieto, quieto.
Más allá de ola y espuma
el querer busca su fondo.
Esta hondura donde el mar
hizo la paz con su agua
y están queriéndose ya
sin signo, sin movimiento.
Amor
tan sepultado en su ser,
tan entregado, tan quieto,
que nuestro querer en vida
se sintiese
seguro de no acabar
cuando terminan los besos,
las miradas, las señales.
Tan cierto de no morir,
como está
el gran amor de los muertos.


Pedro Salinas

pindaro

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Os sentidos possíveis são muitos




























Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos.
Bernardo Soares

pindaro

domingo, dezembro 12, 2010

Rhytmos verbais




























Há rhytmos verbais que são bailados, em que a ideia se desnuda sinuosamente, numa sensualidade translúcida e perfeita.

Bernardo Soares

pindaro

sábado, dezembro 11, 2010

Si el tiempo hubiera sido favorable





























En las mansas corrientes de tus manos
y en tus manos que son tormenta
en la nave divagante de tus ojos
que tienen rumbo seguro
en la redondez de tu vientre
como una esfera perpetuamente inacabada
en la morosidad de tus palabras
veloces como fieras fugitivas
en la suavidad de tu piel
ardiendo en ciudades incendiadas
en el lunar único de tu brazo
anclé la nave.
Navegaríamos,
si el tiempo hubiera sido favorable.

Cristina Peri Rossi

pindaro

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Ce qui est en jeu
























Ce qui est en jeu, dans l'érotisme, c'est toujours une dissolution des formes constituées.
Georges Bataille


pindaro