quarta-feira, outubro 31, 2007

O verde secreto






A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.

A meu favor tenho uma rua em transe
Um alto incêndio em nome de nós todos


Alexandre O'Neill




pindaro

E avidamente beijou




Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas

Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronza

Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho

Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Plácidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.

Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.

Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu hombro
Falou-me de um pagem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...

Olhei o céu!

Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombria.

Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento

Vinha longe a madrugada.

Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.




Antonio Botto



pindaro

La bohème






Je vous parle d'un temps que les moins de vingt ans ne peuvent pas connaître
Montmartre en ce temps-là accrochait ses lilas jusque sous nos fenêtres
Et si l'humble garni qui nous servait de nid ne payait pas de mine
C'est là qu'on s'est connu, moi qui criais famine et toi qui posais nue

La bohème, la bohème... ça voulait dire, on est heureux
La bohème, la bohème... nous ne mangions qu'un jour sur deux

Dans les cafés voisins, nous étions quelques-uns qui attendions la gloire
Et, bien que miséreux, avec le ventre creux nous ne cessions d'y croire
Et quand quelque bistro contre un bon repas chaud nous prenait une toile
Nous récitions des vers, groupés autour du poêle en oubliant l'hiver

La bohème, la bohème... ça voulait dire «tu es jolie»
La bohème, la bohème... et nous avions tous du génie

Souvent il m'arrivait devant mon chevalet de passer des nuits blanches
Retouchant le dessin de la ligne d'un sein, du galbe d'une hanche
Et ce n'est qu'au matin qu'on s'asseyait enfin devant un café-crème
Épuisés mais ravis, fallait-il que l'on s'aime et qu'on aime la vie

La bohème, la bohème... ça voulait dire, on a vingt ans
La bohème, la bohème... et nous vivions de l'air du temps

Quand au hasard des jours, je m'en vais faire un tour à mon ancienne adresse
Je ne reconnais plus ni les murs ni les rues qui ont vu ma jeunesse
En haut d'un escalier je cherche l'atelier dont plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor, Montmartre semble triste et les lilas sont morts

La bohème, la bohème... on était jeunes, on était fous
La bohème, la bohème... ça ne veut plus rien dire du tout



Jacques Plante




Pindaro

Buscando claridad






Tinieblas, más tinieblas!
S¢lo claro el afán.
No hay más luz que la luz
que se quiere, el final.
Nubes y nubes llegan
creciendo oscuridad.
Lo azul, allí, radiante,
estaba, ya no está.
Se marchó de los ojos,
vive sólo en la fe
de un azul que hay detrás.
Avanzar en tinieblas,
claridades buscar
a ciegas. ¡Qué difícil!
Pero el hallazgo, así,
valdría mucho más.
Será hoy, mañana, nunca?
Será yo el que la encuentre
o ella me encontrará?
Nos buscamos o busca
sólo mi soledad?
Retumban las preguntas
y los ecos contestan:
"Azar, azar, azar."
Y ya no hay que arredrarse:
ya es donación la vida,
es entrega total
a la busca del signo
que la flor ni la piedra
nos quieren entregar!
Tensión del ser completo!
Totalidad! Igual
al gran amor en colmo
buscando claridad
a través del misterio
nunca bastante claro
por desnudo que esté,
de la carne mortal.


Pedro Salinas




pindaro

A pérola de cultura do mistério




Acalmei do poema das cinco da madrugada
Nas sílabas de furor de que te deixei toucada.
Agora espero-te: Vens
Por vinte e quatro horas de cravos de Nice, amor no aroma,
Intervalando as tuas Carnes Verdes,
Monte Escuro,
De mãos nas mãos no largo laço aéreo,
Meu focinho de nada,
Por nome: a Pérola de cultura do mistério.

À espera tens uma corrente chic
Como a cadela “Pura”
- Ah! essa, chic não ! –
Uma e outra porém para que fique
à argola a orelha de ambas,
Penhor de guarda à vinha viva
Do rabinho entre as pernas de ternura
E beijos de saliva

Como a cadela “Pura”.



Vitorino Nemésio



pindaro

Caminos sobre la mar



Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.
Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.


Antonio Machado



pindaro

Bilhetando Hilária








Eu estava tão perto de ti que sentia frio ao pé dos outros.

solino

pindaro

Outra ciência




Qualquer um sabe proferir palavras enganadoras;
as mentiras do corpo exigem outra ciência.


François Mauriac


pindaro

terça-feira, outubro 30, 2007

A palavra












A palavra é uma estátua submersa, um leopardo
que estremece em escuros bosques, uma anémona
sobre uma cabeleira. Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua,mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada. Rápida é a boca
que apenas aflora os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos,os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical o sangue das vogais.


António Ramos Rosa




pindaro

Do sentido próprio ao figurado







La vie est une phrase interrompue.
Victor Hugo



pindaro

No intervalo é que a caça compensa



There are only two tragedies in life: one is not getting what one wants, and the other is getting it
.

Oscar Wilde



pindaro

Personnages






Il est très difficile, quand on vit dans la familiarité bourrue de la mer, de ne point regarder le vent comme quelqu'un et les rochers comme des personnages.
Victor Hugo


pindaro

As coisas só belas


















Os seres imperfeitos agitam-se e acasalam-se para se completarem, mas as coisas só belas são solitárias como a dor humana.
Marguerite Yourcenar


pindaro

Metade da minha alma





Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.


Sophia de Mello Breyner


pindaro

segunda-feira, outubro 29, 2007

Mesmo antes de ver





Adoro esse olhar blasé
que não só já viu quase tudo
mas acha tudo tão déjà vu
mesmo antes de ver.

António Cícero



pindaro

Sempre inteira nos sentidos




Terra, minha medida!
Com que ternura te encontro
Sempre inteira nos sentidos,
Sempre redonda nos olhos,
Sempre segura nos pés,
Sempre a cheirar a fermento!
Terra amada!
Em qualquer sítio e momento,
Enrugada ou descampada,
Nunca te desconheci!
Berço do meu sofrimento,
Cabes em mim, e eu em ti!



Miguel Torga

Monforte do Alentejo, 1968




pindaro

Desprendimento



















Nada mais é gratuito, tudo é ritual
Começo a amar as coisas
com o desprendimento que só têm
os que amando tudo o que perderam
já não mentem.


Affonso Romano de Sant'Anna






pindaro

Faróis distantes






Faróis distantes,
De luz subitamente tão acesa,
De noite e ausência tão rapidamente volvida,
Na noite, no convés, que consequências aflitas!
Mágoa última dos despedidos,
Ficção de pensar ...

Faróis distantes ...
Incerteza da vida ...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido ...

Faróis distantes...
A vida de nada serve ...
Pensar na vida de nada serve ...
Pensar de pensar na vida de nada serve ...

Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
Faróis distantes ...



Álvaro de Campos




pindaro

Style




Style is the mind skating circles around itself as it moves forward.


Robert Frost




pindaro

Amanhecendo
















Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.


Adélia Prado




pindaro

domingo, outubro 28, 2007

L'amour est un lien


Si tu veux nous nous aimerons
Avec tes lèvres sans le dire
Cette rose ne l'interromps
Qu'à verser un silence pire

Jamais de chants ne lancent prompts
Le scintillement du sourire
Si tu veux nous nous aimerons
Avec les lèvres sans le dire

Muet muet entre les ronds
Sylphe dans la pourpre d'empire
Un baiser flambant se déchire
Jusqu'aux pointes des ailerons
Si tu veux nous nous aimerons



Stéphane Mallarmé





pindaro

Si belles soyez-vous







Si belles soyez-vous
Avec vos yeux de lacset de lacs et de flammes avec vos yeux de piège à loup
avec vos yeux couleur de nuit de jour d'aube et de marjolaine
Si belles soyez-vous
avec vos dents acérées et mordant ferme et jusqu'au sang
avec vos dents de mer profonde et étincelantes
avec vos dents blanches
Si belles soyez-vous
avec vos lèvres à baisers toujours prêts
avec vos lèvres de silence et de tumulte et douceur et cruauté avec vos lèvres trop habiles et parfois trop pressées
Si belles soyez-vous
avec vos seins de blessures et d'éphémères perfection
avec vos seins de consolation
avec vos seins qu'on tient entre les mains comme un fruit
Si belles soyez-vous
avec vos cheveux et votre ventre
avec votre ventre élastique et rond
avec vos cheveux drus et sentant fort votre parfum naturel
Si belles soyez-vous
avec vos reins avec vos fesses froides
avec vos omoplates faciles à griffer
avec votre cou dont on ferait si bon marché
Si belles soyez-vous
avec votre sexe savoureux et autonome
avec votre sexe admirable
avec votre sexe fantasque comme vous et sanglant comme votre coeur
Si belles soyez-vous
je ne vous aimerai pas



Robert Desnos




pindaro

Passionnément





Je l'aime un peu, beaucoup, passionnément,
Un peu c'est rare et beaucoup tout le temps.
Passionnément c'est dans tout le mouvement :
Il est caché sous cet un peu bien sage

Et dans : beaucoup il bat sous mon corsage
Passionnément ne dort pas davantage
Que mon amour aux pieds de mon amant
Et que ma lèvre en baisant son visage


Louise de Vilmorin


pindaro

Capriccio




Quero escrever-te até encontrar onde segregas tanto sentimento.


Adélia Prado



pindaro

A bruma feminina





Tens agora outro rosto, outra beleza:
Um rosto que é preciso imaginar,
E uma beleza mais furtiva ainda...
Assim te modelaram caprichosas,
Mãos irreais que tornam irreal
O barro que nos foge da retina.
Barro que em ti passou de luz carnal
A bruma feminina...

Mas nesse novo encanto
Te conjuro
Que permaneças.
Distante e preservada na distância.
Olímpica recusa, disfarçada
De terrena promessa
Feita aos olhos tentados e descrentes.
Nenhum mito regressa....
Todas as deusas são mulheres ausentes...



Miguel Torga



pindaro

A linguagem



A linguagem tende para a prosa mas não chega lá.


Eugenio Montale



pindaro

At least



... let us at least remember that an amateur is really a lover, and a dilettante, one who delights.

Ernest Gombrich


pindaro

sábado, outubro 27, 2007

Passa-te por mim



Não me despertes se durmo e, se estou acordada, não me adormeças.


Calderón de la Barca



pindaro

sexta-feira, outubro 26, 2007

En el silencio del aroma



Esperar junto a este mar (en el que nacieron las ideas)
sin ninguna idea. (Y así tenerlas todas).
Ser sólo la brisa en la copa del pino grande,
el aroma del azahar, la noche de orquídeas
en las calas olvidadas.

Sólo permanecer viendo el ave que pasa
y no regresa; quedar
esperando a que el cielo amarillo
arda y se limpie de relámpagos
que llegarán saltando de una isla a otra isla.
O contemplar la nube blanca
que, no siendo nada, parece ser feliz.
Quedar flotando y transcurriendo de aquí para allá,
sobre las olas que pasan,
como un remo perdido.
O seguir, como los delfines,
la dirección de un tiempo sentenciado.

Ser como la hora de las barcas en las noches de enero,
que se adormecen entre narcisos y faros.
Dejadme, no con la luz del conocimiento
(que nació y se alzó de este mar),
sino simplemente con la luz de este mar.
O con sus muchas luces:
las de oro encendido y las de frío verdor.
o con la luz de todos los azules.

Pero, sobre todo, dejadme con la luz blanca,
que es la que abrasa y derrota a los hombres heridos,
a los días tensos, a las ideas como cuchillos.
Ser como olivo o estanque.
Que alguien me tenga en su mano como a un puñado de sal.
O de luz.

Cerrar los ojos en el silencio del aroma
para que el corazón —al fin— pueda ver.
Cerrar los ojos para que el amor crezca en mí.
Dejadme compartiendo el silencio
y la soledad de los porches,
la hospitalidad de las puertas abiertas; dejadme
con el plenilunio de los ruiseñores de junio,
que guardan el temblor del agua en las últimas fuentes.
Dejadme con la libertad que se pierde
en los labios de una mujer



Antonio Colinas




Pindaro

É esse o papel





Orfeu: Mas, enfim, Senhora ... explicar-me-á?
A princesa: Nada. Se dorme, se sonha,
aceite os seus sonhos. É esse o papel do sonhador
.



(guião de
Jean Cocteau
para o filme Orphée)




pindaro

La roja mordedura del amor



Será mejor entonces, mujer, dejar de vernos,
apartar los labios teñidos de vino
y maquillar la roja mordedura del amor
ante viejos espejos carcomidos?
Nunca tendremos una casa, es cierto,
pero la intemperie de un gemido ha sido nuestro hogar.
No habrán aniversarios ni flores
pero tú rodarás interminablemente
entre las flores de mi sueño hasta mi tumba.
lo que la carne une nada lo separa:
ni Dios ni el tiempo ni el tempo ni el olvido.
el deseo planta un árbol del que una gran cauda de
Pájaros desciende
Para beber en la fuente lasciva de la sangre.


Rafael Vargas



pindaro

Tan largo




Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

Pablo Neruda



pindaro

A arte de mover os ânimos




Um artista não deve contar a sua vida tal como a viveu, mas vivê-la tal como a vai contar.

André Gide




Pindaro

Como um amor na boca



... na distância viva do não-lugar onde se conjugam todas as esperanças, onde se exprime a paixão de um centro, de uma silenciosa intensidade e de um obscuro sabor. Como um amor na boca onde o corpo vai mais depressa que o pensamento.

Pascal Fleury



pindaro

Do lado direito do écran

















Escreve para ti, que neste momento entras na sala e ficas por momentos encostada à ombreira da porta, do outro lado da luz, olhando-o. E tu que portanto não és estas letras, como que por dentro delas nasces como se nas conchas da espuma nascesses das águas, como se, ligeiramente inclinada, a custo, começasses a surgir do lado direito do écran, ou estivesses antes ao centro, em grande plano, com olhar velado ou mesmo cega; de qualquer modo como se olhasses para onde não podes olhar. Não podes?

Manuel Gusmão




pindaro

A maré que leva e traz




O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo das avenidas
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
Gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida


Ruy Belo


Pindaro

Frias e perfeitas





E se alguma coisa me agrada em ti é o silêncio que guardam os teus silêncios, tão semelhantes aos das tuas fotografias frias e perfeitas.


Arturo Perez-Reverte



pindaro

O amor quer-se batido



...o casal teve uma felicidade sem nuvens. O que é sempre mau presságio, porque como diz o povo, "o amor quer-se batido", e muita calma acumula perversões e desastres.

Agustina Bessa Luís



pindaro

Para além das nuvens





Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez?
Me beije só mais uma vez,
depois volte para lá.


Paulinho Pedra Azul




pindaro

C´est savourer




Aimer, c'est savourer, au bras d'un être cher,
La quantité de ciel que Dieu mit dans la chair...


Victor Hugo



pindaro

Marinhagens







Je suis un homme qui pense à autre chose
Victor Hugo



pindaro

quinta-feira, outubro 25, 2007

Les mots d´amour



Amoureuse au secret derrière ton sourire
Toute nue les mots d'amour
Découvrent tes seins et ton cou
Et tes hanches et tes paupières
Découvrent toutes les caresses
Pour que les baisers dans tes yeux
Ne montrent que toi toute entière.


Paul Eluard



pindaro

Sorrisos de esquecer



No teu olhar eu leio
Um lúbrico vagar.
Dorme no sonho de existir
E na ilusão de amar.

Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser.
O espaço negro é mudo.
Dorme, e, ao adormecer,
Saibas do coração sorrir
Sorrisos de esquecer.
Dorme sobre o meu seio,
Sem mágoa nem amor...

No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.

Fernando Pessoa




pindaro

E por vezes





E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos



David Mourão Ferreira






pindaro

A selvagem exalação





Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.


Sophia de Mello Breyner





pindaro

Lettera amorosa




Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


Eugénio de Andrade


pindaro

Janela dita da alma
















Uma vez irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma desta vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos, com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria...


clarice lispector



pindaro

Há uma feição atiçante




Avec la maigreur qui plaît à l`indécence...
Francis Ponge



Pindaro

quarta-feira, outubro 24, 2007

Navegação segura




Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.




Eugénio de Andrade





pindaro

Do amor e seus andamentos



A percepção tem a forma de um abraço - o veneno entra com o beijo.

Lawrence Durrel

Clea


pindaro