segunda-feira, maio 31, 2010

Tout se charge de signification.


























Il suffit de garder les yeux ouverts : tout se charge de signification.
Michelangelo Antonioni

pindaro

domingo, maio 30, 2010

Souriant d´aise






















Beau, frais, souriant d´aise à cette vie amère.

Sainte-Beuve


pindaro

sábado, maio 29, 2010

Como o mar avança na praia




















e me tomando devagar,
como o mar avança na praia,
como eu sei que tem que ser
e sei que um dia será.


Claudia Mrczac

pindaro

sexta-feira, maio 28, 2010

Que vai do tempo ao coração





























Da curva de entretanto à entrada do poço
De soletrar em mim a ler nas tuas mãos
Como é rápido e lento e recto e sinuoso
O percurso que vai do tempo ao coração.

David Mourão-Ferreira

pindaro

quinta-feira, maio 27, 2010

Só entre nós







Vou dizer-te mais : nunca me acontecera como aconteceu contigo.
Jorge de Sena

pindaro

quarta-feira, maio 26, 2010

A encosta da sua inclinação







No ser vivo toda a necessidade essencial, que brota do próprio ser e não lhe advém de fora acidentalmente, vai acompanhada de voluptuosidade. A voluptuosidade é a cara, a facies da felicidade. E todo o ser é feliz quando satisfaz o seu destino, isto é, quando segue a encosta da sua inclinação, da sua necessidade essencial, quando se realiza, quando está a ser o que é na verdade.

J. Ortega y Gasset

pindaro

Por ela é que saio do tom
























Por ela é que eu faço bonito
Por ela é que eu faço o palhaço
Por ela é que saio do tom
E me esqueço no tempo e no espaço
Quase levito
Faço sonhos de crepon
E quando ela está nos meus braços
As tristezas parecem banais
O meu coração aos pedaços
Se remenda prum número a mais
Por ela é que o show continua
Eu faço careta e trapaça
É pra ela que faço cartaz
É por ela que espanto de casa
As sombras da rua
Faço a lua
Faço a brisa
Pra Luisa dormir em paz

Chico Buarque

pindaro

terça-feira, maio 25, 2010

O elo secreto
























Há um elo secreto entre a lentidão e a memória, entre a velocidade e o esquecimento.
Milan Kundera

pindaro

Memorandum



























True is it that we have seen better days
William Shakespeare

pindaro

segunda-feira, maio 24, 2010

Como se fossem jangadas






Como se fossem jangadas
desmanteladas,
vogam no mar da memória
as camas da minha vida ...
Tanta cama! Tanta história!
Tanta cama numa vida!
Grabatos, leitos, divãs,
a tarimba do quartel;
e no frio das manhãs
lívidas camas de hotel ..
Ei-Ias vogando as jangadas
desmanteladas,
todas cobertas de escamas
e do sal do mar da vida ...
Tanta cama! Tantas camas!
Tanta cama numa vida!
Já os lençóis amarrados
tocam no centro da Terra
(que o reino dos desesperados
fica no centro da Terra!)
e os cobertores empilhados
são monte que não se alcança!
Só as tábuas das jangadas
desmanteladas
boiam no mar da lembrança
e no remorso da vida ...
Homem sou. Já fui criança.
Tanta cama numa vida!
Nem vão ao fundo as de ferro,
nem ao céu as de dossel. ..
Lembro-vos, camas de ferro
de internato e de bordel,
gaiolas da adolescência,
ginásios do amor venal!
Barras fixas. Imprudência.
Sem rede, o salto mortal
pra fora da adolescência ...
E confundem-se as jangadas
desmanteladas
no mar da reminiscência ...
Onde estás, ó minha vida?
Sono. Volúpia. Doença.
Tanta cama numa vida!
E recordo-vos, tão vagas,
vós que viestes depois,
ó camas transfiguradas
das furtivas ligações!
Camas dos fins-de-semana,
beliches da beira-mar ...
Oh! que arrojadas gincanas
sobre os altos espaldares!
E as camas das noites brancas,
tão brancas!, tão tumulares!
Cigarros. Beijos. Uísque.
Ó fragílimas jangadas,
desmanteladas ... !
E nelas há quem se arrisque
sobre os pélagos da vida!
Cigarros. Beijos. Uísque.
Tanta cama numa vida!
E o amor? Tálamo, templo,
conjugação conjugal ..
O amor: tálamo, templo
- ilha num mar tropical.
Mas ao redor, insistentes,
bramam as ondas do mar,
do mar da memória ardente,
eternamente a bramar ...
Já no frio dos lençóis
há prelúdios da mortalha;
e, nas camas, sugestões
fúnebres, torvas, pesadas ...
- Sede, por fim, ó jangadas
desmanteladas,
a ponte do esquecimento
prà outra margem da Vida!
Sede flecha, monumento,
ponte aérea sobre o Tempo,
redentora madrugada!
Se o não fordes, sereis nada,
jangadas
desmanteladas,
todas roídas de escamas
da margem de cá da Vida ...
Pobres camas! Tristes camas!
Tanta cama numa vida!

David-Mourão Ferreira

pindaro

I generally avoid























I generally avoid temptation unless I can't resist it
Mae West

pindaro

domingo, maio 23, 2010

Vinha longe a madrugada






Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas

Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronze

Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho

Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Plácidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.

Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.

Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu hombro
Falou-me de um pagem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...

Olhei o céu!

Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombria.

Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento

Vinha longe a madrugada.

Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.


António Botto

pindaro

No café da juventude perdida.








A meio do caminho da verdadeira vida, encontrávamo-nos rodeados por uma angustiante melancolia, expressa por tantas palavras tristes e deprimentes, no café da juventude perdida.
Guy Debord

pindaro

sábado, maio 22, 2010

Prelúdio de tédio




























Tirai dele a mulher, e o mundo será um ermo melancólico, os deleites serão apenas prelúdio de tédio.

Alexandre Herculano


pindaro

sexta-feira, maio 21, 2010

Ternura




















Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira

pindaro

quinta-feira, maio 20, 2010

Os horizontes do pecado

















Depois do sangue misturado,
depois dos dentes, dos lamentos,
estamos deitados, lado a lado,
e desfolhamos sofrimentos.
Temos trint'anos, mais trezentos
de sofredora exaltação.
É este o cabo dos tormentos?
Ai, não e não! Ainda não.
Saboreamos o passado
por entre os beijos mais violentos
e mais subtis que temos dado.
E o monumento dos momentos
oscila, desde os fundamentos,
a tão febril consagração.
Mas estacamos, sonolentos.
Agora, não. Ainda não ...
Tudo se torna esbranquiçado:
eram azuis, são já cinzentos
os horizontes do pecado ...
Há nos teus ombros turbulentos
cintilações, pressentimentos ...
Os nossos corpos descerão
para que abismos lamacentos?
Ah! não, e não! Ainda não!
Eis-vos, de novo, movimentos
que apunhalais a inquietação!
E assim unidos gritaremos
que não e não! que ainda não!

David Mourão-Ferreira

pindaro

O teu silêncio






















Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte…
O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto…

Fernando Pessoa

pindaro

quarta-feira, maio 19, 2010

Imediatez flagrante




























Les photos ont pour moi une réalité que les gens n’ont pas. C’est à travers les photos que je les connais.
Richard Avedon


pindaro

Venha o que vier























E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.

Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.


Fernando Pessoa

pindaro

terça-feira, maio 18, 2010

Memorandum




























O tempo, conforme passa, revela-se um indicador pouco fiável; na verdade, nada mais senão uma inquietação da alma.
W G Sebald

pindaro

segunda-feira, maio 17, 2010

Il n'y a que ça



























Boire sans soif et faire l'amour en tout temps, madame, il n'y a que ça qui nous distingue des autres bêtes.
Beaumarchais


pindaro

domingo, maio 16, 2010

Sino estelas en la mar























Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.


Antonio Machado

pindaro

sábado, maio 15, 2010

La vérité



























La photographie, c'est la vérité et le cinéma, c'est vingt-quatre fois la vérité par seconde...
Jean-Luc Godard

pindaro

sexta-feira, maio 14, 2010

Aonde leva esta dança


























Vem. Te direi em Segredo aonde leva esta dança. Vê como as partículas do ar e os grãos de areia do deserto giram desnorteados. Cada átomo feliz ou miserável, gira apaixonado. Em torno do Sol.
Rumi

To ladybug
pindaro

quinta-feira, maio 13, 2010

Entre elas ficam as portas



























Há coisas conhecidas e coisas desconhecidas; entre elas, ficam as portas.
William Blake

pindaro

quarta-feira, maio 12, 2010

À força de ser bela























Sua beleza é total
Tem a nítida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual

Seu torso lembra o respirar da vela
Seu corpo é solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela
Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pátria do ser.

Sophia de Mello Breyner

pindaro

terça-feira, maio 11, 2010

Mal de amor




























Mal de amor raro se perde
é como a nódoa da amora
só com outra amora verde
a nódoa se vai embora

popular


pindaro

segunda-feira, maio 10, 2010

Ter um destino





























Ter um destino
é não caber no berço
onde o corpo nasceu,
é transpor as fronteiras
uma a uma
e morrer sem nenhuma.

Miguel Torga

pindaro

Missing Link







Man's a kind
of Missing Link,
fondly thinking
he can think.


Piet Hein

pindaro

domingo, maio 09, 2010

O interior do horizonte




























Disseste ou escreveste milhões ou muitos milhares de palavras. E deve haver nessa nebulosa uma estrela que seja a tua. Não a saberás nunca.
Vergílio Ferreira

pindaro

Aspectos elementares






On n’aime que ce qu’on ne possède pas tout entier
Marcel Proust

pindaro

sábado, maio 08, 2010

Collectionner





























Collectionner, c'est être capable de vivre de son passé.
Albert Camus

pindaro

Voyage




























On ne va jamais si loin que lorsque l'on ne sait pas où l'on va.
Antoine de Rivarol

pindaro

sexta-feira, maio 07, 2010

Palavras escritas do lado de fora do papel

























Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...

como
uma pobre lanterna que incendiou!


Mario Quintana

pindaro

quinta-feira, maio 06, 2010

The secret







The secret of happiness is to make others believe they are the cause of it.
Al Batt


pindaro

quarta-feira, maio 05, 2010

A doida quer morrer-me























Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua…
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segredo…
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas…
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou…
Tenho frio… Alabastro!… A minha Alma parou…
E o seu corpo resvala a projectar estátuas…
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto…
Timbres, elmos, punhais… A doida quer morrer-me:
Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto…
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo…


Mário de Sá-Carneiro


pindaro

Le reflet de la nature




























L'imagination n'est autre chose que le reflet de la nature dans l'âme de l'homme
Victor Hugo

pindaro

terça-feira, maio 04, 2010

Tu ausencia me rodea






























Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales
a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.


Jorge Luis Borges

pindaro

Comprimentos e pontas










Não há amor algum que resista a 24 horas de filosofia
Camilo Castelo Branco

pindaro

Time immemorial

"Todos nós corremos com desvantagens secretas"





Justine apoiada num fuste de uma coluna de Taposiris, a cabeça negra recortando-se contra a obscuridade murmurante da água, uma mecha desfeita pela brisa marinha, dizendo:

Na língua inglesa há uma única expressão que para mim tem significado:Time immemorial.


Lawrence Durrel

pindaro

segunda-feira, maio 03, 2010

Me gustas cuando callas





























Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca

pablo neruda

píndaro

domingo, maio 02, 2010

A única grande razão







Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser.

Alberto Caeiro

pindaro

sábado, maio 01, 2010

Ceaselessly into the past






















So we beat on, boats against the current, borne back ceaselessly into the past.

F. Scott Fitzgerald


pindaro