sábado, abril 30, 2011

Certos fantasmas do inconsciente





























O amor é algo muito interior, algo que não se pode explicar. Os românticos diziam que era um puro movimento das emoções e tampouco se pode explicar como uma sublimação do instinto sexual. No amor, há algo mais, é algo estranho, algo que implica tudo o que é a condição humana: o instinto, o sexo, a paixão, também o espírito e certos fantasmas do inconsciente que rapidamente se instalam num tipo de relação que faz aparecer o melhor e o pior das pessoas.

Mário Vargas Llosa


pindaro

sexta-feira, abril 29, 2011

O sumo e o traço



























Na vida, os factos são o limão na ostra.
Clarice Lispector



pindaro

quinta-feira, abril 28, 2011

For the first time









We shall not cease from exploration,
and the end of all our exploring will be to arrive where we started
and know the place for the first time.

T. S. Eliot


pindaro

quarta-feira, abril 27, 2011

Un sueño dirigido























La literatura no es otra cosa que un sueño dirigido
Jorge Luis Borges

Pindaro

terça-feira, abril 26, 2011

Em estado bruto




























O tédio não é a ausência de paixão, mas a paixão maior e mais envolvente - o desejo de felicidade deixado em estado bruto.

Giacomo Leopardi

Pindaro

segunda-feira, abril 25, 2011

L'Orient de ma vie



























Ce cher corps des femmes qui devait être, je l'avoue, l'Orient de ma vie.

José Cabanis

pindaro

domingo, abril 24, 2011

A gravidade das leis





April is the cruellest month.

T. S. Eliot

pindaro

sábado, abril 23, 2011

Y navego en cada resonancia del idioma...

























He aquí que el silencio fue integrado
por el total de la palabra humana,
y no hablar es morir entre los seres:
se hace lenguaje hasta la cabellera,
habla la boca sin mover los labios,
los ojos de repente son palabras...
...Yo tomo la palabra y la recorro
como si fuera sólo forma humana,
me embelesan sus líneas
y navego en cada resonancia del idioma...


Pablo Neruda


pindaro

sexta-feira, abril 22, 2011

Comprimentos e pontas
























É precisamente quando o jogo está no seu melhor que o devemos abandonar .

Mechtilde de Magdeburgo


pindaro

quinta-feira, abril 21, 2011

Uma fruta proibida





















Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Clarice Lispector


pindaro

Um cálculo matemático errado



























Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente

clarice lispector

pindaro

quarta-feira, abril 20, 2011

Le rivage de l'esprit




























Le temps est le rivage de l'esprit ; tout passe devant lui, et nous croyons que c'est lui qui passe.
Rivarol

pindaro

Una conversación en la penumbra






























Un poema no es más
que una conversación en la penumbra
del horno viejo, cuando ya
todos se han ido, y cruje
afuera el hondo bosque; un poema

no es más que unas palabras
que uno ha querido, y cambian
de sitio con el tiempo, y ya
no son más que una mancha, una esperanza indecible;

un poema no es más
que la felicidad, que una conversación
en la penumbra, que todo
cuanto se ha ido, y ya
es silencio.


Eliseo Diego

pindaro

terça-feira, abril 19, 2011

Voluntariamente




























Noches hubo en que me creí tan seguro de poder olvidarla que voluntariamente la recordaba.
Jorge Luis Borges

pindaro

Sem se enredar nelas




























Espírito é o dom de penetrar as coisas sem se enredar nelas.
Ernest Bersot

pindaro

Tus tristezas son bellas



























El mar es el Lucifer del azul. El cielo caído por querer ser la luz.
Pobre mar condenado a eterno movimiento habiendo antes estado quieto en el firmamento! Pero de tu amargura te redimió el amor.
Pariste a Venus pura, y quedóse tu hondura virgen y sin dolor.
Tus tristezas son bellas, mar de espasmos gloriosos.
Mas hoy en vez de estrellas tienes pulpos verdosos.
Aguanta tu sufrir, formidable Satán.
Cristo anduvo por ti, mas también lo hizo Pan.
La estrella Venus es la armonía del mundo. Calle el Eclesiastés!
Venus es lo profundo del alma...
Y el hombre miserable es un ángel caído.
La tierra es el probable paraíso perdido.


Frederico Garcia Lorca

pindaro

segunda-feira, abril 18, 2011

Aquela precisão cruel























As palavras que os apaixonados empregam às vezes estão carregadas de falsas emoções. Somente os silêncios possuem aquela precisão cruel que lhes confere a verdade.


Lawrence Durrel

Pindaro

domingo, abril 17, 2011

Only two tragedies






There are only two tragedies in life: one is not getting what one wants, and the other is getting it.
Oscar Wilde

pindaro

sábado, abril 16, 2011

Lançamos o barco























Lançamos o barco. Sonhamos a viagem; quem viaja é sempre o mar.
Mia Couto pindaro

sexta-feira, abril 15, 2011

Talvez chegaria a padecer os danos




























Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor. Ou porque não se conhecesse a si: ou porque não conhecesse a quem amava: ou porque não conhecesse o amor: ou porque não conhecesse o fim onde há-de parar, amando. Se não se conhecesse a si, talvez empregaria o seu pensamento onde o não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecesse a quem amava, talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se o não ignorara. Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que não havia de empreender, se o soubera. Se não conhecesse o fim em que havia de parar, amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar se os previra.
Padre António Vieira


pindaro

Poesia desnuda

























Oh pasión de mi vida, poesía
desnuda, mía para siempre!


Juan Ramón Jimenez


pindaro

quinta-feira, abril 14, 2011

Zonas de oportunidade






















Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Clarice Lispector



pindaro

quarta-feira, abril 13, 2011

Uma viagem imprevisível




























A vida não é um problema que possa resolver-se dividindo a luz pela escuridão ou os dias pelas noites, mas sim uma viagem imprevisível entre lugares que não existem.

Stig Dagerman

pindaro

terça-feira, abril 12, 2011

Para um outro segredo





























A fotografia é apenas uma desculpa para um outro segredo.
Daniel Blauafuks

pindaro

segunda-feira, abril 11, 2011

Me gustas cuando callas
























Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca

pablo neruda


píndaro

domingo, abril 10, 2011

Na proporção




























O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a acção sobre os outros.
Bernardo Soares

pindaro

sábado, abril 09, 2011

Chama-se instante





Vês este pórtico? Tem duas faces. Reúnem-se aqui dois caminhos e ninguèm ainda os percorreu até ao fim. Esta longa rua que desce, é uma rua que se prolonga durante uma eternidade e esta longa rua que sobe - é outra eternidade. Estes caminhos contradizem-se, chocam um com o outro. E é aqui, neste pórtico que eles se encontram. O nome do pórtico está inscrito na sua fachada, chama-se «instante».

Friedrich Nietzsche

pindaro

sexta-feira, abril 08, 2011

Luz de relâmpagos agrupados














Os prazeres de amor são males que se fazem desejar, deslizantes como segredos, e a sua linguagem é a do fluxo das marés.

Coisas de naufrágios, portanto, onde se sentem bem os náufragos.

Um deles, Giovan Battista Marino, bem dizia:
“Ahi, ch´altro non risponde, che il mormorar de l´onde!”,

e uma outra, Ayn Rand, percebeu, nas luzes da noite, que ninguém consegue escapar à necessidade de uma filosofia e que a única variação é se sua filosofia é escolhida por si próprio ou pelo acaso...

Ressemantizadas as frases, do que se trata é de fingir de verdade, como uma luz de relâmpagos agrupados, sabendo que - outro náufrago, Scott Fitzgerald – toda a boa escrita é nadar debaixo de água com a respiração suspensa.

Afinal, quem mareou ao redor da ilha do dia antes, sabe que há pessoas que nunca se apaixonariam se não tivessem ouvido falar do amor...


solino

Ávida de regard





















A regra só pode ser esta:
os lapidários lapidarão e os ourives engastarão.
E elas, as de cabelo asa de corvo e olhos pretos, usem, de primazia, na cercadura dos brincos a prata branca.
Com vistas para o realce.
Ponham, por cima, camisa aberta e cor de canela, que entraves raianos não molham beijos,
sabendo que reais são os méis e adulações no estreito das embocaduras, maiormente da do fremente limo voraz.
E, por cima de tudo, a destapar as pernas quase todas, que a seda preta, ávida de regard, mostre a sua solidão furtiva entre a saia e a carne nua.
Marcando territórios, os lobos florescem.



Doutor Lívio


Linha de sombra




























Há uma linha de sombra de que falava o escritor Joseph Conrad que uma vez transposta não tem retorno.

Solino

quinta-feira, abril 07, 2011

O verdadeiro mistério do mundo























...às vezes as pessoas dizem que a Beleza é apenas superficial, e pode bem ser. Mas pelo menos não é tão superficial como o Pensamento. Para mim, a Beleza é a maravilha das maravilhas. Só as pessoas frívolas é que não julgam pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível...
Oscar Wilde

pindaro

quarta-feira, abril 06, 2011

Lonjuras






Tudo vem de mais longe e vai para mais longe do que nós.

Marguerite Yourcenar


pindaro

Comprimentos e pontas




























A ficção consiste não em fazer ver o invisível, mas em fazer ver até que ponto é invisível a invisibilidade do visível.
Michel Foucault


pindaro

Esta é uma declaração de amor







Esta é uma declaração de amor;
amo a língua portuguesa.
Ela não é fácil. Não é maleável.
E, como não foi profundamente trabalhada pelo
pensamento, a sua tendência é a de não ter sutileza
e de reagir às vezes com um pontapé contra
os que temerariamente ousam transformá-la
numa linguagem
de sentimento de alerteza.
E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro
desafio para quem escreve.
Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e
das pessoas a primeira capa do superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado.
Às vezes assusta com o imprevisível de uma frase.
Eu gosto de manejá-la - como gostava de estar
montando num cavalo e guiá-lo pelas rédeas,
às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse
ao máximo nas minhas mãos. e este desejo
todos os que escrevem têm.
Um Camões e outros iguais não bastaram para
nos dar uma herança de língua já feita. Todos nós
que escrevemos estamos fazendo do túmulo do
pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do
encantamento de lidar com uma língua que não foi
aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever
e me perguntassem a que língua eu queria pertencer,
eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como nasci
muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro
para mim que eu queria mesmo era escrever em português.
Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só
para que minha abordagem do português
fosse virgem e límpida

Clarice Lispector


pindaro

Elas sozinhas te dirão




























Foram montanhas? foram mares?
foram os números...? - não sei.
Por muitas coisas singulares,
não te encontrei.

E te esperava, e te chamava,
e entre os caminhos me perdi.
Foi nuvem negra? maré brava?
E era por ti!

As mãos que trago, as mãos são estas.
Elas sozinhas te dirão
se vem de mortes ou de festas
meu coração.

Tal como sou, não te convido
a ires para onde eu for.

Tudo que tenho é haver sofrido
pelo meu sonho, alto e perdido,
- e o encantamento arrependido
do meu amor.

Cecília Meireles


pindaro

terça-feira, abril 05, 2011

Não sabemos aonde elas nos podem levar





























Há pequenas impressões finas como um cabelo e que, uma vez desfeitas na nossa mente, não sabemos aonde elas nos podem levar. Hibernam, por assim dizer, nalgum circuito da memória e um dia saltam para fora, como se acabassem de ser recebidos. Só que, por efeito desse período de gestação profunda, alimentada ao calor do sangue e das aquisições da experiência temperada de cálcio e de ferro e de nitratos, elas aparecem já no estado adulto e prontas a procriar. Porque as memórias procriam como se fossem pessoas vivas.

Agustina Bessa-Luís

pindaro

Uma mimosa paixão da alma















D. Duarte, Duarte Nunes de Leão, Almeida Garret e Pascoaes, entre outros vultos antigos, tinham a palavra saudade ( soidade para D. Dinis) como um exclusivo pátrio, um termo só da nossa terra, intraduzível.

Dizia mesmo o Visconde João Baptista que “... o sentimento por ele representado, certo que em todos os países o sentem; mas que haja um vocábulo especial para o designar, não sei de nenhuma outra linguagem senão da portuguesa...”

Só mais à frente, século passado adentro, tal ideia, quase mágica, foi removida.

De facto, outras nações têm para a saudade um termo só seu: o galego tem soledades ou soedades; o catalão, anyoransa ou anyoramento; o italiano, desio ou disio; o romeno doru ou dor; o sueco, saknad; o dinamarquês, savn; o islandês, saknaor, e o alemão sehnsucht.

O filólogo Manuel de Melo abriu o capote a este bicho, com luzimento, em Notas Lexicológicas.

Falando das canções melancólicas dos romenos, Cratiunesco volteava sobre doru:

“Ce mot semble venir du mot latin desiderium, dont il exprime tous les nuances – le regret d´un bien perdu, le chagrin que cause son absence, l´ésperance de le recouvrer, le désir d´un bonheur, que l´on ne connait point encore et l´ivresse que en accompagne la posséssion.”

E, em francês, dava-se ao doru do poeta Alecandri o sentido de “désir mêlé de regret”.

Vamos, ainda, ao Purgatorio, com Dante:

“Era giá l´ora che volge il disio
Ai naviganti, e intenerisci il cuore
Lo di che han ai dolci amici addio;

E che lo nuovo peregrin d´amore
Punge, se ode aquilla di lontano,
Che peja il giorno pianger che si more”

( “C´était déja l´heure qui réveille les regrets
des navigateurs et attendrit leur âmme”, etc.
-Fiorentino)


Saudade, essa palavra para uma “mimosa paixão da alma” (D. Francisco Manuel de Melo), não é só nossa.
E é de folgar que seja assim.
O contrário seria uma desordenança.
Das grandes.


Leonardo

Este instante fugídio




























Visto que o passado morreu e o futuro é representado apenas pelo medo e pelo desejo - que é então este instante fugidio e não mensurável a que é impossível escapar?

Lawrence Durrel



pindaro

A pedra de toque dum acto de entendimento.






Compreender não é procurar no que nos é estranho a nossa projecção ou a projecção do nossos desejos. É explicar o que se nos opõe, valorizar o que até aí não tinha valor dentro de nós. O diverso, o inesperado, o antagónico, é que são a pedra de toque dum acto de entendimento.

Miguel Torga

pindaro

segunda-feira, abril 04, 2011

Comme un pressentiment de l'insuffisance de la réalité






La mer fascinera toujours ceux chez qui le dégoût de la vie et l'attrait du mystère ont devancé les premiers chagrins, comme un pressentiment de l'insuffisance de la réalité à les satisfaire. Ceux-là qui ont besoin de repos avant d'avoir éprouvé encore aucune fatigue, la mer les consolera, les exaltera vaguement. Elle ne porte pas comme la terre les traces des travaux des hommes et de la vie humaine. Rien n'y demeure, rien n'y passe qu'en fuyant, et des barques qui la traversent, combien le sillage est vite évanoui ! De là cette grande pureté de la mer que n'ont pas les choses terrestres. Et cette eau vierge est bien plus délicate que la terre endurcie qu'il faut une pioche pour entamer. Le pas d'un enfant sur l'eau y creuse un sillon profond avec un bruit clair, et les nuances unies de l'eau en sont un moment brisées; puis tout vestige s'efface, et la mer est redevenue calme comme aux premiers jours du monde. Celui qui est las des chemins de la terre ou qui devine, avant de les avoir tentés, combien ils sont âpres et vulgaires, sera séduit par les pâles routes de la mer, plus dangereuses et plus douces, incertaines et désertes. Tout y est plus mystérieux, jusqu'à ces grandes ombres qui flottent parfois paisiblement sur les champs nus de la mer, sans maisons et sans ombrages, et qu'y étendent les nuages, ces hameaux célestes, ces vagues ramures.

Marcel Proust

pindaro

domingo, abril 03, 2011

La nostalgie



























La nostalgie c'est le désir d'on ne sait quoi...
Antoine de Saint-Exupéry

pindaro

sábado, abril 02, 2011

Lettera amorosa





























Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade


pindaro

sexta-feira, abril 01, 2011

O complemento inesperado das suas linhas e dos seus traços




























Não há rosto que não envolva uma paisagem desconhecida, inexplorada, não há paisagem que não seja povoada por um rosto amado ou sonhado, que não desenvolva um rosto por vir ou já passado. Que rosto não chamou as paisagens que amalgamava, o mar e a montanha, que paisagem não evocou o rosto que a teria completado, que lhe teria fornecido o complemento inesperado das suas linhas e dos seus traços?


Gilles Deleuze

pindaro

Se o tempo voltar





























Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Cecília Meireles

pindaro