terça-feira, maio 31, 2011
Amor à linha
No ar nocturno da paisagem, a estranheza da alma despida do seu vulto.
Cartas de amor, letra a letra, para o espirito do lugar, para o desassossego da saudade.
Apanhar amores perdidos como se apanham os peixes.
Preciso é fio de pesca.
D. Júlio
Em todas as ruas
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny de Vasconcelos
pindaro
segunda-feira, maio 30, 2011
That's all we shall know for truth
Si no es el mar...
Si no es el mar, sí es su imagen,
su estampa, vuelta, en el cielo.
Si no es el mar, sí es su voz
delgada,
a través del ancho mundo,
en altavoz, por los aires.
Si no es el mar, sí es su nombre
es un idioma sin labios,
sin pueblo,
sin más palabra que ésta:
mar.
Si no es el mar, sí es su idea
de fuego, insondable, limpia;
y yo,
ardiendo, ahogándome en ella.
Pedro Salinas
pindaro
Something around the corner
domingo, maio 29, 2011
Naviguer
Remo e rumo
O voo e a perseguição.
sábado, maio 28, 2011
Cuidais que amais perfeições angélicas
Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo.
Padre António Vieira
pindaro
sexta-feira, maio 27, 2011
Cabes em mim, e eu em ti!
Terra, minha medida!
Com que ternura te encontro
Sempre inteira nos sentidos,
Sempre redonda nos olhos,
Sempre segura nos pés,
Sempre a cheirar a fermento!
Terra amada!
Em qualquer sítio e momento,
Enrugada ou descampada,
Nunca te desconheci!
Berço do meu sofrimento,
Cabes em mim, e eu em ti!
miguel torga
pindaro
quinta-feira, maio 26, 2011
Verticalmente no vício
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
– ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos
frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
Mário Cesariny de Vasconcelos
pindaro
quarta-feira, maio 25, 2011
As almas são incomunicáveis
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manuel Bandeira
pindaro
terça-feira, maio 24, 2011
A ilha inaudita
Como o que ao deixar a ilha inaudita
se exalta com o sonho que se propôs
na pérola ardente que o imita.
Carles Riba
Encontrava-se na situação daquele pescador de não sei que lenda árabe que, ao tentar afogar-se no meio do oceano, chega a um país submarino onde o fazem rei.
Tudo começa pela parte da ligação entre a noite e a sensualidade, e continua por aí fora nas histórias de correr fado até chegar à água, a da nossa memória, e à outra, a do mar.
A irmandade com o oceano é o sal que no-la dá.
A sua percentagem nele e em nós é a mesma, e que incessantemente assim tenha sido e que assim continuamente venha a ser é o salvo-conduto, o farol das fugidas dos ameaços de quem se governa como pode nas durezas dos amores.
Doutor Lívio
segunda-feira, maio 23, 2011
domingo, maio 22, 2011
sábado, maio 21, 2011
É esse o papel do sonhador
sexta-feira, maio 20, 2011
Convém acrescentar
A única forma de posse verdadeira
quinta-feira, maio 19, 2011
Como uma ave rara que não pode ser vista
Os grandes defeitos são tão profundos que uma pessoa não vê nada à superfície excepto o sorriso.
E as grandes experiências definitivas só sucedem uma vez, infelizmente!
Sim, só tens direito a uma dentada na cereja.
A longa noite aproxima-se, e a treva é explícita.
Bebe como os tigres bebem, furtivamente.
Uma ideia é como uma ave rara que não pode ser vista.
O que uma pessoa vê é o estremecimento do ramo de onde ela acaba de levantar voo.
Lawrence Durrel
pindaro
As seteiras do espírito
As paixões são as seteiras do espírito. O mais prático consiste em dissimular. Corre o risco de perder quem joga jogo aberto. Que a detença do recatado compita com a atenção do advertido; a linces da palavra, sibas de interioridade. Que não lhe conheçam o gosto, para que não se previnam, uns para a contradição, outros para a lisonja.
Baltasar Gracián y Morales
pindaro
quarta-feira, maio 18, 2011
Une carte marine
Gentilhomme de fortune, Corto Maltese ne vas pas chercher l´aventure; elle vient à lui tandis qu´il déambule pour tromper un ennui empreint de nostalgie.
Il sait que
Une carte marine est bien plus qu´un instrument indispinsable pour aller d´un point à un autre; c´est une gravure, une page d´histoire, parfois un roman d´aventures.
Jacques Dupuet
Marin
pindaro
O efeito romanesco
De terrena condição
Somos divinos, mas de terrena condição. É essa condição que sabemos, mas não conseguimos aprender. Nesta oposição se gera toda a grandeza do homem e a tragédia que o marcou. Os que se fixam num dos termos são deuses iludidos ou animais que não chegaram a homens. Porque o verdadeiro homem é deus por vocação e animal por necessidade.
Vergilio Ferreira
Pindaro
terça-feira, maio 17, 2011
Estude devagar os erros e acertos...
Isto do fácil não há sagrado a que se acolha; Nada defende o que não se defenda, nem pode ser conquistado de nenhum ânimo generoso o que não custa. As dificuldades apetecem por honra, as cousas por vício.
(...)
Nunca será perfeito galã o que servir por destino ou afeição, mas sim o que se prepare com o espírito. Vai muito o eleger pela luz do entendimento ou o seguir pelas trevas da locura. Sempre se há-de buscar a dama mais atilada que sabe buscar ocasiões para que a conheçam e tirá-las ao tolo para que a ignorem. Não actue logo à primeira. Estude devagar os erros e acertos...
D.Francisco de Portugal
Arte de Galanteria
pindaro
Jamais de la vie
Justine apoiada num fuste de uma coluna de Taposiris, a cabeça negra recortando-se contra a obscuridade murmurante da água, uma mecha desfeita pela brisa marinha, dizendo:
Na língua inglesa há uma única expressão que para mim tem significado:Time immemorial.
Lawrence Durrel
pindaro
O todo es un gran juego, Dios mío ?
¿Qué se ama cuando se ama, mi Dios: la luz terrible de la vida
o la luz de la muerte? ¿Qué se busca, qué se halla, qué
es eso: amor? ¿Quien es? ¿La mujer con su hondura,
sus rosas, sus volcanes,
o este sol colorado que es mi sangre furiosa
cuando entro en ella hasta las últimas raíces?
¿O todo es un gran juego, Dios mío, y no hay mujer
ni nombre sino sólo cuerpo: el tuyo,
repartido en estrellas de hermosura, en partículas fugaces
de eternidad visible?
Me muero es esto, oh Dios, en esta guerra
de ir y venir entre ellas por las calles, de no poder amar
trescientas a la vez, porque estoy condenado siempre a una,
a esa una, a esa única que me diste en el vago paraíso.
Gonzalo Rojas
pindaro
O alcance do lance
segunda-feira, maio 16, 2011
Qué dios detrás de Dios la trama empieza?
En su grave rincón, los jugadores
Rigen las lentas piezas. El tablero
Los demora hasta el alba en su severo
Ámbito en que se odian dos colores.
Adentro irradian mágicos rigores
Las formas: torre homérica, ligero
Caballo, armada reina, rey postrero,
Oblicuo alfil y peones agresores.
Cuando los jugadores se hayan ido
Cuando el tiempo los haya consumido,
Ciertamente no habrá cesado el rito.
En el oriente se encendió esta guerra
Cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra,
Como el otro, este juego es infinito.
II
Tenue rey, sesgo alfil, encarnizada
Reina, torre directa y peón ladino
Sobre lo negro y blanco del camino
Buscan y libran su batalla armada.
No saben que la mano señalada
Del jugador gobierna su destino,
No saben que un rigor adamantino
Sujeta su albedrío y su jornada.
También el jugador es prisionero
(La sentencia es de Omar) de otro tablero
De negras noches y de blancos días.
Dios mueve al jugador y éste, la pieza.
¿Qué dios detrás de Dios la trama empieza
De polvo y tiempo y sueño y agonía?
Jorge Luis Borges
pindaro
Assombrado e apreensivo
É vão acreditar-se- escreveu ela - que o amor possa advir de uma comunhão de espíritos, de pensamentos; é a explosão simultânea de dois espíritos empenhados no acto independente de se expandirem. E a sensação é a de que alguma coisa explodiu dentro deles, silenciosamente. Em torno deste acontecimento, assombrado e apreensivo, o apaixonado ou a apaixonada continua a viver examinando a sua propria experiência; apenas a gratidão cria nela a ilusão de que comunica com o seu amigo, mas é falso, porquanto ele nada lhe deu. O objecto amado é, simplesmente, aquele que viveu uma experiência igual no mesmo instante, como um Narciso; e o desejo de estar junto do objecto amado é devido, em primeiro lugar, não à ideia de possuí-lo, mas, simplesmente, de permitir a comparação entre as duas experiências, como a mesma imagem vista em espelhos diferentes. Tudo isto pode preceder o primeiro olhar, o primeiro beijo, o primeiro contacto; preceder a ambição, o orgulho e a cobiça; preceder as primeiras declarações que assinalam o ponto de viragem - pois a partir daqui o amor degenera em hábito, em posse e ... em solidão.
Lawrence Durrel
Justine
pindaro
Sin saberlo
El mundo de la perfección.
El mundo de la literatura, el mundo del arte, es el mundo de la perfección.
Es el mundo donde la belleza, que es lo que en última instancia le da su independencia, su verdad, su autenticidad, nos enfrenta a la acabado, a lo absolutamente abarcable con el conocimiento, con la conciencia además con una visón esférica que jamás llegamos a tener. Entonces, cuando nosotros regresamos de una gran novela, de ese mundo de ilusión, de ese espejismo, deslumbrante que es el de una ficción lograda que se nos impone como una verdad irresistible a este mundo nuestro, cuál es la reacción natural? El cotejo es inevitable. Y la conclusión de ese cotejo es el de que pequeño es este mundo comparado con ese mundo tan grande, tan rico del que acabamos de salir. Y que feo, mediocre y sórdido es este mundo comparado con ese mundo donde todo aprecia tan bello, incluso las peores aspectos de la condición humana, las manifestaciones más sombrías, tétricas, crueles de lo que es el hombre tenia un encanto que el escritor, el creador había conseguido impregnarle, que a nosotros nos lo hacia aceptable, incluso emocionante y por lo tanto bello.
Mario Vargas Llosa
pindaro
domingo, maio 15, 2011
sábado, maio 14, 2011
sexta-feira, maio 13, 2011
quinta-feira, maio 12, 2011
Tu ausencia me rodea
Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales
a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde.
Jorge Luis Borges
pindaro
Como eu sei que tem que ser
L'infini
quarta-feira, maio 11, 2011
Confession
terça-feira, maio 10, 2011
No me fío de la rosa
segunda-feira, maio 09, 2011
Le Temps
Cosa mentale
domingo, maio 08, 2011
Friável diamante
Se o ciúme nasce do intenso amor, quem não sente ciúmes pela amada não é amante, ou ama de coração ligeiro, de modo que se sabe de amantes os quais, temendo que o seu amor se atenue, o alimentam procurando a todo o custo razões de ciúme.
Portanto o ciumento (que porém quer ou queria a amada casta e fiel) não quer nem pode pensá-la senão como digna de ciúme, e portanto culpada de traição, atiçando assim no sofrimento presente o prazer do amor ausente. Até porque pensar em nós que possuímos a amada longe - bem sabendo que não é verdade - não nos pode tornar tão vico o pensamento dela, do seu calor, dos seus rubores, do seu perfume, como o pensar que desses mesmos dons esteja afinal a gozar um Outro: enquanto da nossa ausência estamos seguros, da presença daquele inimigo estamos, se não certos, pelo menos não necessariamente inseguros.
O contacto amoroso, que o ciumento imagina, é o único modo em que pode representar-se com verosimilhança um conúbio de outrem que, se não indubitável, é pelo menos possível, enquanto o seu próprio é impossível.
Assim o ciumento não é capaz, nem tem vontade, de imaginar o oposto do que teme, aliás só pode obter o prazer ampliando a sua própria dor, e sofrer pelo ampliado prazer de que se sabe excluído. Os prazeres do amor são males que se fazem desejar, onde coincidem a doçura e o martírio, e o amor é involuntária insânia, paraíso infernal e inferno celeste - em resumo, concórdia de ambicionados contrários, riso doloroso e friável diamante.
Umberto Eco
pindaro
sábado, maio 07, 2011
Le présent d'un passé
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