sexta-feira, setembro 30, 2011
Nadaria mais rios
Se eu pudesse novamente viver a vida...
Na próxima...trataria de cometer mais erros...
Jorge Luis Borges
pindaro
Trouxeste a frase que nunca antes leras
E 'l naufragar m'è dolce in questo mare
Sempre caro mi fu quest'ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
De l'ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quïete
Io nel pensier mi fingo, ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e 'l suon di lei. Così tra questa
Immensità s'annega il pensier mio:
E 'l naufragar m'è dolce in questo mare.
Giacomo Leopardi
pindaro
À flor da vaga
Nas róseas ondas quando o amanhecer
Carmina a areia, entre rochas altas
Banham-se as belas. Vem amigo ver,
Flutuar meu cabelo à flor das águas.
Ó vem,sedento ! Amigo,vem beber
A água que do cabelo me escorrer.
No mar que à areia nácar vem render,
Entre altas rochas, raiando a madrugada,
Banham-se as belas. Vem amigo ver
Meus ombros flutuar à flor da vaga.
ó vem sedento!Amigo,vem beber
A água que dos ombros me escorrer.
Na vaga que de brilho a areia asperge
Entre altas rochas, quando a manhã desponta
Banham-se as belas. Vem amigo ver
Meu seio flutuar à flor da onda.
Ó vem, sedento!Amigo,vem beber
A água que do seio me escorrer.
Natália Correia
pindaro
quinta-feira, setembro 29, 2011
Uma paisagem desconhecida
Não há rosto que não envolva uma paisagem desconhecida, inexplorada, não há paisagem que não seja povoada por um rosto amado ou sonhado, que não desenvolva um rosto por vir ou já passado. Que rosto não chamou as paisagens que amalgamava, o mar e a montanha, que paisagem não evocou o rosto que a teria completado, que lhe teria fornecido o complemento inesperado das suas linhas e dos seus traços?
Gilles Deleuze
pindaro
quarta-feira, setembro 28, 2011
terça-feira, setembro 27, 2011
The contact of two chemical substances
segunda-feira, setembro 26, 2011
Preferências de origem magnética
domingo, setembro 25, 2011
sábado, setembro 24, 2011
sexta-feira, setembro 23, 2011
Ela atravessa todos os mistérios
Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora.
Fernando Pessoa
pindaro
Quase a espiritualizar-se
Na sombra cúmplice do quarto,
Ao contacto das minhas mãos lentas
A substância da tua carne
Era a mesma que a do silêncio.
Do silêncio musical, cheio
De sentido místico e grave,
Ferindo a alma de um enleio
Mortalmente agudo e suave.
Ah, tão suave e tão agudo!
Parecia que a morte vinha…
Era o silêncio que diz tudo
O que a intuição mal advinha.
É o silêncio da tua carne.
da tua carne de âmbar, nua,
Quase a espiritualizar-se
Na aspiração de mais ternura.
Manuel Bandeira
Pindaro
quinta-feira, setembro 22, 2011
quarta-feira, setembro 21, 2011
Quero as sardas de Adalgisa
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.
Manuel Bandeira
pindaro
A arte de perder
A arte de perder não é nenhum mistério,
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério
(...)
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios e mais um continente.
Tenho saudades deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
Elizabeth Bishop
pindaro
Basta que a alma dêmos
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança
naquilo que talvez não teremos.
Basta que a alma dêmos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos
Sebastião da Gama
pindaro
terça-feira, setembro 20, 2011
La libre alegría del presente
Qué tristeza este pasar
el caudal de cada día
(vueltas arriba y abajo!),
por el puente de la noche
(vueltas abajo y arriba!),
al otro sol!
Quién supiera
dejar el manto, contento,
en las manos del pasado;
no mirar más lo que fue;
entrar de frente y gustoso,
todo desnudo, en la libre
alegría del presente!
Juan Ramón Jiménez
pindaro
Un prétexte pour revenir
segunda-feira, setembro 19, 2011
Sem poetizar seu poema
Mas eu vi Manuel Rodriguez
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo
mais mineral e desperto,
(...)
o que à tragédia deu número,
à vertigem geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,
sim, eu vi Manuel Rodriguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:
como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida.
E como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor
sem poetizar seu poema.
João Cabral de Mello Neto
pindaro
domingo, setembro 18, 2011
sábado, setembro 17, 2011
O acto poético soberano
sexta-feira, setembro 16, 2011
Os ritmos soltos dos ventos
Neste dia de mar e nevoeiro
É tão próximo o teu rosto
São os longos horizontes
Os ritmos soltos dos ventos
E aquelas aves
Que desde o princípio das estações
Fizeram ninhos e emigraram
Para que num dia inverso tu as visses
Aquelas aves que tinham
uma memória eterna do teu rosto
E voam sempre dentro do teu sonho
Como se o teu olhar as sustentasse
Sophia de Mello Breyner Andresen
pindaro
Le silence
A ponta seca do único beijo
quinta-feira, setembro 15, 2011
Omnia legentes, quae bona sunt tenentes
A humildade é o princípio do aprendizado, e sobre ela, muita coisa tendo sido escrita, as três seguintes, de modo principal, dizem respeito ao estudante.
A primeira é que não tenha como vil nenhuma ciência e nenhuma escritura.
A segunda é que não se envergonhe de aprender de ninguém.
A terceira é que, quando tiver alcançado a ciência, não despreze aos demais.
Muitos se enganaram por quererem parecer sábios antes do tempo, pois com isto envergonharam-se de aprender dos demais o que ignoravam.
Tu, porém meu filho, aprende de todos de boa vontade aquilo que desconheces.
Serás mais sábio do que todos, se quiseres aprender de todos.
Nenhuma ciência, portanto, tenhas como vil, porque toda ciência é boa. Nenhuma Escritura, ou pelo menos, nenhuma Lei desprezes, se estiver à disposição.
Se nada lucrares, também nada terás perdido.
Diz, de facto, o Apóstolo: “Omnia legentes, quae bona sunt tenentes”
O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio aos cuidados do mundo e às tentações dos prazeres, e solícito em aprender de boa vontade de todos.
Nunca presuma de sua ciência; não queira parecer douto, mas sê-lo; busque os ditos dos sábios, e procure ardentemente ter sempre os seus vultos diante dos olhos da mente, como um espelho.
Hugo de São Vítor
pindaro
quarta-feira, setembro 14, 2011
Os farpões de Amor insano
terça-feira, setembro 13, 2011
segunda-feira, setembro 12, 2011
domingo, setembro 11, 2011
sábado, setembro 10, 2011
És um verso perfeito
Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.
És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.
És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga
pindaro
sexta-feira, setembro 09, 2011
O movimento pendular do tempo
quinta-feira, setembro 08, 2011
quarta-feira, setembro 07, 2011
Los umbrosos centros más subterráneos de mi ser
A tientas el amor, a ciegas en lo oscuro
tal vez entre las ramas, madura, alguna estrella,
vuelvo a sentirlo, vuelvo,
mojado de la escarcha caliente de la noche,
contra el hoyo de mentas tronchadas y tomillos.
Es él, único, sólo, lo mismo que mi mano
la piel desparramada de mi cuerpo, la sombra
de mi recién salido corazón, los umbrosos
centros más subterráneos de mi ser lo querían.
Vuelve único, vuelve
como forma tocada nada más, como llena
palpitación tendida cubierta de cabellos,
como sangre enredada en mi sangre, un latido
dentro de otro latido solamente.
Más las palabras, ¿dónde?
Las palabras no llegan. No tuvieron espacio
en aquel agostado nocturno, no tuvieron
ese mínimo aire que media entre dos bocas
antes de reducirse a un clavel silencioso.
Pero un aroma oculto se desliza , resbala,
me quema un desvelado olor a oscura orilla.
Alguien está prendiendo por la yerba un murmullo.
Es que siempre en la noche del amor pasa un río
Rafael Alberti
pindaro
Days are where we live
terça-feira, setembro 06, 2011
Para apanhar de surpresa o crente desprevenido
segunda-feira, setembro 05, 2011
Todas as substâncias morais
domingo, setembro 04, 2011
sábado, setembro 03, 2011
Entre a efemeridade e o eterno
sexta-feira, setembro 02, 2011
Venenos de Deus remédios do Diabo
quinta-feira, setembro 01, 2011
Por lonjuras e aventuras
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