quinta-feira, outubro 06, 2005
Fogo fixo na cúpula
Em plena jornada de pensamento, com vista ao sufrágio, nada virá tão a pêlo como deitar mão de um plano geral de alumiamento e balizagem.
E, do mesmo passo, recordar que em 1589, alguns meses após a derrota da “invencível armada”, o corsário e almirante inglês Sir Francis Drake fez-se ao mar a partir de Plymouth rumo à Península Ibérica.
O que aquilo tem a ver com isto ver-se-á.
Em reflexão, não se perca de vista que a poesia corresponde à música, pois aquela assenta nos ritmos, esta nos sons, e ambas na harmonia. Assim vá de se dar sequiosamente a uma e a outra, como quem, de tão ávido, parece querer matar uma sede de séculos.
Ajuda muito, porque apazigua e, conciliados os génios, vê-se mais claro.
Um pouco como o vinho, segundo nos conta uma antiga cançoneta italiana bem envelhecida:
“Chi ha la rabbia al cuore
si metta al tavolino
con un bichier di vino
la rabbia passerá.”
Rolando a mareagem, começa a atingir-se a afinidade do isto e do aquilo:
É que ver mais claro, no fundo o que importa, ganha muito boa achega com
luz de porto fixa com clarões.
Mormente em estado de atmosfera brumosa.
Aqui reentra o corsário.
Surpreende Peniche, em Maio, numa manhã de sexta-feira.
Reza a história que o jovem Conde de Essex arriscou afogar-se na praia de Nossa Senhora da Consolação para ser o primeiro a tocar terra.
Dias depois desembarca Sir Francis em Cascais, após o que, para o tudo ou nada, vai-se à entrada do Tejo a duelo com D. Alonso de Bazán, que era irmão do primeiro Marquês de Santa Cruz.
A empresa, como se sabe, falhou com um fragor extraordinário.
Ao tornar desordenado à sua terra e às iras da rainha, o soberbo corsário levou, de volta, um passageiro que com ele fora de viagem: D. António Prior do Crato.
Com música, poesia e luzes de porto, fica boa a reflexão.
E nos copos, com o Sir Francis Drake, o Conde de Essex, o D. Alonso de Bazán e o D. António Prior do Crato, fica ainda melhor.
D. Julio
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