segunda-feira, abril 30, 2007

Viajante








Lançamos o barco.
Sonhamos a viagem;
quem viaja é sempre o mar.


Mia Couto



pindaro

About a secret





A photograph is a secret about a secret.
The more it tells you
The less
you know.


Diane Arbus



pindaro

Flor de melancolia







Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!


Vinicius de Moraes

pindaro

Beija eu


Seja eu,
Seja eu,
Deixa que eu seja eu.
E aceita
o que seja seu.
Então deira e aceita eu.

Molha eu,
Seca eu,
Deixa que eu seja o céu.
E receba
o que seja seu.
Anoiteça e amanheça eu.

Beija eu,
Beija eu,
Beija eu, me beija.
Deixa
o que seja ser.
Então beba e receba
Meu corpo no seu corpo,
Eu no meu corpo.
Deixa,
Eu me deixo.
Anoiteça e amanheça

Marisa Monte



pindaro

Une harmonie intime








Elle rafraîchit notre imagination parce qu'elle ne fait pas penser à la vie des hommes, mais elle réjouit notre âme, parce qu'elle est, comme elle, aspiration infinie et impuissante, élan sans cesse brisé de chutes, plainte éternelle et douce. Elle nous enchante ainsi comme la musique, qui ne porte pas comme le langage la trace des choses, qui ne nous dit rien des hommes, mais qui imite les mouvements de notre âme. Notre coeur en s'élançant avec leurs vagues, en retombant avec elles, oublie ainsi ses propres défaillances, et se console dans une harmonie intime entre sa tristesse et celle de la mer, qui confond sa destinée et celle des choses.

Marcel Proust


pindaro

Para aprenderle








Para saber de amor, para aprenderle,
haber estado solo es necesario...


Jaime Gil de Biedma




pindaro

Quadrilha





João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade



pindaro

Nusquama (nenhures)


"Navegavam sem o mapa que faziam"
sophia de melo breyner




O deslumbramento e a nostalgia da errância vão discorrendo por entre as emboscadas das horas.

É voltar a soltar amarras, é voltar a peregrinar o sul dos encantos, que só o incessante rumor da distância nos redime.



Leonardo

Como no mar






Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...

Vinicius de Moraes



pindaro

Histórias de água salgada








Les plus belles histoires commencent toujours par des naufrages.
Jack London



pindaro

Du dedans et du dehors









Passage de l'intangible au tangible, l'équinoxe de printemps célèbre partout la naissance et la vie qui se déploie. C'est le temps de l'innocence, de l'éveil aux choses du dedans et du dehors. C'est le pouvoir de l'Est.
Laurence E. Fritsch


pindaro

O tempo e o modo




Quando vemos uma sombra é porque há uma luz. A sombra é mistério, a luz claridade. A sombra encobre, a luz descobre. Saber o que se deve encobrir e o que se deve descobrir e o tempo e o modo de o fazer - isso é a arte.

Sternberg



pindaro

Inexorable





Le printemps est inexorable.
Pablo Neruda



pindaro

Por dentro do silêncio



La musique commence là où s'arrête le pouvoir des mots.
Richard Wagner


pindaro

domingo, abril 29, 2007

Sonhos para usar








Vai-te ao longo da costa discorrendo
E outra terra acharás de mais verdade

Luís de Camões



pindaro

Constelação de bruma









Iremos juntos separados,
as palavras mordidas uma a uma,
taciturnas, cintilantes
- ó meu amor, constelação de bruma,
ombro dos meus braços hesitantes.

Eugénio de Andrade


pindaro

sábado, abril 28, 2007

Ausência





Todo o devir é apenas ausência gradualmente superada
Edmond Jabés


pindaro

Dois tempos






Para um apaixonado existem sempre dois tempos: aquele que concede a si próprio e aquele que tem que ganhar.

Bodo Kirchhoff

pindaro

As suas jóias sonoras



A muito amada estava nua, e conhecendo-me o coração,

conservava apenas as suas jóias sonoras...



(Inscrição num vaso grego de tema obsceno,

citado por Marguerite Yourcenar)


pindaro

Posse verdadeira





Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e, sendo a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não prendê-lo.
Marguerite Yourcenar


pindaro

No domínio do sensual






... verdade que se verifica sobretudo no domínio do sensual, onde, mais do que em qualquer outro, o ser humano parece ter a faculdade de respirar à vontade numa zona semelhante à das grandes profundidades, bem abaixo da superfície mutável das ideias, das opiniões, dos preconceitos, bem abaixo mesmo da camada onde a palavra ou a consciência se exprime.

Marguerite Yourcenar

pindaro

Na noite dos tempos





Tudo o que vejo parece-me um reflexo, tudo o que ouço, um eco distante, e a minha alma procura a fonte maravilhosa, pois tem sede de água pura.
Passam os séculos, e gasta-se o mundo, mas a minha alma permanece jovem; vigia entre as estrelas, na noite dos tempos.
Jeanne de Vietinghoff


pindaro

Quando é que eu embarco?







Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Fernando Pessoa



pindaro

Pela barra fora

Partimos pela barra fora

meu amor achei-o estranho

mais tarde por lá ficou

onde foi que importa agora

tive um barco e nada tenho

e o meu amor não voltou

Manuel de Andrade

pindaro

sexta-feira, abril 27, 2007

The final frame




And now the final frame,
Love is a losing game

Amy Winehouse

pindaro

quinta-feira, abril 26, 2007

Cacho de curvas







Ó grande plenitude!

E a tudo
a tudo alheio,
saboreio.

Absorto
sorvo
este cacho de uvas
tão maduras...

Este cacho de curvas que é o teu corpo.



David Mourão-Ferreira




pindaro

Diz-me o teu nome


Meu amor diz-me o teu nome
- Nome que desaprendi...
Diz-me apenas o teu nome.
Nada mais quero de ti.
Diz-me apenas se em teus olhos
Minhas lágrimas não vi,
Se era noite nos teus olhos,
Só porque passei por ti!
Depois, calaram-se os versos
- Versos que desaprendi...
E nasceram outros versos
Que me afastaram de ti.
Meu amor, diz-me o teu nome.
Alumia o meu ouvido.
Diz-me apenas o teu nome,
Antes que eu rasgue estes versos,
Como quem rasga um vestido!


Pedro Homem de Mello



pindaro

No golfo de Corinto






Uma manhã no golfo de Corinto,
comemos grandes cachos moscatel.
O mar, de leite e azul, tinha veios de absinto;
e o teu corpo, ao sol, como um sabor a mel.
Enlaçámo-nos nus entre loureiros-rosas
róseos e brancos, alternando, até à praia.
- Não tornam mais a vir as horas dolorosas
sumiram-se ao cair sútil da tua saia.

E boca contra boca, a sorver bagos de âmbar,
bem brunidos de sol, e sempre a arder em sede,
assim ficámos nós até que veio a tarde
deitar-nos devagar sua mística rede.

Mostraste-me a sorrir, no golfo, uma medusa
«Queria viver assim», disseste, «a vida toda»
Tinhamos vinho com resina numa infusa,
e bebemo-lo os dois para acabar a boda.

Fomos nadar depois a água era tão densa,
que nos trazia mornamente, ao colo,
num puro flutuar, beatitude imensa,
entre reflexos, a arrolar, de rolo em rolo...

A noite veio enfim: estendidos na areia,
pusemo-nos então a entristecer calados.
Como dois mármores um tritão e uma sereia
que o golfo adormecia em soluços velados.


Antonio Patricio



pindaro

Fe mía


No me fío de la rosa
de papel,
tantas veces que la hice
yo con mis manos.
Ni me fío de la otra
rosa verdadera,
hija del sol y sazón,
la prometida del viento.
De ti que nunca te hice,
de ti que nunca te hicieron,
de ti me fío, redondo
seguro azar.

Pedro Salinas




Pindaro

quarta-feira, abril 25, 2007

Baile de máscaras em Janeiro de 2005





Era por Janeiro e o sol-e-dó de Chopin.

Lucinda, usando a écharpe branca como gaivota de arremesso, acostava ao mascarado à Citizen Kane, que com o sorriso largo de velho salteador, entre fumos e babiolages perversas, ia repetindo: Foster, my name is Charles Foster e inquieta-me a concentração. Muito.

Lucinda, arrolando o Kane na secção “patine nostálgica”, dardejaou então o olho verde água para uma peça mais aciganada, o mascarado à Carlos Saúl Menem AKil que, cosidinho de cicatrizes, se esgueirava para uma zona parda do salão.

Vem a pêlo contar, a ponto largo, que esta máscara era de recurso, pois que o mascarado o que queria mesmo era ter vindo à Pierre Elliot Trudeau. Só que os cabedais a tanto não deram e ataviou-se conforme pôde. E, depois, o Menem sempre fora Presidente um ror de anos, curtido nos avatares do peronismo, acabando enredado nuns contrabandos de armas para a Croácia e para o Equador, o que dava um certo toque.

Aliás, tal como a máscara, o mascarado parecia compor uma “personalidad arroladora, pródiga en gestos optimistas y componedores”, o que, mais não seja, ajuda muito à festa.

Lucinda fez uma momice de amuo.

É que, tapando-lhe o Menem, passou na enfiação um mascarado muito travesso. E o pior é que, corvejando, não saía de lá. Da enfiação.

Vinha disfarçado de Carlos Lobo d´Ávila e, como ele, era mexilhão e bulhento.
Gostava de luzes.

Lucinda, desarranjada a perspectiva, deitou o olho verde água à mesa redonda e animou a orelhinha no mesmo sentido.

Dizia o mascarado à Conde de Monte Cristo, sem trair a procedência do extremo sul: Isto não passa de um baile de vultos e fantasmas. Baile a sério, dos que soía, dou eu daqui a um ano. Vou pôr a conversa em rima.

Devastadora de pálpebras, a mascarada à Dorothy Parker, batida de cavaqueiras at the Algonquim Round Table, devolveu-lhe:

Meu caro, eu por mim gosto é de bailes como o do Conde de Orgel, que, como dizia o Radiguet, o nosso Raymond, tinha “romance de amor casto, mas tão escabroso quanto o romance menos casto”.

Monte Cristo, misterioso e predador, redarguiu: Senhora, pois eu, do Raymond, o que lhe digo é que “as manobras inconscientes de uma alma pura são ainda mais singulares que as combinações do vício.”

Do outro lado da mesa, o arreado à Torquemada, mas com óculos grandes, murmurou de si para si: Este gajo é fino como um coral…

Lucinda, ao debuxar a charpente de cada uma das figuras, pensou com os seus enfeites: Gente catita!

E foi-se a ares, ao terraço, onde, ensinara-lhe uma tia de Alfândega da Fé, chamada Agustina, sempre crocitam corvos de voo menos potente.


Solino

Espelho de água






Não me despertes se durmo e, se estou acordado, não me adormeças.
Calderon de la Barca



pindaro

terça-feira, abril 24, 2007

A começar pelo corpo e a acabar pela alma







De cinta era fina, e no andar, um tudo-nada flexuoso, punha um dengue tão involuntário que se quedava em requebro natural, promissor de temperamento. Pertencia em suma à classe de mulheres que, a começar pelo corpo e a acabar pela alma, se tornam amantes perfeitas. Lianças com elas jamais se rompem. Quem as ama, ama-as até à morte. Quando desaparecem, deixam inextinguível braseiro. É que deram com a sua carne a beber o filtro que não perdoa, onde se concentraram meiguice e enliçamento animal, princípios sumos da voluptuosidade criadora.

Aquilino Ribeiro



pindaro

Only for a short time





I never had you nor, I suppose,
will I ever have you. A few words, an approach,
as in the bar yesterday - nothing more.
It's sad, I admit. But we who serve Art,
sometimes with the mind's intensity
can create pleasure that seems almost physical -
but of course only for a short time.

C.P. Cavafy




pindaro

How long?






You tell yourself: I'll be gone
To some other land, some other sea,
To a city lovelier far than this
Could ever have been or hoped to be -
Where every step now tightens the noose:
A heart in a body buried and out of use:
How long, how long must I be here
Confined among these dreary purlieus
Of the common mind?


C.P. Cavafy





pindaro

segunda-feira, abril 23, 2007

O Portugal futuro





O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do as falto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro


Ruy Belo




pindaro

O mais secreto bailar


Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.


Sophia Mello Breyner


pindaro

Quelque chose









Il y a quelque chose d'odieux dans la beauté dès qu'elle prend conscience d'elle-même, dès qu'elle devient sensuelle.
Anne-Sophie Brasme



pindaro

Secrète étreinte





La voix de la mer parle à l'âme. Le contact de la mer est sensuel, et enlace le corps dans une douce et secrète étreinte.
Kate Chopin




pindaro

O portal da matriz








E se dos homens és a enseada,
- a doce baía de águas calmas -
dos vindouros és o portal da matriz.

Orvalhada, latejas quando ceada,
e a tora toda em ti amálgamas
e toda te nutres do que em ti delis.



Luía Eusébio




pindaro

Muerto cayó Federico



Muerto cayó Federico.
Antonio Machado





Uma certa madrugada
Eu por um caminho andava
Não sei bem se estava bêbado
Ou se tinha a morte n'alma
Não sei também se o caminho
Me perdia ou encaminhava
Só sei que a sede queimava-me
A boca desidratada.
Era uma terra estrangeira
Que me recordava algo
Com sua argila cor de sangue
E seu ar desesperado.
Lembro que havia uma estrela
Morrendo no céu vazio
De uma outra coisa me lembro:
... Un horizonte de perros
Ladra muy lejos del río...

De repente reconheço:
Eram campos de Granada!
Estava em terras de Espanha
Em sua terra ensangüentada
Por que estranha providência
Não sei... não sabia nada...
Só sei da nuvem de pó
Caminhando sobre a estrada
E um duro passo de marcha
Que em meu sentido avançava.

Como uma mancha de sangue
Abria-se a madrugada
Enquanto a estrela morria
Numa tremura de lágrima
Sobre as colinas vermelhas
Os galhos também choravam
Aumentando a fria angústia
Que de mim transverberava.

Era um grupo de soldados
Que pela estrada marchava
Trazendo fuzis ao ombro
E impiedade na cara
Entre eles andava um moço
De face morena e cálida
Cabelos soltos ao vento
Camisa desabotoada.
Diante de um velho muro
O tenente gritou: Alto!
E à frente conduz o moço
De fisionomia pálida.
Sem ser visto me aproximo
Daquela cena macabra
Ao tempo em que o pelotão
Se dispunha horizontal.

Súbito um raio de sol
Ao moço ilumina a face
E eu à boca levo as mãos
Para evitar que gritasse.
Era ele, era Federico
O poeta meu muito amado
A um muro de pedra seca
Colado, como um fantasma.
Chamei-o: Garcia Lorca!
Mas já não ouvia nada
O horror da morte imatura
Sobre a expressão estampada...
Mas que me via, me via
Porque em seus olhos havia
Uma luz mal-disfarçada.
Com o peito de dor rompido
Me quedei, paralisado
Enquanto os soldados miram
A cabeça delicada.

Assim vi a Federico
Entre dois canos de arma
A fitar-me estranhamente
Como querendo falar-me.
Hoje sei que teve medo
Diante do inesperado
E foi maior seu martírio
Do que a tortura da carne.
Hoje sei que teve medo
Mas sei que não foi covarde
Pela curiosa maneira
Com que de longe me olhava
Como quem me diz: a morte
É sempre desagradável
Mas antes morrer ciente
Do que viver enganado.

Atiraram-lhe na cara
Os vendilhões de sua pátria
Nos seus olhos andaluzes
Em sua boca de palavras.
Muerto cayó Federico
Sobre a terra de Granada
La tierra del inocente
No la tierra del culpable.
Nos olhos que tinha abertos
Numa infinita mirada
Em meio a flores de sangue
A expressão se conservava
Como a segredar-me: – A morte
É simples, de madrugada...

Vinicius de Moraes



pindaro

E continuas

















Ó solidão! À noite, quando, estranho,
Vagueio sem destino, pelas ruas,
O mar todo é de pedra... E continuas.
Todo o vento é poeira... E continuas.
A lua, fria, pesa... E continuas.
Uma hora passa e outra... E continuas.
Nas minhas mãos vazias continuas,
No meu sexo indomável continuas,
Na minha branca insónia continuas,
Paro como quem foge. E continuas.
Chamo por toda a gente. E continuas.
Ninguém me ouve. Ninguém! E continuas.
Invento um verso... E rasgo o. E continuas.
Eterna, continuas...
Mas sei por fim que sou do teu tamanho!


Pedro Homem de Mello





Pindaro

Punhal de vento











Cedros, abetos,
pinheiros novos.
O que há no tecto
do céu deserto,
além do grito?
Tudo que é nosso.

São os teus olhos
desmesurados,
lagos enormes,
mas concentrados
nos meus sentidos.
Tudo o que é nosso
é excessivo.

E a minha boca,
de tão rasgada,
corre-te o corpo
de pólo a pólo,
desfaz te o colo
de espádua a espádua,
são os teus olhos,
depois o grito.

Cedros, abetos,
pinheiros novos.
É o regresso.
É no silêncio
de outro extremo
desta cidade
a tua casa.
É no teu quarto
de novo o grito.

E mais nocturna
do que nunca
a envergadura
das nossas asas.
Punhal de vento,
rosa de espuma:
morre o desejo,
nasce a ternura.
Mas que silêncio
na tua casa.


David Mourão-Ferreira




PINDARO

domingo, abril 22, 2007

Le droit à l´intériorité



La seule chose sur laquelle il ne faut jamais transiger ou reculer : le droit à l'intériorité... Ecoutez couler le temps.
Olivier Revault d'Allonnes


pindaro

sábado, abril 21, 2007

L´essentiel





Magie du théâtre ! Qu'importe la salle, la scène et ce qui va se passer sur scène. L'essentiel c'est que quelque chose va se passer.
Andreï Makine



pindaro

sexta-feira, abril 20, 2007

No intervalo do som







Musique. Art du silence.
Jean Ethier-Blais



pindaro

quinta-feira, abril 19, 2007

Too well






I think the main reason my marriages failed is that I always loved too well but never wisely.
Ava Gardner


Pindaro

Feito ao mar










Tive um barco e dei-lhe um nome
Dei-lhe um nome feito ao vento
dei-lhe um nome feito ao mar
Tive um amor e deixou-me
Ficou no meu pensamento
Mas não mais o vi voltar

Manuel Andrade


pindaro

Where we live






What are days for?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days?

Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.


Philip Larkin


Pindaro

O espaço e o tempo



O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração.

Marcel Proust

Oindaro

La belle



Plus je sais bien tromper, et plus je suis fidèle. Plus je suis infidèle et plus on me chérit.
Paul Pellisson-Fontanier


pindaro