quinta-feira, abril 26, 2007

No golfo de Corinto






Uma manhã no golfo de Corinto,
comemos grandes cachos moscatel.
O mar, de leite e azul, tinha veios de absinto;
e o teu corpo, ao sol, como um sabor a mel.
Enlaçámo-nos nus entre loureiros-rosas
róseos e brancos, alternando, até à praia.
- Não tornam mais a vir as horas dolorosas
sumiram-se ao cair sútil da tua saia.

E boca contra boca, a sorver bagos de âmbar,
bem brunidos de sol, e sempre a arder em sede,
assim ficámos nós até que veio a tarde
deitar-nos devagar sua mística rede.

Mostraste-me a sorrir, no golfo, uma medusa
«Queria viver assim», disseste, «a vida toda»
Tinhamos vinho com resina numa infusa,
e bebemo-lo os dois para acabar a boda.

Fomos nadar depois a água era tão densa,
que nos trazia mornamente, ao colo,
num puro flutuar, beatitude imensa,
entre reflexos, a arrolar, de rolo em rolo...

A noite veio enfim: estendidos na areia,
pusemo-nos então a entristecer calados.
Como dois mármores um tritão e uma sereia
que o golfo adormecia em soluços velados.


Antonio Patricio



pindaro

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