sexta-feira, outubro 02, 2009

As roucas sílabas da posse

























Que o fosso da memória se transponha,
que seja a solidão atravessada!
Da cálida crissálida renasça
de novo para o corpo o corpo todo!

Venham as roucas sílabas da posse
no búzio dos ouvidos enroladas!
Sobre a teia das veias impalpáveis,
reconstrua-se a cúpula dos olhos!

Que tudo agora súbito se emprenhe
da realidade que a lembrança apenas
em folha de álbum, ressequida, guarda!

Que eu vá de novo decorar-te a seiva,
como um poema líquido que seja
urgente recitar na eternidade!

David Mourão-Ferreira

pindaro

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