quinta-feira, junho 30, 2011
Aquele mover de olhos excelente
Aquele mover de olhos excelente,
aquele vivo espírito inflamado
do cristalino rosto transparente;
aquele gesto imoto e repousado,
que, estando na alma propriamente escrito,
não pode ser em verso trasladado;
aquele parecer, que é infinito
para se compreender de engenho humano,
o qual ofendo enquanto tenho dito,
me inflama o coração dum doce engano.
me enleva e engrandece a fantasia,
que não vi maior glória que meu dano.
Oh, bem-aventurado seja o dia
em que tomei tão doce pensamento,
que de todos os outros me desvia!
E bem-aventurado o sofrimento
que soube ser capaz de tanta pena,
vendo que o foi da causa o entendimento!
Luís de Camões
pindaro
Do sentido próprio ao figurado
Trouxeste a frase
E reforçaram o seu poder abismal
Que toda la vida es sueño
Against the wind
quarta-feira, junho 29, 2011
terça-feira, junho 28, 2011
O Minotauro compreender-me-á
O Minotauro compreender-me-á.
Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida.
É metade boi e metade homem, como todos os homens.
Violava e devorava virgens, como todas as bestas.
Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine,
que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da "langue".
Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou.]
Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta,
riu-lhe no focinho respeitável.
O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto
o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras,
cheias de ninfas e de efebos desempregados,
se cerrarão dulcíssimas nas chávenas,
como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo
de investigar as origens da vida.
Jorge de Sena
Pindaro
Com o que restava
segunda-feira, junho 27, 2011
A linha do horizonte é um fio de asas
O amor fino
domingo, junho 26, 2011
Ce jazz qui d'jazze dans le noir
...Des cheveux qui tombent comme le soir
Et d'la musique en bas des reins
Ce jazz qui d'jazze dans le noir
Et ce mal qui nous fait du bien
C'est extra
Ces mains qui jouent de l'arc-en-ciel
Sur la guitare de la vie
Et puis ces cris qui montent au ciel
Comme une cigarette qui brille
C'est extra c'est extra...
Léo Ferré
pindaro
I felt very perverse
sábado, junho 25, 2011
Nunca o Verão se demorara assim
sexta-feira, junho 24, 2011
Passa-se tudo em seguir-me
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
Almada Negreiros
pindaro
Aspectos elementares
Um jogo de claro-escuro
Creio que o belo não é uma substância em si, mas apenas um desenho de sombras, um jogo de claro-escuro produzido pela justaposição de diversas substâncias. Tal como uma pedra fosforescente que emite brilho quando colocada na escuridão e ao ser exposta á luz do dia perde todo o fascínio de jóia preciosa, também o belo perde a sua existência se lhe suprimimos os efeitos da sombra.
Junichiro Tanizaki
pindaro
Il y a une énigme et un secret.
quinta-feira, junho 23, 2011
Magia
Sans laisser de cendres
quarta-feira, junho 22, 2011
terça-feira, junho 21, 2011
Bosques de cosas vistas y no vistas
segunda-feira, junho 20, 2011
Remaining a perpetual possibility
Time present and time past
Are both perhaps present in time future,
And time future contained in time past.
If all time is eternally present
All time is unredeemable.
What might have been is an abstraction
Remaining a perpetual possibility
Only in a world of speculation.
What might have been and what has been
Point to one end, which is always present.
Footfalls echo in the memory
Down the passage which we did not take
Towards the door we never opened
Into the rose-garden. My words echo
Thus, in your mind.
But to what purpose
Disturbing the dust on a bowl of rose-leaves
I do not know.
(...)
T.S. Eliot
pindaro
domingo, junho 19, 2011
Uma cidade de navegar
(…) para mim, panorâmicas e vistas gerais são quase sempre frases feitas ou cenários de catálogo. Claro que ver-te daqui,(...), é deslumbrante, não digo que não. Mas há a distância, e a distância inventa cidades, como bem sabemos (...)
Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa dos ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para o oceano. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão; um pouco atrás, está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar, por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos. (...)
José Cardoso Pires
pindaro
Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico dum miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. O convés, em praça larga com uma rosa dos ventos bordada no empedrado, tem a comandá-lo duas colunas saídas das águas que fazem guarda de honra à partida para o oceano. Ladeiam a proa ou figuram como tal, é a ideia que dão; um pouco atrás, está um rei-menino montado num cavalo verde a olhar, por entre elas, para o outro lado da Terra e a seus pés vêem-se nomes de navegadores e datas de descobrimentos anotados a basalto no terreiro batido pelo sol. Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos. (...)
José Cardoso Pires
pindaro
O quid magnético
sábado, junho 18, 2011
O grande mistério
sexta-feira, junho 17, 2011
Time is eternal
quinta-feira, junho 16, 2011
Parece um Anjo
Um romance é para contar uma história
quarta-feira, junho 15, 2011
Romance
Os códigos e os costumes
É certo que os códigos são uma coisa e os costumes outra: verdade que se verifica sobretudo no domínio do sensual, onde, mais que em qualquer outro, o ser humano parece ter a faculdade de respirar à vontade numa zona semelhante à das grandes profundidades, bem abaixo da superfície mutável das ideias, das opiniões, dos preceitos, bem abaixo mesmo da camada onde a palavra ou a consciência se exprime.
Marguerite Yourcenar
pindaro
Em estado de palavra
terça-feira, junho 14, 2011
Amor sobre amor
Questão é curiosa nesta Filosofia, qual seja mais precioso e de maiores quilates: se o primeiro amor, ou o segundo? Ao primeiro ninguém pode negar que é o primogénito do coração, o morgado dos afectos, a flor do desejo, e as primícias da vontade. Contudo, eu reconheço grandes vantagens no amor segundo. O primeiro é bisonho, o segundo é experimentado; o primeiro é aprendiz, o segundo é mestre: o primeiro pode ser ímpeto, o segundo não pode ser senão amor. Enfim, o segundo amor, porque é segundo, é confirmação e ratificação do primeiro, e por isso não simples amor, senão duplicado, e amor sobre amor. É verdade que o primeiro amor é o primogénito do coração; porém a vontade sempre livre não tem os seus bens vinculados. Seja o primeiro, mas não por isso o maior.
Padre António Vieira
pindaro
Cette double mer
segunda-feira, junho 13, 2011
Pra além do mar há a bruma...
O núcleo do paradoxo
Uma vida submarina
Música calada
Como a de uma pedra preciosa
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