domingo, fevereiro 01, 2009

Em torno deste acontecimento




















É vão acreditar-se - escreveu ela - que o amor possa advir de uma comunhão de espíritos, de pensamentos; é a explosão simultânea de dois espíritos empenhados no acto independente de se expandirem. E a sensação é a de que alguma coisa explodiu dentro deles, silenciosamente. Em torno deste acontecimento, assombrado e apreensivo, o apaixonado ou a apaixonada continua a viver examinando a sua propria experiência; apenas a gratidão cria nela a ilusão de que comunica com o seu amigo, mas é falso, porquanto ele nada lhe deu. O objecto amado é, simplesmente, aquele que viveu uma experiência igual no mesmo instante, como um Narciso; e o desejo de estar junto do objecto amado é devido, em primeiro lugar, não à ideia de possuí-lo, mas, simplesmente, de permitir a comparação entre as duas experiências, como a mesma imagem vista em espelhos diferentes. Tudo isto pode preceder o primeiro olhar, o primeiro beijo, o primeiro contacto; preceder a ambição, o orgulho e a cobiça; preceder as primeiras declarações que assinalam o ponto de viragem - pois a partir daqui o amor degenera em hábito, em posse e ... em solidão.

Lawrence Durrel

Justine


pindaro

1 comentário:

Unknown disse...

"Parecia que entrava nele uma parcela da fascinação amorosa daquela mulher, assim como no ferro entra um pouco da virtude do íman. Tratava-se, verdadeiramente, de uma sensação magnífica de prazer, uma destas sensações agudas e profundas que se experimentam quase que unicamente no inicio de um amor, que parecem não
possuir um fundo físico ou espiritual como sucede com todas as outras, mas que se baseiam ao contrário num elemento neutro do nosso ser a que eu chamaria quase intermediário de natureza desconhecida, menos simples do que um espírito e mais subtil do que uma forma, onde a paixão se recolhe como que num receptáculo.”

Gabriel d’Annunzio