domingo, junho 21, 2009

Não te lembres nem esperes
























Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso;
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados no vidro da janela
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.

Não toques nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.

Não te lembres nem esperes.
Não estás no interior de um fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.

Sophia de Mello Breyner


pindaro

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