terça-feira, julho 18, 2006

E o navio em cima do mar


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar


Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.


O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...


Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.


Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.



Cecília Meireles


pindaro

1 comentário:

Cátia Mendes disse...

Ao acaso passei aqui. Gostei muito deste poema. E como sempre que visito um blog e me intressa. Aqui fica o meu comentário e um convite de visita ao meu.