terça-feira, outubro 03, 2006

Aroma de uvas de Outubro








Entre as duas nádegas
o pávido sulco
tem aroma de áfricas
e de uvas de outubro

Dirias que fora
um silvo de morte
a penetrar toda
a nocturna flora

até hoje intacta
que ainda aí tinhas
Respira Não fales
Murmura Não grites

Que travo de aromas
Que túnel escuro
Que paz no que sofres
Por mais uns minutos

O pescoço vergas
submissa e frágil
tal o de uma égua
que vai beber água

mas encontra a lua
E junto da cama
a rosa viúva
com lágrimas brancas

já pede a meus dedos
sacudido apoio
para a viuvez
em que a deixo hoje

Muito mais a norte
os queixumes calas
E nem gemes Gozas
enquanto te invade

O suco da vara
vertido no sulco
Vê como foi fácil
Respira mais fundo


David Mourão-Ferreira



Pindaro

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