domingo, janeiro 18, 2009

Cantares do Sem Nome e de Partidas





Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.

Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isso? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.

Hilda Hilst



pindaro

3 comentários:

Unknown disse...

(…/)

IV

E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasse a vida.

É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
Ou Catarina, ser menina ou malsã.

Penitente e doloso
Pode ser sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.

Hilda Hilst

cortenaaldeia disse...

Exilado o D.Júlio, cada vez mais se desenha uma figura.
Trata-se de passar a noite com Hilda Hist, o que vale por dizer, no melhor dos mundos

pindaro

Unknown disse...

“ Entro no teu corpo. O meu rosto sobre o teu rosto.
Estremecemos nos dedos que se enleiam no navio dos sonhos.
Em nós a cidade desata a arder, as mãos deslizam sobre a pele _ queima-nos por dentro.

Depois ouvimos o vento do mar _ com os poros abertos às tempestades, ao sal diáfano das marés.
E leves, limpos, nítidos, deixamo-nos arrastar pela infinita noite _ até que uma hélice de violetas nos prenda um ao outro… e voamos”.

Al Berto