sábado, fevereiro 28, 2009
O vestígio e a aura
O vestígio é a manifestação de uma proximidade, por mais longe que possa estar o ser que o deixou.
A aura é a manifestação de uma lonjura, por mais próximo que possa estar aquilo que a evoca.
Com o vestígio apoderamo-nos da coisa, com a aura é ela que é senhora de nós.
walter benjamin
pindaro
Le rivage de l´esprit
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
A missanga
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
Más lejos
Ayer te besé en los labios.
Te besé en los labios. Densos,
rojos. Fue un beso tan corto,
que duró más que un relámpago,
que un milagro, más. El tiempo
después de dártelo
no lo quise para nada ya,
para nada
lo había querido antes.
Se empezó, se acabó en él.
Hoy estoy besando un beso;
estoy solo con mis labios.
Los pongo
no en tu boca, no, ya no...
-¿Adónde se me ha escapado?-.
Los pongo
en el beso que te di
ayer, en las bocas juntas
del beso que se besaron.
Y dura este beso más
que el silencio, que la luz.
Porque ya no es una carne
ni una boca lo que beso,
que se escapa, que me huye.
No.
Te estoy besando más lejos.
Pedro Salinas
Pindaro
quarta-feira, fevereiro 25, 2009
Café
It is the idea
Senão o entendimento de tudo
terça-feira, fevereiro 24, 2009
Into the futury of the dream
Carni vale – the flesh's farewell to the year, unwinding its mummy wrappings of sex, identity, and name, and stepping forward naked into the futurity of the dream.
Lawrence Durrel
pindaro
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Uma impossibilidade
O amor quer a posse, mas não sabe o que é a posse. Se eu não sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se não possuo o meu próprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou diferente daquele de quem sou idêntico, como serei idêntico daquele de quem sou diferente?
O amor é um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que só é sonhada como devendo ser realizada.
Bernardo Soares
pindaro
Le souffle
J´appelle moderne ce qui me coupe le souffle et antique ce qui me le donne.
Florence Delay
pindaro
domingo, fevereiro 22, 2009
Uma palavra
E, no entanto, eu não acredito nas palavras. Não é através delas que a experência se comunica, mas às vezes uma palavra abre todas as portas.
Helena Vieira da Silva
pindaro
sábado, fevereiro 21, 2009
Dos fumos da distância
La literatura
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
La figura
As humanas cigarras
Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...
Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.
Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!
E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!
Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!
Miguel Torga
pindaro
Duplo sentido
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
As seteiras do espírito
As paixões são as seteiras do espírito. O mais prático consiste em dissimular. Corre o risco de perder quem joga jogo aberto. Que a detença do recatado compita com a atenção do advertido; a linces da palavra, sibas de interioridade. Que não lhe conheçam o gosto, para que não se previnam, uns para a contradição, outros para a lisonja.
Baltasar Gracián y Morales
pindaro
Atravessa todos os mistérios
Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora.
Fernando Pessoa
pindaro
Como ser humano
Comprimentos e pontas
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
Furte-se aos ocasos
Não esperar até ser sol poente. É máxima do cordo deixar as coisas antes que elas o deixem. Que se saiba converter em triunfo o próprio fenecer, pois às vezes mesmo o sol, ainda brilhante, costuma retirar-se numa nuvem para que não o vejamos cair, e nos deixa suspensos, não sabendo se ele se pôs ou não. Furte-se aos ocasos para não rebentar de desdouros; não espere que lhe voltem as costas, porque o sepultarão vivo para o sentimento e morto para a estima.
Baltasar Gracián y Morales
pindaro
To sailor girl
La sentencia de amor condenatoria
Hay besos que pronuncian por sí solos
la sentencia de amor condenatoria,
hay besos que se dan con la mirada
hay besos que se dan con la memoria.
Hay besos silenciosos, besos nobles
hay besos enigmáticos, sinceros
hay besos que se dan sólo las almas
hay besos por prohibidos, verdaderos.
Hay besos que calcinan y que hieren,
hay besos que arrebatan los sentidos,
hay besos misteriosos que han dejado
mil sueños errantes y perdidos.
Hay besos problemáticos que encierran
una clave que nadie ha descifrado,
hay besos que engendran la tragedia
cuantas rosas en broche han deshojado.
Hay besos perfumados, besos tibios
que palpitan en íntimos anhelos,
hay besos que en los labios dejan huellas
como un campo de sol entre dos hielos.
Hay besos que parecen azucenas
por sublimes, ingenuos y por puros,
hay besos traicioneros y cobardes,
hay besos maldecidos y perjuros.
Judas besa a Jesús y deja impresa
en su rostro de Dios, la felonía,
mientras la Magdalena con sus besos
fortifica piadosa su agonía.
Desde entonces en los besos palpita
el amor, la traición y los dolores,
en las bodas humanas se parecen
a la brisa que juega con las flores.
Hay besos que producen desvaríos
de amorosa pasión ardiente y loca,
tú los conoces bien son besos míos
inventados por mí, para tu boca.
Besos de llama que en rastro impreso
llevan los surcos de un amor vedado,
besos de tempestad, salvajes besos
que solo nuestros labios han probado.
¿Te acuerdas del primero...? Indefinible;
cubrió tu faz de cárdenos sonrojos
y en los espasmos de emoción terrible,
llenaron sé de lágrimas tus ojos.
¿Te acuerdas que una tarde en loco exceso
te vi celoso imaginando agravios,
te suspendí en mis brazos... vibró un beso,
y qué viste después...? Sangre en mis labios.
Yo te enseñe a besar: los besos fríos
son de impasible corazón de roca,
yo te enseñé a besar con besos míos
inventados por mí, para tu boca.
Gabriela Mistral
pindaro
Antelácion del amor
Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta
ni la privanza de tu cuerpo, aún misterioso y tácito y de niña,
ni la sucesión de tu vida situándose en palabras o acallamiento
serán favor tan persuasivo de ideas
como el mirar tu sueño implicado
en la vigilia de mis ávidos brazos.
Virgen milagrosamente otra vez por la virtud absolutoria del sueño,
quieta y resplandeciente como una dicha en la selección del recuerdo,
me darás esa orilla de tu vida que tú misma no tienes,
Arrojado a la quietud
divisaré esa playa última de tu ser
y te veré por vez primera quizás como Dios ha de verte,
desbaratada la ficción del Tiempo
sin el amor, sin mí.
Jorge Luis Borges
pindaro
Voy de reflejo a fulgor
terça-feira, fevereiro 17, 2009
Com limpeza e formosura
A vida é um desempate permanente, e o que é preciso é jogar com limpeza e formosura em cada número da caprichosa roleta...
Miguel Torga
pindaro
Me retece e configura
Este amor em meadas e triciclos
que nunca se divide, confluindo
e torna noite este sapato findo
e o firmamento, silencioso ciclo.
Este amor em meadas, infinito.
Em meadas de orvalho, desavindo,
em meadas e quedas, rugas, trincos
e rusgas, trinos, pios e sóis contritos.
Este amor me retece e configura.
Tem pressa de crescer, fogo calado.
Apenas queima, quando não se apura.
Parece interminável, quando tomba.
E só se apura, quando despertado.
Dissolvido me solve em clara onda.
Carlos Nejar
pindaro
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande
amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma
só mulher; pois ser de muitas, poxa ! é de colher ... - não tem
nenhum valor.
Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se
cavalheiro e ser de sua dama por inteiro - seja lá como for. Há que
fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada
e postar-se de fora com uma espada - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como
o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para
iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer
que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre
preparado para chatear o grande amor.
Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da
verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande
amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da
liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande amor, il faut, além de fiel, ser bem
conhecedor de arte culinária e de jud^0 - para viver um grande amor.
Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas
bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É
preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada
e sua viúva t ambém, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no
florista - muito mais, muito mais que na modista ! - para aprazer ao
grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo. É de
amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo
conta ponto a favor...
Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões,
sopinhas, molhos, estrogonofes - comidinhas para depois do amor. E
o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha
com uma rica e gostsoa farofinha, para o seu grande amor ?
Para viver um grande amor é muito, muito importante viver
sempre junto e até ser, se possível, um só defunto - pra não morrer de
dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também
com a mente, pois qualquer "baixo"seu, a amada sente - e esfria um
pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador
sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia - para viver um grande
amor.
É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se
arrisque !) e ser impermeável ao diz-que-diz-que - que não quer nada com
o amor.
Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e
desvairada não se souber achar a bem-amada - para viver um
grande amor.
Vinicius de Moraes
pindaro
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
domingo, fevereiro 15, 2009
Time immemorial
Solitárias
Afinidades e pontas
Quando se finge o amor, corre-se o risco de chegar a senti-lo, quem parodia sem as devidas precauções, acaba por ser vítima da sua própria astúcia. E mesmo que as tome, acaba por ser vítima na mesma. Já Pascal o dizia: "É quase impossível fingir que se ama sem se transformar logo em amante"
Enrique Vila-Matas
pindaro
sábado, fevereiro 14, 2009
Estar preso por vontade
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Luís Vaz de Camões
pindaro
Amigo do amor
O império romano era governado por Claudius II e corria o ano 270.
Envolvido em campanhas militares sangrentas, o imperador começou a encontrar dificuldades na recruta de mais homens.
Convencido que tais dificuldades vinham dos rapazes não quererem apartar-se das namoradas, amantes e mulheres, o imperador foi às do cabo e proibiu noivados e casamentos.
Mas, a menos de cem quilómetros de Roma, em Terni, o Bispo, valente e amigo do amor, continuou a noivar e a casar os jovens apaixonados.
Claudius condenou-o à morte. Foi decapitado em 14 de Fevereiro.
Era o Bispo Valentim.
Quanto ao amor, esse é um mistério que se prende com a química clandestina e vai da temperatura da pele ao brilho do olhar. Um filtro mágico que lida com paixões, simpatias e humores: animais e espirituais.
É o sal e o sol.
Envolvido em campanhas militares sangrentas, o imperador começou a encontrar dificuldades na recruta de mais homens.
Convencido que tais dificuldades vinham dos rapazes não quererem apartar-se das namoradas, amantes e mulheres, o imperador foi às do cabo e proibiu noivados e casamentos.
Mas, a menos de cem quilómetros de Roma, em Terni, o Bispo, valente e amigo do amor, continuou a noivar e a casar os jovens apaixonados.
Claudius condenou-o à morte. Foi decapitado em 14 de Fevereiro.
Era o Bispo Valentim.
Quanto ao amor, esse é um mistério que se prende com a química clandestina e vai da temperatura da pele ao brilho do olhar. Um filtro mágico que lida com paixões, simpatias e humores: animais e espirituais.
É o sal e o sol.
Solino
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
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