terça-feira, março 31, 2009
Sus constelaciones íntimas
Tengo una atmósfera propia en tu aliento
La fabulosa seguridad de tu mirada con sus constelaciones íntimas
Vicente Huidobro
pindaro
Um ermo melancólico
Tirai dele a mulher, e o mundo será um ermo melancólico, os deleites serão apenas prelúdio de tédio.
Alexandre Herculano
pindaro
Fico ao teu lado
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
cecília meireles
píndaro
Na solidão que te rodeia
Desejei-te pinheiro à beira-mar
para fixar o teu perfil exacto.
Desejei-te encerrada num retrato
para poder-te contemplar.
Desejei que tu fosses sombra e folhas
no limite sereno dessa praia.
E desejei: «Que nada me distraia
dos horizontes que tu olhas!»
Mas frágil e humano grão de areia
não me detive à tua sombra esguia.
(Insatisfeito, um corpo rodopia
na solidão que te rodeia.)
David Mourão-Ferreira
pindaro
segunda-feira, março 30, 2009
Sorva-se aos tragos
Não deverão as coisas ser negadas de chofre: sorva-se aos tragos o desengano; nem se negue de todo, que seria desesperar a dependência. Que fiquem sempre alguns vestígios de esperança a temperar o amargor do negar. Que a cortesia encha o vazio do favor e que as boas palavras supram a falta das obras. O não e o sim são breves de dizer, e pedem muito pensar.
Baltasar Gracián y Morales
pindaro
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus
braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência
assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
pindaro
A força da memória
Uma pedra lançada no poço fundo
Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona,está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Nesse vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavra que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo.
Clarice Lispector
pindaro
domingo, março 29, 2009
Naturais e nossos
O fio de uma espada
O presente é o fio de uma espada, o passado e o futuro um sonho entre um nada e outro nada
Ramón de Campoamor y Campoosorio
pindaro
Fantasia
sábado, março 28, 2009
As razoens da inconfydencia
O que a voz não pode exprimir juntamente em diferentes lugares e a diversas pessoas em um mesmo tempo, o faz a escritura com grande perfeição...
Francisco Roiz Lobo
pindaro
Sentirás mi voz llegarte
Cuando en días venideros, libre el hombre
Del mundo primitivo a que hemos vuelto
De tinieblas y de horror, lleve el destino
Tu mano hacia el volumen donde yazcan
Olvidados mis versos, y lo abras,
Yo sé que sentirás mi voz llegarte,
No de la letra vieja, mas del fondo
Vivo en tu entraña, con un afán sin nombre
Que tú dominarás. Escúchame y comprende.
En sus limbos mi alma quizá recuerde algo,
Y entonces en ti mismo mis sueños y deseos
Tendrán razón al fin, y habré vivido.
Luis Cernuda
pindaro
Mistura
O teu amor infiltra-se no meu corpo
Tal como o vinho se infiltra na água quando
O vinho e a água se misturam.
(in Poemas de Amor do Antigo Egipto)
pindaro
sexta-feira, março 27, 2009
E não se mexem
Detesto flores. Só as pinto porque são mais baratas que os modelos e não se mexem.
Georgia O´Keeffe
pindaro
quinta-feira, março 26, 2009
Ao sítio exacto
quarta-feira, março 25, 2009
terça-feira, março 24, 2009
É um povo de cais e fado
Corvos santificados, mártires à maré e doutores heréticos a receitarem milagres, espécies destas só em Lisboa. É um povo de cais e fado a cavalo dum diabo complacente, a gente que aqui se faz. Por isso, o à-vontade com que se junta na mesma cama o pecado com a virtude e o engenho com que sabe por uma vírgula burlesca numa estória de má sina. Por pudor é capaz de dizer amizade em insulto enternecido, por desdém agride à maneira de elogio: "Chico esperto, mãozinha bruxa", chama ele ao traficante desalmado. No entre-suspeito ouve de manso, pois sim, está bem abelha, e fala pianinho para prevenir e aclarar. Mas se o caso não entra nos acertos é capaz de perder a paciência e então, "gatos ao mar", arranca em discurso de finalmente.(...)
José Cardoso Pires
pindaro
segunda-feira, março 23, 2009
domingo, março 22, 2009
Passando
sábado, março 21, 2009
Bandoleiro
Prazer! Prazer! oh falso, oh bandoleiro!
Que fugindo te ausentas
De nós, sem saudade, e tão ligeiro:
As penas nos aumentas,
Se, mal que te acolhemos, já nos deixas».
Eis que o lindo Prazer tão suspirado
Me responde: — Que vãs são tuas queixas!
Aos Numes graças rende, que hão criado
O Prazer breve: que, a ser eu comprido,
Me houveram (certo) para si retido.
Filinto Elísio
pindaro
Teus beijos, queria-os de tule
Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de setim...
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem joias pretas...
E tão febril e delicada
Que não podesses dar um passo -
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de côr no regaço...
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...
Ah! que as tuas nostalgias fôssem guisos de prata -
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata...
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim -
Os teus espasmos, de sêda...
- Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim...
Mário de Sá-Carneiro
pindaro
Like power
To photograph is to appropriate the thing photographed. It means putting oneself into a certain relation to the world that feels like knowledge - and, therefore, like power.
Susan Sontag
pindaro
sexta-feira, março 20, 2009
Só é o não ainda
Só nos pertence o gesto que fizemos
não o fazê-lo como, iludida,
a divindade que em nós já trouxemos
supõe errada (e não) por convencida.
Porque o traçado nosso em breve cessa,
para que outro o recomece e não progrida;
que um gesto em ser gesto real se meça,
não está em nós fazê-lo, mas na Vida.
Assim o nada a sagra quando finda
porque o que é, só é o não ainda.
Vergílio Ferreira
pindaro
Depois do mais que me dera
Vem aí a Primavera
diz-me sempre a tua boca
depois do mais que me dera
o que vem é coisa pouca
Olha o Verão que já não tarda
diz-me à tarde o teu peito
por mais frutos que ele traga
não há nenhum tão perfeito
Oiço os passos do Outono
dizem-me à noite os teus braços
o que mais ambiciono
é ouvir só os teus passos
O Inverno há-de chegar
diz-me à noite a tua mão
quanto mais a mão esfriar
mais calor no coração
E dia a dia por nós
passam as quatro estações
têm sempre a tua voz
eu respondo-lhes depois
David Mourão-Ferreira
pindaro
quinta-feira, março 19, 2009
E tenho ensejo
Não te beijo e tenho ensejo
Para um beijo te roubar;
O beijo mata o desejo
E eu quero-te desejar.
António Aleixo
pindaro
Pátria
quarta-feira, março 18, 2009
Une femme
O Chão é Cama para o Amor Urgente
Mistério
Teu corpo veio a mim. Donde viera?
Que flor? Que fruto? Pétala indecisa...
Rima suave: Outono ou Primavera?
Teu corpo veio como vem a brisa...
Rosa de Maio, encastoada em luto:
O dos meus olhos e o do meu cabelo.
Um quarto para as onze! E esse minuto
Ai! nunca, nunca mais pude esquecê-lo!
Viu-se, primeiro, o rosto e o ombro, depois.
E a mão subiu das ancas para o peito...
— Quem és? Sou teu... (Quando um e um são dois,
Dois podem ser um só cristal perfeito!)
Um quarto para as onze! Caiu neve?
Abri os olhos! Era quase dia...
Ou bater de asas, cada vez mais leve,
De pássaro na sombra que fugia?
Pedro Homem de Mello
pindaro
Só esperar
Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar.
Clarice Lispector
pindaro
terça-feira, março 17, 2009
O jogo das marés
Quando não se vive como se pensa, acaba-se pensando como se vive.
Gabriel Marcel
pindaro
Pequenas escaramuças
segunda-feira, março 16, 2009
Aparta el tiempo
Como el mar quiere a su agua
Ahora te quiero,
como el mar quiere a su agua:
desde fuera, por arriba,
haciéndose sin parar
con ella tormentas, fugas,
albergues, descansos, calmas.
¡Qué frenesíes, quererte!
¡Qué entusiasmo de olas altas,
y qué desmayos de espuma
van y vienen! Un tropel
de formas, hechas, deshechas,
galopan desmelenadas.
Pero detrás de sus flancos
está soñándose un sueño
de otra forma más profunda
de querer, que está allá abajo:
de no ser ya movimiento,
de acabar este vaivén,
este ir y venir, de cielos
a abismos, de hallar por fin
la inmóvil flor sin otoño
de un quererse quieto, quieto.
Más allá de ola y espuma
el querer busca su fondo.
Esta hondura donde el mar
hizo la paz con su agua
y están queriéndose ya
sin signo, sin movimiento.
Amor
tan sepultado en su ser,
tan entregado, tan quieto,
que nuestro querer en vida
se sintiese
seguro de no acabar
cuando terminan los besos,
las miradas, las señales.
Tan cierto de no morir,
como está
el gran amor de los muertos.
Pedro Salinas
pindaro
Gasta-se o mundo
domingo, março 15, 2009
Bilhetando a saborosa Hilária, polpuda e licorosa...
De argila e luz
Vida da minha alma:
Um dia nossas sombras
Serão lagos, águas
Beirando antiqüíssimos telhados.
De argila e luz
Fosforescentes, magos,
Um tempo no depois
Seremos um só corpo adolescente.
Eu estarei em ti
Transfixiada. Em mim
Teu corpo. Duas almas
Nômades, perenes
Texturadas de mútua sedução.
Hilda Hist
pindaro
Qui demeurent toujours
A falha necessária
Cálculo matemático
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