sábado, dezembro 12, 2009

Carne-alma




















Em todos os meus sonhos tu apareces, em forma de sonho […]
Tu és do sexo das formas sonhadas, do sexo nulo das figuras
Nenhum fascínio do sexo se
subentende ao meu sonhar-te […] Os teus seios
Não são dos que se pudesse pensar em beijar-se. O teu corpo é todo
Ele carne-alma, mas não é alma é corpo.
Bernardo Soares

pindaro

1 comentário:

Unknown disse...

A luz da carruagem era pouco intensa, e aquilo que Shimamura via reflectido estava longe de possuir o relevo e a nitidez da imagem de um verdadeiro espelho. Acabou também por esquecer facilmente que contemplava uma figura reflectida num espelho, pouco a pouco dominado pelo sentimento de ver este rosto de mulher lá fora, a flutuar e como que levado pela torrente ininterrupta da paisagem gigantesca e mergulhada nas trevas(...)mas era sobretudo a uma espécie de irrealidade que ele cedia, a esta curiosa sensação de diáfana transparência que ela havia suscitado nele, tão próxima da poesia do estranho reflexo que tinha contemplado no espelho: aquele rosto comovente de feminilidade e de juventude, que flutuava diante da paisagem fugidia do crepúsculo e da noite.


Yasunari Kawabata , Terra de Neve