domingo, julho 04, 2010

Que pera mim bastava amor somente






Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís de Camões

pindaro

1 comentário:

olga disse...

Se pena por amar-vos se merece,
quem dela livre está, ou quem isento?
Que alma, que razão, qu' entendimento
em ver-vos se não rende e obedece?

Que mor glória na vida s'oferece
que ocupar-se em vós o pensamento?
Toda a pena cruel, todo o tormento
em ver-vos se não sente, mas esquece.

Mas se merece pena quem amando
contino vos está, se vos ofende,
o mundo matareis, que todo é vosso.

Em mim podeis, Senhora, ir começando,
que claro se conhece e bem se entende
amar-vos quanto devo e quanto posso.

Luis Vaz de Camões