quarta-feira, novembro 30, 2011
A melhor parte da nossa memória
As recordações em amor não constituem uma excepção às leis gerais da memória, também ela regida pelas leis do hábito. Como esta enfraquece tudo, o que mais nos faz lembrar uma pessoa é justamente aquilo que havíamos esquecido por ser insignificante e a que assim devolvemos toda a sua força.
A melhor parte da nossa memória está deste modo fora de nós. Está num ar de chuva, num cheiro a quarto fechado ou no de um primeiro fogaréu, seja onde for que de nós mesmos encontemos aquilo que a nossa inteligência pusera de parte, a última reserva do passado, a melhor...
Marcel Proust
pindaro
terça-feira, novembro 29, 2011
A arte de dizer adeus com elegância
“Son mis amores reales”
La devise de D. Juan de Tassis y Peralta, Conde de Villamediana
(“Chevalier de l´arène qui affronttait à pied les taureaux simplement pour qu´étincelle la devise que le mena à mort” – L.M. Dominguin)
O duende, como todo o bom bailador da esquivança, tem pergaminhos difíceis.
O seu campo é um território de labirintos e galerias, para o correr vai-se melhor com explorador. Espanhol e poeta: Federico Garcia Lorca.
O duende, Lorca vai abrindo, é um poder não uma atitude, é uma luta não um conceito, e nenhuma emoção é possível sem a sua mediação.
“Olé! Isto tem duende!”, bradou o bailarino cigano La Malana ao ouvir Brailowski tocar um fragmento de Bach. Agarrara o “é da coisa”, como Goethe quando, falando de Paganini, falava de “um poder misterioso que todos podem sentir e nenhuma filosofia pode explicar.”
O duende fantasia nas interioridades escondidas e, no dizer do explorador, encontra-se “durmiendo en las últimas habitationes de la sangre”.
Ama as fronteiras e as feridas, e aproxima-se dos lugares onde as formas se fundem num anseio superior às suas expressões visíveis. Ser misterioso, meio diabólico meio angélico – os dois ao mesmo tempo – costuma inspirar os que nele crêem.
A sua funda vocação, acrescentaria Henri Thoreau, é a de “sugar o tutano do dia.”
Encanto da região do fogo, demónio furioso e devorador, irmão dos ventos carregados de areia, o duende baila com particular ligeireza por dentro dos cantadores ciganos, dos toureiros e dos poetas.
É ver João Cabral de Mello Neto:
“
(...)
Mas eu vi Manuel Rodriguez
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo
mais mineral e desperto,
(...)
o que à tragédia deu número,
à vertigem geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,
sim, eu vi Manuel Rodriguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:
como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida.
E como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor
sem poetizar seu poema.”
“Sueño de una sombra /o sombra de un sueño”, dizia José Bergamin, mas o duende, digo eu, tem um outro dom que é o da impermanência, a arte de dizer adeus com elegância.
Doutor Lívio
O que é bonito neste mundo e anima
segunda-feira, novembro 28, 2011
Com que voz chorarei meu triste fado
Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.
Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, poi se mudou
em tisteza a alegria do passado.
Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.
De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.
Baltazar Estaco (?)
(Luis de Camões ?)
pindaro
domingo, novembro 27, 2011
Neste recanto de consumação
O que o acto amoroso e o sacrifício revelam é a carne... O movimento da carne excede um limite na ausência (ou, além) da vontade. A carne é em nós este excesso que se opõe às leis da decência. A carne é a expressão de um retorno desta liberdade ameaçante(...)O mundo íntimo opõe-se ao real como a desmesura à medida, a loucura à razão, a embriaguez à lucidez... o mundo do sujeito é a noite: esta noite movediça, infinitamente suspeita... a consumação do inútil suspende a preocupação com o dia seguinte. O que assegura o retorno da coisa, à ordem íntima, é sua entrada neste recanto de consumação. O sacrifício é o calor, onde se reencontra a intimidade daqueles que compõem o sistema das obras comuns. A vítima é um excesso pego, tomado à massa de riqueza útil.
Georges Bataille
Pindaro
sábado, novembro 26, 2011
E o tempo e o modo de o fazer
sexta-feira, novembro 25, 2011
Uma conversação de amigos bem acostumados
Aqui ofereço a V. Excelência uma conversação de amigos bem acostumados, umas noites de Inverno melhor gastadas que as que se passam em outros exercícios prejudiciais à vida e consciência; finalmente uma Corte que, como bonina do mato, a que falta o cheiro e a brandura das dos jardins, ainda que na aparência e cores a queira contrafazer, é contudo diferente. Se os ditos destes aldeãos cheirarem a Corte, acreditarão o título do livro, e, se souberem ao monte, também nele se confessa por Corte da Aldeia.
Francisco Roíz Lobo
pindaro
quinta-feira, novembro 24, 2011
A zona necessária
quarta-feira, novembro 23, 2011
Os erros e a fortuna sobejaram
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!
Luís de Camões
píndaro
terça-feira, novembro 22, 2011
Mañana no ha llegado
«¡Ah de la vida!»... ¿Nadie me responde?
¡Aquí de los antaños1 que he vivido!
La Fortuna mis tiempos ha mordido;
las Horas mi locura las esconde.
¡Que sin poder saber cómo ni adónde
la Salud y la Edad se hayan huido!
Falta la vida, asiste lo vivido,
y no hay calamidad que no me ronde.
Ayer se fue; Mañana no ha llegado;
Hoy se está yendo sin parar un punto:
soy un fue, y un será, y un es cansado.
En el Hoy y Mañana y Ayer, junto
pañales y mortaja, y he quedado
presentes sucesiones de difunto.
Francisco de Quevedo
pindaro
segunda-feira, novembro 21, 2011
Es el mundo de la perfección.
El mundo de la literatura, el mundo del arte, es el mundo de la perfección.
Es el mundo donde la belleza, que es lo que en última instancia le da su independencia, su verdad, su autenticidad, nos enfrenta a la acabado, a lo absolutamente abarcable con el conocimiento, con la conciencia además con una visón esférica que jamás llegamos a tener. Entonces, cuando nosotros regresamos de una gran novela, de ese mundo de ilusión, de ese espejismo, deslumbrante que es el de una ficción lograda que se nos impone como una verdad irresistible a este mundo nuestro, cuál es la reacción natural? El cotejo es inevitable. Y la conclusión de ese cotejo es el de que pequeño es este mundo comparado con ese mundo tan grande, tan rico del que acabamos de salir. Y que feo, mediocre y sórdido es este mundo comparado con ese mundo donde todo aprecia tan bello, incluso las peores aspectos de la condición humana, las manifestaciones más sombrías, tétricas, crueles de lo que es el hombre tenia un encanto que el escritor, el creador había conseguido impregnarle, que a nosotros nos lo hacia aceptable, incluso emocionante y por lo tanto bello.
Mario Vargas Llosa
pindaro
domingo, novembro 20, 2011
Always
Always
at the core of me
burns a small flame of anger, gnawing
from trespassed contacts, from hot, digging-in fingers of love.
Always
in the eyes of those who loved me well
I have seen at last the image of whom they loved
and took for me,
mistook for me.
And always
it was a pretty monkey that resembled me
and was a gibe at me.
So now I want above all things
to preserve my nakedness
from the gibe and finger-clutch of image-making love.
D. H. Lawrence
pindaro
sábado, novembro 19, 2011
Um dia a gente se encontra
sexta-feira, novembro 18, 2011
quinta-feira, novembro 17, 2011
Furte-se aos ocasos para não rebentar de desdouros
Não esperar até ser sol poente. É máxima do cordo deixar as coisas antes que elas o deixem. Que se saiba converter em triunfo o próprio fenecer, pois às vezes mesmo o sol, ainda brilhante, costuma retirar-se numa nuvem para que não o vejamos cair, e nos deixa suspensos, não sabendo se ele se pôs ou não. Furte-se aos ocasos para não rebentar de desdouros; não espere que lhe voltem as costas, porque o sepultarão vivo para o sentimento e morto para a estima.
Baltasar Gracián y Morales
pindaro
quarta-feira, novembro 16, 2011
Only for a short time
terça-feira, novembro 15, 2011
Marinha
Sólo con el tiempo...
Después de un tiempo, uno aprende la diferencia entre sostener una mano y encadenar un alma, y uno aprende, que el amor no significa acostarse y una compañía no significa seguridad y uno empieza a aprender...
Que los besos no son contratos y los regalos no son promesas y uno empieza a aceptar sus derrotas, con la cabeza alta y los ojos abiertos y uno aprende a construir, todos sus caminos en el hoy, porque el terreno de mañana, es demasiado inseguro para planes... y los futuros tienen una forma de caerse en la mitad.
Y después de un tiempo, uno aprende que si es demasiado, hasta el calorcito del sol quema. Asi que uno planta su propio jardín y decora su propia alma, en lugar de esperar a que alguien le traiga flores.
Y uno aprende que realmente puede aguantar, que uno realmente es fuerte, que uno realmente vale, y uno aprende y aprende... y con cada día uno aprende.
Con el tiempo aprendes que estar con alguien porque te ofrece un buen futuro, significa que tarde o temprano querrás volver a tu pasado.
Con el tiempo comprendes que solo quien es capaz de amarte con tus defectos y sin pretender cambiarte, puede brindarte toda la felicidad que deseas.
Con el tiempo entiendes que los verdaderos amigos son contados, y que el que no lucha por ellos, tarde o temprano se verá rodeado de amistades falsas.
Con el tiempo aprendes que disculpar cualquiera lo hace, pero perdonar es sólo de almas grandes.
Con el tiempo comprendes que si has herido a un amigo duramente, muy probablemente la amistad jamás volverá a ser igual.
Con el tiempo te darás cuenta que aunque seas feliz con tus amigos, algún día llorarás por aquellos que dejaste ir.
Con el tiempo te darás cuenta de que cada experiencia vivida con cada persona es irrepetible.
Con el tiempo te das cuenta de que en realidad lo mejor no era el futuro, sino el momento que estabas viviendo justo en ese instante.
Con el tiempo verás que aunque seas feliz con los que están a tu lado, añorarás terriblemente a los que ayer estaban contigo y ahora se han marchado.
Con el tiempo aprenderás a intentar perdonar o pedir perdón, decir que amas, decir que extrañas, decir que necesitas, decir que quieres ser amigo,
Pero desafortunadamente, sólo con el tiempo...
Jorge Luis Borges
pindaro
segunda-feira, novembro 14, 2011
Uma porta no Palácio do Absurdo
Tal como a medicina ensina também os venenos, a metafísica perturba com importunas subtilezas os dogmas da religião, a ética recomenda a magnificência (que não convém a todos), a astrologia patrocina a superstição, a óptica engana, a música fomenta os amores, a geometria encoraja o injusto domínio, e a matemática a avareza - assim a Arte do Romance, embora advertindo-nos de que nos fornece ficções, abre uma porta no Palácio do Absurdo, que ao ser ultrapassada por ligeireza, se fecha atrás das nossas costas.
Umberto Eco
pindaro
Sensualidades incorporadas
domingo, novembro 13, 2011
Movimentos e olhares
sábado, novembro 12, 2011
A sombra tempera a luz
O espírito da coisa
É vão acreditar-se - escreveu ela - que o amor possa advir de uma comunhão de espíritos, de pensamentos; é a explosão simultânea de dois espíritos empenhados no acto independente de se expandirem. E a sensação é a de que alguma coisa explodiu dentro deles, silenciosamente. Em torno deste acontecimento, assombrado e apreensivo, o apaixonado ou a apaixonada continua a viver examinando a sua propria experiência; apenas a gratidão cria nela a ilusão de que comunica com o seu amigo, mas é falso, porquanto ele nada lhe deu. O objecto amado é, simplesmente, aquele que viveu uma experiência igual no mesmo instante, como um Narciso; e o desejo de estar junto do objecto amado é devido, em primeiro lugar, não à ideia de possuí-lo, mas, simplesmente, de permitir a comparação entre as duas experiências, como a mesma imagem vista em espelhos diferentes. Tudo isto pode preceder o primeiro olhar, o primeiro beijo, o primeiro contacto; preceder a ambição, o orgulho e a cobiça; preceder as primeiras declarações que assinalam o ponto de viragem - pois a partir daqui o amor degenera em hábito, em posse e ... em solidão.
Lawrence Durrel
pindaro
sexta-feira, novembro 11, 2011
Everness
Sólo una cosa no hay. Es el olvido.
Dios, que salva el metal, salva la escoria
Y cifra en Su profética memoria
Las lunas que serán y las que han sido.
Ya todo está. Los miles de reflejos
Que entre los dos crepúsculos del día
Tu rostro fue dejando en los espejos
Y los que irá dejando todavía.
Y todo es una parte del diverso
Cristal de esa memoria, el universo;
No tienen fin sus arduos corredores
Y las puertas se cierran a tu paso;
Sólo del otro lado del ocaso
Verás los Arquetipos y Esplendores.
jorge luis borges
pindaro
Um combate de relâmpagos
Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um só mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo nocturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.
Pablo Neruda
Pindaro
quinta-feira, novembro 10, 2011
Pour mieux se ressentir
quarta-feira, novembro 09, 2011
Debajo de la superficie de los signos
terça-feira, novembro 08, 2011
Beyond the farthest line
“…e quando entrávamos no bar um homem, sempre o mesmo, voltava-se no banco alto e, trazendo o seu copo, vinha sentar-se connosco numa mesa.
E era difícil dizer de que tempo ele vinha; pois das personagens das histórias dum tempo antigo ele tinha a voz, o olhar e os gestos, mas não o destino nem a vida vivida.
Era mesmo como se ele tivesse rejeitado todo o destino, toda a vida vivida, como uma coisa alheia, exterior e falsa, e lhe bastasse aquele momento, aquele bar, aquela conversa, aquele copo.
Era como se ele tivesse querido guardar o seu ser à margem do vivido, por não haver na vida acto nenhum onde o ser pudesse ser cumprido e a existência concreta fosse apenas deturpação, falsificação, profanação.
E assim ele tinha resolvido usar a sua própria vida como não sendo dele, usá-la como os músicos da orquestra usavam os seus fatos alugados...
E o homem que se tinha vindo sentar junto de nós falava misturando as suas palavras com o tempo, com a noite, com o barulho do mar, com o respirar da brisa nas folhagens.
E das suas palavras nascia uma grande imagem que se ia abrindo e desdobrando em inumeráveis espaços.
A sua sensibilidade era tão perfeita que até na própria madeira da mesa a sua mão pousava com ternura.
Enquanto falava abria espantosamente os seus olhos, que eram azuis como o azul duma chama de álcool.
E o seu olhar era desmedido e impessoal como se para além de nós ele olhasse outra coisa.
Talvez:
A memória longínqua duma pátria
Eterna mas perdida e não sabemos
Se é passado ou futuro onde a perdemos
E à medida que ia falando, a imagem que nascia das suas palavras ia-se tornando interior à alma daqueles que o escutavam, como um mito.
Ele era como um limite como um marco que dissesse: Daqui em diante o mar não é mais navegável.
No entanto ele não se confundia com um deus.
Nos deuses ser e existir estão unidos.
Nele a vida vivida nem sequer era serva do ser, nem sequer era o chão que o ser pisava, mas apenas acaso sem nexo, desencontro, acidente sem forma e sem verdade, acidente desprezado.
… esteve um longo tempo calado.
Depois debruçou-se sobre a mesa e disse:
There is a sea,
A far and distant sea
Beyond the farthest line,
Where all my ships that went astray
Where all my dreams of yesterday
Are mine.
(...) "
Sophia de Mello Breyner
("Contos Exemplares"- personagem inspirado em D. José Maria Gonçalves Zarco da Camara, 11º conde da Ribeira Grande)
pindaro
Este silencio del mar tranquilo
Este silencio,
blanco, ilimitado,
este silencio
del mar tranquilo, inmóvil,
que de pronto
rompen los leves caracoles
por un impulso de la brisa,
Se extiende acaso
de la tarde a la noche, se remansa
tal vez por la arenilla
de fuego,
la infinita
playa desierta,
de manera
que no acaba,
quizás,
este silencio,
nunca?
Eliseo Diego
pindaro
São-no os afectos
segunda-feira, novembro 07, 2011
domingo, novembro 06, 2011
Por nome: a Pérola de cultura do mistério
Acalmei do poema das cinco da madrugada
Nas sílabas de furor de que te deixei toucada.
Agora espero-te: Vens
Por vinte e quatro horas de cravos de Nice, amor no aroma,
Intervalando as tuas Carnes Verdes,
Monte Escuro,
De mãos nas mãos no largo laço aéreo,
Meu focinho de nada,
Por nome: a Pérola de cultura do mistério.
À espera tens uma corrente chic
Como a cadela “Pura”
- Ah! essa, chic não ! –
Uma e outra porém para que fique
à argola a orelha de ambas,
Penhor de guarda à vinha viva
Do rabinho entre as pernas de ternura
E beijos de saliva
Como a cadela “Pura”.
Vitorino Nemésio
pindaro
Nas sílabas de furor de que te deixei toucada.
Agora espero-te: Vens
Por vinte e quatro horas de cravos de Nice, amor no aroma,
Intervalando as tuas Carnes Verdes,
Monte Escuro,
De mãos nas mãos no largo laço aéreo,
Meu focinho de nada,
Por nome: a Pérola de cultura do mistério.
À espera tens uma corrente chic
Como a cadela “Pura”
- Ah! essa, chic não ! –
Uma e outra porém para que fique
à argola a orelha de ambas,
Penhor de guarda à vinha viva
Do rabinho entre as pernas de ternura
E beijos de saliva
Como a cadela “Pura”.
Vitorino Nemésio
pindaro
sábado, novembro 05, 2011
Hay que pescar luz caída
Por entre a mágoa e as paixões
Feliz de quem passou, por entre a mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente como passa a rosa,
E leve como a sombra sobre a água.
Era-te a vida um sonho: indefinido
E ténue, mas suave e transparente,
Acordaste… sorridente… e vagamente
Continuaste o sonho interrompido.
Antero de Quental
pindaro
sexta-feira, novembro 04, 2011
Morrão, cinza e candeia
Em solidão, saudade e mar
Fui encontrar El-Rei D. Sebastião
Numa taberna, em frente do almoço.
Na mesa, a sopa, uma maçã, um pão
E um tinto a manchar o copo grosso.
Olhei-o com respeito e devoção:
Tinha, ainda, o perfil de um belo moço.
Vestia uma tee-shirt: nem gibão
Nem os folhos à volta do pescoço.
O que fazia ali? De onde viera?
Já brilhava uma luz de Primavera,
A tornar-lhe mais verde o verde olhar.
Como era tão vivo, tão presente!
Fui a beijar-lhe a mão. Mas, de repente,
Perdi-o em solidão, saudade e mar.
António Couto Viana
pindaro
Infiel ao seu destino
A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado ?
Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.
Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.
Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha
Fernando Pessoa
pindaro
quinta-feira, novembro 03, 2011
Se murió el mar una noche
Se murió el mar una noche
de una orilla a la otra orilla
se arrugó, se recogió
como manto que retiran.
Igual que albatros beodo
y que la alimaña huida
hasta el último horizonte
con diez oleajes corría.
Y cuando el mundo robado
volvió a ver la luz del día
él era un cuerno cascado
que al grito no respondía.
Mirada huérfana echaban
acantilados y rías
al cancelado horizonte
que su amor no respondía
y aunque el sueño él volease
el pulpo y la pesadilla
al umbral de nuestras casas
los ahogados escupía.
Gabriela Mistral
pindaro
quarta-feira, novembro 02, 2011
terça-feira, novembro 01, 2011
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