sábado, abril 08, 2006
Declaração de amor
Esta é uma declaração de amor;
amo a língua portuguesa.
Ela não é fácil. Não é maleável.
E, como não foi profundamente trabalhada pelo
pensamento, a sua tendência é a de não ter sutileza
e de reagir às vezes com um pontapé contra
os que temerariamente ousam transformá-la
numa linguagem
de sentimento de alerteza.
E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro
desafio para quem escreve.
Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e
das pessoas a primeira capa do superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado.
Às vezes assusta com o imprevisível de uma frase.
Eu gosto de manejá-la - como gostava de estar
montando num cavalo e guiá-lo pelas rédeas,
às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse
ao máximo nas minhas mãos. e este desejo
todos os que escrevem têm.
Um Camões e outros iguais não bastaram para
nos dar uma herança de língua já feita. Todos nós
que escrevemos estamos fazendo do túmulo do
pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do
encantamento de lidar com uma língua que não foi
aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever
e me perguntassem a que língua eu queria pertencer,
eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como nasci
muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro
para mim que eu queria mesmo era escrever em português.
Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só
para que minha abordagem do português
fosse virgem e límpida
Clarice Lispector
pindaro
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1 comentário:
Até a gente se sente constrangida de trazer, a um texto tão bonito, um assunto tão desagradável, mas...
O que sabemos sobre a "gripe das aves"? Porque é que há notícias censuradas, sistematicamente, pelos OCS?
Queria sugerir mais uma visita ao meu blog, SOCIOCRACIA, onde coligi uma série de elementos sobre "o Negócio do Medo". Há para todos os gostos, desde os factos fortemente indiciados, até "teorias da conspiração", plausíveis. Tudo para demonstrar que há muita gente cuja consciência está a ser "agredida" pela campanha de medo da comunicação social e pela censura cerrada e cretina a este tipo de notícias... Peço a todos que divulguem, de modo a criar uma corrente que não possa mais ser ignorada...
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