quinta-feira, agosto 21, 2008

Da cálida crissálida






















Que o fosso da memória se transponha,
que seja a solidão atravessada!
Da cálida crissálida renasça
de novo para o corpo o corpo todo!

Venham as roucas sílabas da posse
no búzio dos ouvidos enroladas!
Sobre a teia das veias impalpáveis,
reconstrua-se a cúpula dos olhos!

Que tudo agora súbito se emprenhe
da realidade que a lembrança apenas
em folha de álbum, ressequida, guarda!

Que eu vá de novo decorar-te a seiva,
como um poema líquido que seja
urgente recitar na eternidade!



David Mourão-Ferreira


pindaro

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