
Já dizia o padre António Vieira ser “inclinação natural anelar ao negado.”
Retira-se de facto sabor acrescido se o alcançado é, antes, recusado.
Melhor ainda, tratando-se de coisa interdita.
E, delícia então, se a coisa é insólita.
O negado mais o proibido mais o insólito casam os cheiros e os sabores por inteiro.
A transgressão, a caça e a guerra amamentam-se disto.
O carácter do pecado navega no encanto da sensibilidade à angústia que fundamenta o interdito, porque transgredir não é negar a proibição, antes é rematá-la, perfazendo-a.
O objecto da dádiva é o descomedimento, soberbo e audaz, e o refluxo das proibições liberta o tumulto da exuberância e a desordem dos clamores e brados.
O paradoxo da tempestade. O rosto anuncia o que o vestido dissimula, o alcance luminoso.
Mas para adivinhar o enigma e ouvir a voz da inacessível solidão tem de se ter bem presente que “em ribeiro grande saltar de trás.”
D. Júlio
Sem comentários:
Enviar um comentário