terça-feira, dezembro 14, 2010

Tábuas de juras mortas




























Os teus olhos, rasto de luz dos meus passos;
a tua testa, lavrada pelo brilho dos punhais;
as tuas sobrancelhas, orla do caminho da tragédia;
as tuas pestanas, mensageiros de longas cartas;
os teus cabelos, corvos, corvos, corvos;
as tuas faces, campo de armas de madrugada;
os teus lábios, hóspedes tardios;
os teus ombros, estátua do esquecimento;
os teus seios, amigos das minhas serpentes;
os teus braços, álamos à porta do castelo;
as tuas mãos, tábuas de juras mortas;
as tuas ancas, pão e esperança;
o teu sexo, lei de fogo na floresta;
as tuas coxas, asas no abismo;
os teus joelhos, máscara da tua altivez;
os teus pés, campo de batalha dos pensamentos;
as tuas solas, criptas em chama;
as tuas pegadas, olho da nossa despedida

Paul Celan

pindaro

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