sexta-feira, junho 17, 2005
Obras particulares
"A divina Elisa tinha agora um amante...
E unicamente por não poder, com a sua costumada honestidade, possuir um legítimo e terceiro marido.
O ditoso moço que ela adorava era com efeito casado...
Casado em Beja com uma espanhola que, ao cabo dum ano desse casamento e de outros requebros, partira para Sevilha, passar devotamente a Semana Santa, e lá adormecera nos braços dum riquíssimo criador de gado.
O marido, pacato apontador de Obras Públicas, continuara em Beja, onde também vagamente ensinava um vago desenho...
Ora uma das suas discípulas era a filha da senhora da “Corte Moreira”: e aí na Quinta, enquanto ele guiava o esfuminho da menina, Elisa o conheceu e o amou, com paixão tão urgente que o arrancou precipitadamente às Obras Públicas, e o arrastou a Lisboa, cidade mais propícia do que Beja a uma felicidade escandalosa, e que se esconde.
O João Seco é de Beja, onde passara o Natal; conhecia perfeitamente o apontador, as senhoras da “Corte Moreira” ; e compreendeu o romance, quando das janelas desse n. 214, onde catalogava a Livraria do Azemel, reconheceu Elisa na varanda da esquina, e o apontador enfiando regaladamente o portão, bem vestido, bem calçado, de luvas claras, com aparência de ser infinitamente mais ditoso naquelas obras particulares do que nas Públicas..."
eça de queirós
pindaro
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