domingo, junho 12, 2005
Peregrinos corados de sol
"Queria ter uma camisa
De um tecido bem fiado
Feita de todos os ais
Que o teu peito já tem dado"
E ao cimo da rua apareceu um homem forte, de uma bela palidez de mármore.
Tinha os olhos negros como dois sóis legendários do país do Mal. Negros eram os cabelos, poderosos e resplandecentes.
Tinha presa ao peito do corpete uma flor vermelha de cacto.
Atrás vinha um pajem perfeito como uma das antigas estátuas que fizeram da Grécia a lenda da beleza.
Andava convulsivamente como se ferisse os pés no lajedo. Tinha os olhos inertes e fixos dos Apolos de mármore. Dos seus vestidos saía um cheiro de ambrosia. A testa era triste e serena como as dos que têm a saudade imortal de uma pátria perdida. Trazia na mão uma ânfora esculpida em Mileto, onde se sentia a suavidade dos néctares olímpicos.
O homem da palidez de mármore veio até junto a varanda e, entre as súplicas gemidas da guitarra, disse sonoramente:
— A gentil moça, a linda Yseult da varanda, deixa que estes beiços de homem vão, como dois peregrinos corados de sol, em doce romaria de amor, das suas mãos ao seu colo?
eça de queirós
(o diabo)
pindaro
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