sexta-feira, agosto 05, 2005

Penso por dentro das palavras

"O ensino não é mera informação do saber mas norma de humanidade, testemunho do autêntico. Uma sociedade que só instituísse informações teóricas aplicáveis ao êxito rentável teria a civilização moribunda. É o grande risco da nossa."

"Toda a vida estudei de tudo e o mais que podia, para o que desse e viesse. Não me preparava dia a dia para amanhã e depois ou racionando, como a formiga, do Verão propício ao Inverno rigoroso.
Mas talvez não fosse apenas leviano, como a cigarra, pois nunca tive de dançar no Inverno e cantei sempre."

"Nisto de fabulário (...) cheguei a pensar em escrever eu mesmo a minha fábula, que seria O Rouxinol e o Mocho, para tentar tirar a limpo o que seria a moral da minha passagem por este mundo: pois já nos bons tempos de Coimbra eu era, entre os sábios aquiescentes, um poeta extraviado, e entre os poetas maliciosos um sábio enganado no número da porta..."

"Sessenta anos de letras fizeram de mim uma espécie de corrente contínua da fala - penso em acto, e como que já nem posso fazer funcionar o interruptor, esperar a caridade de um pouco de vida vegetativa, que os velhos tanto apreciam à imagem e esfíngica semelhança dos Gatos de Baudelaire, texto que por acaso não saltei nas minhas negligências de ofício...

"Como sou filólogo, linguista à antiga, penso por dentro das palavras e, aqui, recorro a Virgílio: Exerceo diem."



Vitorino Nemésio



(dezembro de 1971
ultima lição)

brventa

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