domingo, setembro 18, 2005

Não o pretexto para uma pirueta






Com os costumes andam os aforismos. Assim, eis que eles tomam um carácter mais criticador e vibrante, isto na linguagem de Karl Kraus, homem sagaz e ventríloquo de certas causas que a sociedade não confia à voz pública.

Ele diz, por exemplo: «As mulheres, no Oriente, têm maior liberdade. Podem ser amadas». Ou então: «A vida de família é um ataque à vida privada». Ou ainda: «A democracia divide os homens em trabalhadores e preguiçosos. Não está destinada para aqueles que não têm tempo para trabalhar». Tudo isto, como axioma, lembra Bernard Shaw, esse inglês azedo e endiabrado cujo Manual do Revolucionário fez o encanto da nossa adolescência.

Todavia, o aforismo do homem de letras, se impressiona, quase nunca comove ninguém. O autêntico aforismo não é uma arte - é uma espécie de pastorícia cultural. Não está destinado a divertir nem a chocar as pessoas, mas, acima de tudo, propõe-se transmitir uma orientação. É uma lição, e não o pretexto para uma pirueta.



Agustina Bessa-Luís
Alegria do Mundo





pindaro

1 comentário:

-sOliNo- disse...

e depois de encontrar outro solino nesse mundo bloguístico, encontrar um q jah naum bloga :P