sexta-feira, setembro 23, 2005

No paladar de mudar mais se sente o gosto agudo







Xácara das Mulheres Amadas





Quem muitas mulheres tiver,

em vez de uma amada esposa,

mais se afirma e se repousa

pera amar sua mulher;

quem isto não entender...

em cousas d'amor não ousa,

em cousas d'amor não quer!



Quantas mais, mais se descansa,

mais a gente serve a todas;

quantas mais forem as bodas,

quantos mais os pares da dança,

menos a dança nos cansa

o gosto d'andar nas rodas.



Que quantas mais, mais detido

a cada uma per si;

nem cansa tanto o que vi,

nem fica o gosto partido;

ao contrário, é acrescido

a cada uma per si!



No paladar de mudar

mais se sente o gosto agudo:

que amar nada ou amar tudo

é estar pronto a muito amar;

o enjoo vem de não estar

a par do nada e do tudo.



Mais facilmente se chega

pera muitas que pera uma;

e a razão é porque, em suma,

se esta razão me não cega,

quem quer que muitas adrega

é cono tendo... nenhuma!



Com muitas, descanso vem,

faz o desejo acrescido:

que é o mais apetecido

aquilo que se não tem;

e o apetite é o bem;

e em saciá-lo é perdido.



Também a mulher que tem

seu marido repartido

é mais gostosa do bem

que advém de seu marido!



Tão gostosa e recolhida,

tão pronta e tão conformada,

quanto o gosto é não ter nada;

porque o gosto é ser servida

e não o estar contentada.

O gosto é cousa corrente,

e quem o tem já não sente

o gosto dessa corrida,

que tê-lo, é cousa... jazente...

que tê-lo, é cousa... perdida!



Ora, pois, nesta jornada

não vi nada mais de amar

que ter muito por chegar

e cousa alguma chegada;

não vi nada mais de ter...

que ter muito que perder...

e cousa alguma ganhada!



MÁRIO SAA
(in poesia eterna)







pindaro

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