segunda-feira, agosto 14, 2006

O paradoxo da tempestade




"O desconhecido vicia"
Fuazi Arap





Já dizia o padre António Vieira ser “inclinação natural anelar ao negado.”

Retira-se de facto sabor acrescido se o alcançado é, antes, recusado.
Melhor ainda tratando-se de coisa interdita.
E delícia, então, se a coisa é insólita.

O negado mais o proibido mais o insólito casam os cheiros e os sabores por inteiro.

A transgressão, a caça e a guerra amamentam-se disto.

O carácter do pecado navega no encanto da sensibilidade à angústia que fundamenta o interdito, porque transgredir não é negar a proibição, antes é rematá-la, perfazendo-a.

O objecto da dádiva é o descomedimento, soberbo e audaz, e o refluxo das proibições liberta o tumulto da exuberância e a desordem dos clamores e brados.

O paradoxo da tempestade. O rosto anuncia o que o vestido dissimula, o alcance luminoso.

Mas para adivinhar o enigma e ouvir a voz da inacessível solidão tem de se ter bem presente o ensinamento de Roíz Lobo : em ribeiro grande saltar de trás.





D. Júlio

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