domingo, agosto 06, 2006
Um belíssimo sinal da cruz
“Os piratas, esses sim, tinham aplomb e conheciam as sombras”
anónimo
É o que se tira da carta à rainha, da pluma de Sir Walter Raleigh:
“Dêem-me a minha concha de silêncio,
O meu bordão de fé, para me amparar,
A minha escritura de júbilo, imortal dieta,
A minha garrafa de salvação,
A minha toga de glória, verdadeiro penhor de esperança,
E então farei a peregrinação.”
O navegante, dominador que era de obscuridades subtis, tinha por certo lido os ensinamentos do grande Giordano Bruno em “The shadows of ideas”:
“A sombra tempera a luz ... As sombras não se dissolvem,
Mas mantêm e protegem a luz que há em nós
E conduzem-nos ao conhecimento e à recordação.”
Mais tarde, Sir Thomas Browne, gourmet de trevas e sombreados, dado a sínteses, dobrou esta esquina bicuda com um simples adágio no imperecível “Urne-Burial & Garden of Cyrus”:
“A noite do tempo supera em muito o dia.”
(Percebe-se a tirada de Virgínia Woolf: “But why fly in the face of facts? Few people love the writings of Sir Thomas Browne, but those who do are of the salt of the Earth.”)
Foi depois que Voltaire, dando moldura às estátuas e aos vultos, arrematou todo o tema das sombras com um belíssimo sinal da cruz:
“É o escândalo público que faz a ofensa, pecar em segredo não é sequer pecar.”
Solino
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