quinta-feira, julho 07, 2005

Pardo do lusco-fusco






NA ALDEIA


"Ao romper da alva, ainda o dia vem longe, cada corte parece um saco sem fundo donde vão saindo movediços novelos de lã.

Quem olha as suas ruelas a essa hora, vê apenas um tapete fofo, ondulante, pardo do lusco-fusco, a cobrir os lajedos.

Depois o sol levanta-se e ilumina os montes.

E todos eles mostram amorosamente nas encostas os brancos e mansos rebanhos que tosam o panasco macio.

A riqueza da aldeia são as crias, o leite e aquelas nuvens merinas que se lavam, enxugam e cardam pelo dia fora, e nas fiadas se acabam de ordenar.

Numa loja de gado, ao quente bafo animal, junta-se o povo.

Todos os moradores se cotizam para a luz de carboneto ou de petróleo, e o serão começa.

É no inverno, nas grandes noites sem-fim, que se goza na aldeia essa fraternidade."


miguel torga


pindaro

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