sábado, janeiro 13, 2007
De tanto sentir o mar
Já o cais não é de pedra,
De tanto sentir o Mar.
Já nãoé, a pedra, lisa:
Já ganha forma de velas
Pandas de vento e de orgulho;
Já deixou de ser branquinha
P’ra ser azul como as águas.
Já o cordame, que sonha
Noite e dia sobre o cais,
O tem o sonho tornado
Em algas prenhes de iodo.
Degraus de pedra se animam
E pelas ondas se atrevem
-botes sem mestre, perdidos,
sem outro leme que o gosto
de ir pelas ondas adentro.
Marujos que nunca o foram,
Assentadinhos no cais
Desde a hora de nascer,
Quem foi que disse que tinham
Raízes naquelas pedras?
Já lhes despontam nas costas,
Já por ares e mares os levam
Asas leves de gaivota.
Cada traineira que passa
Convida o cais a sair.
Já o cais não é de pedra.
- : O sal moldou-lhe uma quilha,
As ondas o encurvaram,
Os limos o arrastaram
P’ra lá de todo o limite
E o cais cedeu ao convite
Se ser um barco sem mestre.
Lá vai perdido nas ondas
E não lhe importa a chegada.
Deitou a bússola ao Mar.
Fez uma estaca do leme
Que atesta o sítio em que foi.
Voltou as costas à terra
E o seu destino cumpriu-se,
Que era partir e mais nada.
Sebastião da Gama
Pindaro
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