segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Os Vencidos da vida (por Fialho)
"Dúzia e meia de ratões que se ajuntaram para envelhecer, supportando uma vez por semana, a sensaboria dos vinhos do Braganza e a chateza deprimente dos menus.
À sobremeza, habitualmente, os vencidos da vida dizem mal, com mais ou menos verve - o que é uma vingança lícita, na bocca de indivíduos de quem se tem dito mal, sem verve nenhuma.
Um terço é celebre, o outro dá-se ares de o ser, e emfim o último faz um fundo de comparsaria pagante, destinado a fazer o talento maquillé dos outros dois.
Mal humorada sempre, a opinião pública, ao ler no Tempo as descripções dos seus banquetes, pergunta o que é que esse grupo pretende, e intenta, e mira longe.
A resposta é simples.
Os Vencidos da Vida, quando juntos, o que pretendem é jantar; depois de jantar, o que intentam é digerir; e digestão finda, se alguma coisa ao longe miram, tanto póde ser um ideal, como um water-closet.
Não há portanto razão p´ra sobressaltos.
Que os Vencidos jantem em paz.
E se a obscuridade os consola das amarguras soffridas na via pública, fiquemos nisto - a história nem sempre fixa os nomes dos que bebem champagne."
Píndaro
domingo, fevereiro 27, 2005
Discortês liberal
“Este princípio do senso comum inspira-lhe uma série de conceitos, enunciados sob a forma de provérbios, considerando-os, no discurso irónico que lhe é peculiar, muito importantes à quietação e sossego da vida de uma Aldeia:
Melhorar o hóspede no assento, e a mim no mantimento;
dar-lhe nas cortesias o que a mim nas iguarias; ele o primeiro no prato e a mim o melhor bocado.
Se for pouco o vinho, beba eu diante, que quem leva a primeira não fica sem ela.
Se for pouco o pão, tê-lo eu na mão , por não pôr nas de cortesia o que folgo de ter na minha.
Não tirar prato de diante sem vir outro que mo alevante.
Enquanto outrem apara, fingir que não vejo a faca.
Se os outros falarem muito, dizer os amêns, porque ovelha que bala, bocado perde.
Enquanto tiver fome zombar de quem não come.
E quando tiver sede, lembrá-la a quem não bebe...”
Francisco roíz lobo
solino
Melhorar o hóspede no assento, e a mim no mantimento;
dar-lhe nas cortesias o que a mim nas iguarias; ele o primeiro no prato e a mim o melhor bocado.
Se for pouco o vinho, beba eu diante, que quem leva a primeira não fica sem ela.
Se for pouco o pão, tê-lo eu na mão , por não pôr nas de cortesia o que folgo de ter na minha.
Não tirar prato de diante sem vir outro que mo alevante.
Enquanto outrem apara, fingir que não vejo a faca.
Se os outros falarem muito, dizer os amêns, porque ovelha que bala, bocado perde.
Enquanto tiver fome zombar de quem não come.
E quando tiver sede, lembrá-la a quem não bebe...”
Francisco roíz lobo
solino
O sal ou os afeitos do ânimo
”Primeiramente o sal (disse o Doutor Lívio), a quem um autor chamou conduto de todos os outros, é o que dá sabor e faz apetite ao desejo para todos eles.
- Muito se parece nisso com a fome (acudiu Solino).
-Assim é (disse o Doutor), porém tem de mais que os conserva e sustenta com sua força; por os quais atributos Homero e Platão chamaram ao sal divino; e assim como os mantimentos sem ele não obrigam a vontade assim por ele, como disse Plínio, significamos os afeitos do ânimo, chamando homem sem sal, prática sem ele, riso em sosso, e ainda fermosura sem sal, como escreveu Catulo de Quíncia que, pintando-a fermosa, branca e comprida, diz que em toda aquela figura não havia pedra de sal.
De maneira que, conforme a este sentido, o sal é uma graça ou composição da prática, do rosto ou do movimento do andar, que faz as pessoas aprazíveis.
E esta, segundo alguns, particularmente se declara no que obriga a siso e alegria, com um modo de murmuração leve.
Donde Séneca disse que o sal da conversação dos amigos não havia de ter dentes; e assim como os mantimentos que têm mais sal fazem maior sede a quem os come, assim a conversação, que tem mais dele, é mais apetitosa e desejada dos ouvintes e como, sem sal, todas as iguarias são sem sabores e desgostosas, assim a prática onde a sua graça falta é puro fastio.
Porém, quanto a mim, o que da tenção destes autores convém mais com o nosso modo de falar, sal quer dizer graça, que é o contrário da frieza e sensaboria, e dizemos do gracioso que é salgado, e do bem dito, que tem muito sal, e do que o não é, que não tem nenhum.
Sendo a causa geral porque lhes parecia aos antigos que se apartava e perdia a amizade, entornando-se o sal que na mesa fazia a figura dela.
E, à semelhança, tinham por boa sorte derramar-se o vinho, que como era símbolo de alegria e contentamento, desejavam que entre todos se espalhasse."
francisco roíz lobo
píndaro
- Muito se parece nisso com a fome (acudiu Solino).
-Assim é (disse o Doutor), porém tem de mais que os conserva e sustenta com sua força; por os quais atributos Homero e Platão chamaram ao sal divino; e assim como os mantimentos sem ele não obrigam a vontade assim por ele, como disse Plínio, significamos os afeitos do ânimo, chamando homem sem sal, prática sem ele, riso em sosso, e ainda fermosura sem sal, como escreveu Catulo de Quíncia que, pintando-a fermosa, branca e comprida, diz que em toda aquela figura não havia pedra de sal.
De maneira que, conforme a este sentido, o sal é uma graça ou composição da prática, do rosto ou do movimento do andar, que faz as pessoas aprazíveis.
E esta, segundo alguns, particularmente se declara no que obriga a siso e alegria, com um modo de murmuração leve.
Donde Séneca disse que o sal da conversação dos amigos não havia de ter dentes; e assim como os mantimentos que têm mais sal fazem maior sede a quem os come, assim a conversação, que tem mais dele, é mais apetitosa e desejada dos ouvintes e como, sem sal, todas as iguarias são sem sabores e desgostosas, assim a prática onde a sua graça falta é puro fastio.
Porém, quanto a mim, o que da tenção destes autores convém mais com o nosso modo de falar, sal quer dizer graça, que é o contrário da frieza e sensaboria, e dizemos do gracioso que é salgado, e do bem dito, que tem muito sal, e do que o não é, que não tem nenhum.
Sendo a causa geral porque lhes parecia aos antigos que se apartava e perdia a amizade, entornando-se o sal que na mesa fazia a figura dela.
E, à semelhança, tinham por boa sorte derramar-se o vinho, que como era símbolo de alegria e contentamento, desejavam que entre todos se espalhasse."
francisco roíz lobo
píndaro
sábado, fevereiro 26, 2005
Procurando no inesperado (III)
(as camadas profundas do sentir)
"Ay flores! Ay flores de verde pino
Se sabedes novas do meu amigo
Ay Deus, e hu é?"
D. Deniz
O Conde de Sabugosa admite: nem podemos referir cada um dos lances desse enredado jogo de xadrez em que se disputavam os consórcios reais...
Tinha D. Sebastião quatro anos, destinaram-lhe os Estados Margarida de Valois.
Mas o manhoso Felipe, rei da Espanha, contrariou a escolha e antepôs Isabel da Áustria.
Mais tarde, porém, inúmeras vicissitudes passadas, aceitou afinal aquela ideia e, com a sua autoridade de tio, propôs-se casar Margarida com o rei de Portugal.
Só que o moço rei, parece que ajudado pelo jesuíta Gonçalves da Câmara, não esteve por tal ajuste.
Enredou-se, então, ainda mais com incidentes essa emaranhada teia fabricada pela laboriosa e taciturna aranha que, do fundo do Escurial, fazia e desfazia projectos de casamento, na mente de formar a Monarquia universal.
Pelo meio, era fama que o tal Câmara e seu irmão, além de outras coisas praticadas pelo rei, eram os causadores do malogro dos seus noivados.
Tanto assim, que um dia Martim Afonso de Sousa, fidalgo de muita autoridade, interpelou Luís Gonçalves da Câmara:
Que he isto que dizem, que ensinais El-Rey a que não olhe para as mulheres?
Senhor Martim Afonso, respondeu o jesuíta, por tão pouco considerado me tendes que cuidais de mim que não entendo que El-Rey ha de ser homem e ha de ter tais e tais partes; Eu não direi a El-Rey que seja amigo de mulheres, mas
se ele o fosse sem desordem, não lho estranharia; mas que quereis vós que façamos à natural inclinação que nele ha?
De facto, não era atreito o moço rei a apertos femeninos.
O capitão de Deus fazia arco com os braços para que as damas o não abraçassem por modo de carinhoso agrado.
Não deixa de ser curioso pensar que houve tantos esforços para casá-lo com Margarida de Valois, a licenciosa Margot, de libertina e romanesca memória.
Celebrada pelo cínico e amoral cortesão Senhor de Bourdeille, que falou da sedução da sua beleza, da perfeição das suas formas e ainda das mais reservadas linhas do seu corpo.
Comenta o Conde de Sabugosa: É irresistível a força do íman que atrai a fantasia para o campo das hipóteses.
Ligado à impetuosa e devastadora Valois é possível que D. Sebastião, afastando os rabugentos Câmaras, se suicidasse extenuado de amor. Teria sido um Alcácer Kibir menos glorioso, mas com menor ruína para a nação.
O moço rei ainda pediu mais tarde a seu tio Felipe II a mão de sua filha, mas neste subsistiam antigas suspeitas, que o haviam induzido a mandar a Lisboa o seu médico Almançón e Cristovao de Moura, com a missão de averiguarem disfarçadamente se D. Sebastião tinha qualidades físicas que o tornassem capaz de ter geração...
Belo como os arcanjos, se às mulheres impressionava, parece que também ele sentiu por vezes a perturbante influência da mulher, e se os sentidos o não dominavam, algumas inclinações amorosas puramente cerebrais, indicam que não era indiferente à graça feminina.
Para tudo ser estranho no destino do moço rei só uma das suas aventuras amorosas teve seguimento. E essa foi póstuma.
Píndaro
"Ay flores! Ay flores de verde pino
Se sabedes novas do meu amigo
Ay Deus, e hu é?"
D. Deniz
O Conde de Sabugosa admite: nem podemos referir cada um dos lances desse enredado jogo de xadrez em que se disputavam os consórcios reais...
Tinha D. Sebastião quatro anos, destinaram-lhe os Estados Margarida de Valois.
Mas o manhoso Felipe, rei da Espanha, contrariou a escolha e antepôs Isabel da Áustria.
Mais tarde, porém, inúmeras vicissitudes passadas, aceitou afinal aquela ideia e, com a sua autoridade de tio, propôs-se casar Margarida com o rei de Portugal.
Só que o moço rei, parece que ajudado pelo jesuíta Gonçalves da Câmara, não esteve por tal ajuste.
Enredou-se, então, ainda mais com incidentes essa emaranhada teia fabricada pela laboriosa e taciturna aranha que, do fundo do Escurial, fazia e desfazia projectos de casamento, na mente de formar a Monarquia universal.
Pelo meio, era fama que o tal Câmara e seu irmão, além de outras coisas praticadas pelo rei, eram os causadores do malogro dos seus noivados.
Tanto assim, que um dia Martim Afonso de Sousa, fidalgo de muita autoridade, interpelou Luís Gonçalves da Câmara:
Que he isto que dizem, que ensinais El-Rey a que não olhe para as mulheres?
Senhor Martim Afonso, respondeu o jesuíta, por tão pouco considerado me tendes que cuidais de mim que não entendo que El-Rey ha de ser homem e ha de ter tais e tais partes; Eu não direi a El-Rey que seja amigo de mulheres, mas
se ele o fosse sem desordem, não lho estranharia; mas que quereis vós que façamos à natural inclinação que nele ha?
De facto, não era atreito o moço rei a apertos femeninos.
O capitão de Deus fazia arco com os braços para que as damas o não abraçassem por modo de carinhoso agrado.
Não deixa de ser curioso pensar que houve tantos esforços para casá-lo com Margarida de Valois, a licenciosa Margot, de libertina e romanesca memória.
Celebrada pelo cínico e amoral cortesão Senhor de Bourdeille, que falou da sedução da sua beleza, da perfeição das suas formas e ainda das mais reservadas linhas do seu corpo.
Comenta o Conde de Sabugosa: É irresistível a força do íman que atrai a fantasia para o campo das hipóteses.
Ligado à impetuosa e devastadora Valois é possível que D. Sebastião, afastando os rabugentos Câmaras, se suicidasse extenuado de amor. Teria sido um Alcácer Kibir menos glorioso, mas com menor ruína para a nação.
O moço rei ainda pediu mais tarde a seu tio Felipe II a mão de sua filha, mas neste subsistiam antigas suspeitas, que o haviam induzido a mandar a Lisboa o seu médico Almançón e Cristovao de Moura, com a missão de averiguarem disfarçadamente se D. Sebastião tinha qualidades físicas que o tornassem capaz de ter geração...
Belo como os arcanjos, se às mulheres impressionava, parece que também ele sentiu por vezes a perturbante influência da mulher, e se os sentidos o não dominavam, algumas inclinações amorosas puramente cerebrais, indicam que não era indiferente à graça feminina.
Para tudo ser estranho no destino do moço rei só uma das suas aventuras amorosas teve seguimento. E essa foi póstuma.
Píndaro
Procurando no inesperado (II)
(Intrincado labirinto)
"Este sonho que sonhei
He verdade muito certa
que la da Ilha Encoberta
Ha de chegar este Rey"
G. A. Bandarra
Continuando, agora no terreno das propensões amoráveis, o Conde fala de um dos enigmas que mais despertou a atenção dos contemporâneos, e tem provocado a curiosidade dos investigadores: a capacidade de emoção amorosa do moço rei.
No seu tempo o problema agitou a Europa, e todos os que estudam a sua época e a personalidade do fantástico príncipe se quedaram indecisos acerca dos verdadeiros motivos que o levaram a desfazer projectos de casamento e a não se deixar captivar pelas seduções da mulher.
Sabugosa avalia as possibilidades:
Seria a castidade, aconselhada pelo velho Aleixo de Meneses e a abstenção imposta pela disciplina da Igreja que o levaram a aborrecer as bodas?
Seria a conservação da virgindade preconizada pelas regras de Cavalaria aos seus paladinos para melhor desempenharem as empresas sublimes?
Seria o horror à mulher, ente que, segundo muitos dos que ele admirava, foi sempre causa e motivo de afrouxamento de carácter e tibieza nas resoluções?
Seria a repulsão pela fêmea – aborrendo le done, mai non volle moglie – de que fala o historiador italiano?
Seria a nitidez exagerada da puberdade perante os mistérios da iniciação amorosa?
Seria o sentimento da fidelidade absoluta para com essa entidade abstracta de irresistível atracção – a glória militar – que o afastava das carícias femininas, como se vestisse a túnica tecida com as folhas de agnus castus, em que as matronas gregas se envolviam durante as festas de Céres?
Seria a incapacidade física a que se referia o Embaixador espanhol nas suas comunicações?
Seria um amor único, e cuidadosamente escondido, que o isolou da influência das Formosas que o rodeavam , e lhe afastou o sentido das noivas que lhe foram destinadas?
D. Sebastião, contemporiza o Conde, não é decerto um galanteador, como tantos dos seus antecessores, ou um incorrigível femeeiro como alguns deles.
Mas não é exacto que recusasse em absoluto o casamento, nem escapa a que a bisbilhotice lhe aponte algumas inclinações amorosas.
O capítulo dos projectos matrimoniais deste rei é complicado, arremata Sabugosa, que acrescenta o comentário do Padre Baião: Intrincado Labirinto
Píndaro
(o tema levará ainda ao procurando no inesperado III)
"Este sonho que sonhei
He verdade muito certa
que la da Ilha Encoberta
Ha de chegar este Rey"
G. A. Bandarra
Continuando, agora no terreno das propensões amoráveis, o Conde fala de um dos enigmas que mais despertou a atenção dos contemporâneos, e tem provocado a curiosidade dos investigadores: a capacidade de emoção amorosa do moço rei.
No seu tempo o problema agitou a Europa, e todos os que estudam a sua época e a personalidade do fantástico príncipe se quedaram indecisos acerca dos verdadeiros motivos que o levaram a desfazer projectos de casamento e a não se deixar captivar pelas seduções da mulher.
Sabugosa avalia as possibilidades:
Seria a castidade, aconselhada pelo velho Aleixo de Meneses e a abstenção imposta pela disciplina da Igreja que o levaram a aborrecer as bodas?
Seria a conservação da virgindade preconizada pelas regras de Cavalaria aos seus paladinos para melhor desempenharem as empresas sublimes?
Seria o horror à mulher, ente que, segundo muitos dos que ele admirava, foi sempre causa e motivo de afrouxamento de carácter e tibieza nas resoluções?
Seria a repulsão pela fêmea – aborrendo le done, mai non volle moglie – de que fala o historiador italiano?
Seria a nitidez exagerada da puberdade perante os mistérios da iniciação amorosa?
Seria o sentimento da fidelidade absoluta para com essa entidade abstracta de irresistível atracção – a glória militar – que o afastava das carícias femininas, como se vestisse a túnica tecida com as folhas de agnus castus, em que as matronas gregas se envolviam durante as festas de Céres?
Seria a incapacidade física a que se referia o Embaixador espanhol nas suas comunicações?
Seria um amor único, e cuidadosamente escondido, que o isolou da influência das Formosas que o rodeavam , e lhe afastou o sentido das noivas que lhe foram destinadas?
D. Sebastião, contemporiza o Conde, não é decerto um galanteador, como tantos dos seus antecessores, ou um incorrigível femeeiro como alguns deles.
Mas não é exacto que recusasse em absoluto o casamento, nem escapa a que a bisbilhotice lhe aponte algumas inclinações amorosas.
O capítulo dos projectos matrimoniais deste rei é complicado, arremata Sabugosa, que acrescenta o comentário do Padre Baião: Intrincado Labirinto
Píndaro
(o tema levará ainda ao procurando no inesperado III)
sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Procurando no inesperado (I)
(numa manhã de cerração...)
“Vejo sem abrir os olhos
Tanto ao longe como ao perto
Quem mate d´águia os polhos,
Virá do mundo encoberto”
Gonçalo Anes Bandarra (Sonho 5º- Trova 5ª)
O Conde de Sabugosa aprimorou-se, entre uma mão cheia de literatura saborosa, num carnudo texto sobre um dos motes históricos mais prodigiosos que imaginar se possa:
El-Rei D. Sebastião.
Rei Cavaleiro para uns, nevropata para outros, Encoberto o apelidaram e Encoberto ficou, entre o nevoeiro simbólico com que a imaginação do povo o envolveu, e através do qual ansiava por que rompesse numa manhã de nevoeiro.
Se alguns académicos, servidos dos argumentos das ciências positivas, viram o rei como um monarca autoritário, com ímpetos enfermiços, um tresloucado guindado a herói, para o Conde o moço Rei consubstanciava em si as partículas anímicas de todo um povo, a quem o instinto da própria decadência impelia às empresas ousadas que lhe dessem a ilusão da antiga virilidade.
Fala-nos o Conde, em síntese refinada, do suicídio sublime de Alcácer Kibir, que representava o supremo arranco deste pequeno bando de aventureiros ocidentais.
Por isso, logo após a derrota e o desaparecimento, a figura do rei começa a renascer das próprias cinzas, numa aura de amoroso enlevo, que se transforma em sebastianismo.
E, sobre este, discorre, chamejando:
O sebastianismo não é só a aspiração messiânica de uma raça, ou a mística esperança num milagre próximo, não é apenas o sintoma mórbido que indica a alucinação do náufrago ou do moribundo;
Não é somente uma consequência da caquexia nacional, ou a aspiração nascida no pressentimento do próximo esfacelamento orgânico.
É tudo isso, mas é muito mais.
E como todos os sentimentos complexos, e como todas as ideias vagas, apresenta formas diversas segundo as épocas em que desabrocha.
É um arrepio pré-tumular, logo após a catástrofe.
É a nostalgia da pátria livre, durante os anos de escravidão.
É a esperança de um ressurgimento, de uma explosão de energias latentes, quando o organismo social começa a reaver a consciência da sua força.
É a expressão do desalento, quando sente esgotada a seiva vigorosa que lhe corria nas veias, durante a mocidade.
É o génio da raça portuguesa aventureira, generosa, irrequieta, procurando no inesperado e no sobrenatural a solução de problemas melindrosos.
E porque esse rei encarnou tantas das qualidades que caracterizam o português , e tantos dos defeitos que lhe desvairam a alma;
porque prefere as empresas heróicas combatendo inimigos longínquos, e as correrias atrás de uma quimera, às pacíficas ocupações da gestão dos negócios públicos;
porque é mais um chefe guerreiro que um pastor de povos;
porque caminha de olhos fechados para a ruína, levando consigo ao sorvedouro trágico a flor de Portugal, e na sua bagagem os petrechos com que se haviam de correr as canas, e alcanzias, e organizar os torneios festivos no dia da vitória...
Tem esse rei o heroísmo, a generosidade louca, o quid sobre humano que seduz .
Vem trazido numa onda de profecias e de lágrimas que tanto impressionam a alma céltica.
E a pluma que encima o elmo, arrancado ao jovem capitão de Deus pelos Alarves no mais aceso da refrega, continua tremulando intemeratamente, através dos tempos pela História adiante ....
Para mais acirrar a curiosidade dos pósteros há em volta dele um ambiente de mistério e na História a incerteza do seu destino. É desse interesse, desse mistério, dessa incerteza que nasceu a lenda, e se compôs a mística toada do sebastianismo, que se perpetuou em sucessivas gerações.
Ele ficou o Desejado, ele ficou o Encoberto!
Píndaro
(tendo em conta a actualidade do tema do encoberto - nos aspectos "desejado" e "inclinação sexual de governantes" - seguir-se-á procurando no inesperado II)
“Vejo sem abrir os olhos
Tanto ao longe como ao perto
Quem mate d´águia os polhos,
Virá do mundo encoberto”
Gonçalo Anes Bandarra (Sonho 5º- Trova 5ª)
O Conde de Sabugosa aprimorou-se, entre uma mão cheia de literatura saborosa, num carnudo texto sobre um dos motes históricos mais prodigiosos que imaginar se possa:
El-Rei D. Sebastião.
Rei Cavaleiro para uns, nevropata para outros, Encoberto o apelidaram e Encoberto ficou, entre o nevoeiro simbólico com que a imaginação do povo o envolveu, e através do qual ansiava por que rompesse numa manhã de nevoeiro.
Se alguns académicos, servidos dos argumentos das ciências positivas, viram o rei como um monarca autoritário, com ímpetos enfermiços, um tresloucado guindado a herói, para o Conde o moço Rei consubstanciava em si as partículas anímicas de todo um povo, a quem o instinto da própria decadência impelia às empresas ousadas que lhe dessem a ilusão da antiga virilidade.
Fala-nos o Conde, em síntese refinada, do suicídio sublime de Alcácer Kibir, que representava o supremo arranco deste pequeno bando de aventureiros ocidentais.
Por isso, logo após a derrota e o desaparecimento, a figura do rei começa a renascer das próprias cinzas, numa aura de amoroso enlevo, que se transforma em sebastianismo.
E, sobre este, discorre, chamejando:
O sebastianismo não é só a aspiração messiânica de uma raça, ou a mística esperança num milagre próximo, não é apenas o sintoma mórbido que indica a alucinação do náufrago ou do moribundo;
Não é somente uma consequência da caquexia nacional, ou a aspiração nascida no pressentimento do próximo esfacelamento orgânico.
É tudo isso, mas é muito mais.
E como todos os sentimentos complexos, e como todas as ideias vagas, apresenta formas diversas segundo as épocas em que desabrocha.
É um arrepio pré-tumular, logo após a catástrofe.
É a nostalgia da pátria livre, durante os anos de escravidão.
É a esperança de um ressurgimento, de uma explosão de energias latentes, quando o organismo social começa a reaver a consciência da sua força.
É a expressão do desalento, quando sente esgotada a seiva vigorosa que lhe corria nas veias, durante a mocidade.
É o génio da raça portuguesa aventureira, generosa, irrequieta, procurando no inesperado e no sobrenatural a solução de problemas melindrosos.
E porque esse rei encarnou tantas das qualidades que caracterizam o português , e tantos dos defeitos que lhe desvairam a alma;
porque prefere as empresas heróicas combatendo inimigos longínquos, e as correrias atrás de uma quimera, às pacíficas ocupações da gestão dos negócios públicos;
porque é mais um chefe guerreiro que um pastor de povos;
porque caminha de olhos fechados para a ruína, levando consigo ao sorvedouro trágico a flor de Portugal, e na sua bagagem os petrechos com que se haviam de correr as canas, e alcanzias, e organizar os torneios festivos no dia da vitória...
Tem esse rei o heroísmo, a generosidade louca, o quid sobre humano que seduz .
Vem trazido numa onda de profecias e de lágrimas que tanto impressionam a alma céltica.
E a pluma que encima o elmo, arrancado ao jovem capitão de Deus pelos Alarves no mais aceso da refrega, continua tremulando intemeratamente, através dos tempos pela História adiante ....
Para mais acirrar a curiosidade dos pósteros há em volta dele um ambiente de mistério e na História a incerteza do seu destino. É desse interesse, desse mistério, dessa incerteza que nasceu a lenda, e se compôs a mística toada do sebastianismo, que se perpetuou em sucessivas gerações.
Ele ficou o Desejado, ele ficou o Encoberto!
Píndaro
(tendo em conta a actualidade do tema do encoberto - nos aspectos "desejado" e "inclinação sexual de governantes" - seguir-se-á procurando no inesperado II)
sábado, fevereiro 19, 2005
Fogo fixo na cúpula
Em plena jornada de pensamento, com vista ao sufrágio, nada virá tão a pêlo como deitar mão de um plano geral de alumiamento e balizagem.
E, do mesmo passo, recordar que em 1589, alguns meses após a derrota da “invencível armada”, o corsário e almirante inglês Sir Francis Drake fez-se ao mar a partir de Plymouth rumo à Península Ibérica.
O que aquilo tem a ver com isto ver-se-á.
Em reflexão, não se perca de vista que a poesia corresponde à música, pois aquela assenta nos ritmos, esta nos sons, e ambas na harmonia. Assim vá de se dar sequiosamente a uma e a outra, como quem, de tão ávido, parece querer matar uma sede de séculos.
Ajuda muito, porque apazigua e, conciliados os génios, vê-se mais claro.
Um pouco como o vinho, segundo nos conta uma antiga cançoneta italiana bem envelhecida:
“Chi ha la rabbia al cuore
si metta al tavolino
con un bichier di vino
la rabbia passerá.”
Rolando a mareagem, começa a atingir-se a afinidade do isto e do aquilo:
É que ver mais claro, no fundo o que importa, ganha muito boa achega com
luz de porto fixa com clarões.
Mormente em estado de atmosfera brumosa.
Aqui reentra o corsário.
Surpreende Peniche, em Maio, numa manhã de sexta-feira.
Reza a história que o jovem Conde de Essex arriscou afogar-se na praia de Nossa Senhora da Consolação para ser o primeiro a tocar terra.
Dias depois desembarca Sir Francis em Cascais, após o que, para o tudo ou nada, vai-se à entrada do Tejo a duelo com D. Alonso de Bazán, que era irmão do primeiro Marquês de Santa Cruz.
A empresa, como se sabe, falhou com um fragor extraordinário.
Ao tornar desordenado à sua terra e às iras da rainha, o soberbo corsário levou, de volta, um passageiro que com ele fora de viagem: D. António Prior do Crato.
Com música, poesia e luzes de porto, fica boa a reflexão.
E nos copos, com o Sir Francis Drake, o Conde de Essex, o D. Alonso de Bazán e o D. António Prior do Crato, fica ainda melhor.
D. Julio
E, do mesmo passo, recordar que em 1589, alguns meses após a derrota da “invencível armada”, o corsário e almirante inglês Sir Francis Drake fez-se ao mar a partir de Plymouth rumo à Península Ibérica.
O que aquilo tem a ver com isto ver-se-á.
Em reflexão, não se perca de vista que a poesia corresponde à música, pois aquela assenta nos ritmos, esta nos sons, e ambas na harmonia. Assim vá de se dar sequiosamente a uma e a outra, como quem, de tão ávido, parece querer matar uma sede de séculos.
Ajuda muito, porque apazigua e, conciliados os génios, vê-se mais claro.
Um pouco como o vinho, segundo nos conta uma antiga cançoneta italiana bem envelhecida:
“Chi ha la rabbia al cuore
si metta al tavolino
con un bichier di vino
la rabbia passerá.”
Rolando a mareagem, começa a atingir-se a afinidade do isto e do aquilo:
É que ver mais claro, no fundo o que importa, ganha muito boa achega com
luz de porto fixa com clarões.
Mormente em estado de atmosfera brumosa.
Aqui reentra o corsário.
Surpreende Peniche, em Maio, numa manhã de sexta-feira.
Reza a história que o jovem Conde de Essex arriscou afogar-se na praia de Nossa Senhora da Consolação para ser o primeiro a tocar terra.
Dias depois desembarca Sir Francis em Cascais, após o que, para o tudo ou nada, vai-se à entrada do Tejo a duelo com D. Alonso de Bazán, que era irmão do primeiro Marquês de Santa Cruz.
A empresa, como se sabe, falhou com um fragor extraordinário.
Ao tornar desordenado à sua terra e às iras da rainha, o soberbo corsário levou, de volta, um passageiro que com ele fora de viagem: D. António Prior do Crato.
Com música, poesia e luzes de porto, fica boa a reflexão.
E nos copos, com o Sir Francis Drake, o Conde de Essex, o D. Alonso de Bazán e o D. António Prior do Crato, fica ainda melhor.
D. Julio
quinta-feira, fevereiro 17, 2005
Pano cru rasgado
“Amar-te a ti, nem sei se com carícias”
Wilson Bueno
Seria uma mulher vestida à trágica, com falares literários e olhos de lua.
Viajante clandestina do sangue.
A vertigem desenhando a distância.
O escrúpulo sorvido à frente do impulso.
A escorrer vícios e milagres.
Fêmea finíssima, dançaria cheia de spleen entre garrafas de conhaque e fumaças de charutos.
Esculpida na verdade profunda do pego das paixões.
No território raso e no arraial voraz.
Nas elegâncias do pecado e na projecção do encontro.
Despida nas suas sedas.
Vestida das suas sedes.
Assim seria.
Solino
Wilson Bueno
Seria uma mulher vestida à trágica, com falares literários e olhos de lua.
Viajante clandestina do sangue.
A vertigem desenhando a distância.
O escrúpulo sorvido à frente do impulso.
A escorrer vícios e milagres.
Fêmea finíssima, dançaria cheia de spleen entre garrafas de conhaque e fumaças de charutos.
Esculpida na verdade profunda do pego das paixões.
No território raso e no arraial voraz.
Nas elegâncias do pecado e na projecção do encontro.
Despida nas suas sedas.
Vestida das suas sedes.
Assim seria.
Solino
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
O Bispo das mercês
“Porque, nas práticas de gosto, primeiro cansam os sentidos que os desejos”
Frl
O império romano era governado por Claudius II e corria o ano 270
Envolvido em campanhas militares sangrentas, o imperador começou a encontrar dificuldades na recruta de mais homens.
Convencido que tais dificuldades vinham dos rapazes não quererem apartar-se das namoradas, amantes e mulheres, o imperador foi às do cabo e proibiu noivados e casamentos.
Mas, a menos de cem quilómetros de Roma, em Terni, o Bispo, valente e amigo do amor, continuou a noivar e a casar os jovens apaixonados.
Claudius condenou-o à morte. Foi decapitado em 14 de Fevereiro.
Era o Bispo Valentim.
Quanto ao amor, é um mistério que se prende com a química secreta e vai da temperatura da pele ao brilho do olhar. Um filtro mágico que lida com paixões, simpatias e humores: animais e espirituais.
É o sal e o sol.
A mais das vezes é Ana e a seguir é Maria.
solino
Frl
O império romano era governado por Claudius II e corria o ano 270
Envolvido em campanhas militares sangrentas, o imperador começou a encontrar dificuldades na recruta de mais homens.
Convencido que tais dificuldades vinham dos rapazes não quererem apartar-se das namoradas, amantes e mulheres, o imperador foi às do cabo e proibiu noivados e casamentos.
Mas, a menos de cem quilómetros de Roma, em Terni, o Bispo, valente e amigo do amor, continuou a noivar e a casar os jovens apaixonados.
Claudius condenou-o à morte. Foi decapitado em 14 de Fevereiro.
Era o Bispo Valentim.
Quanto ao amor, é um mistério que se prende com a química secreta e vai da temperatura da pele ao brilho do olhar. Um filtro mágico que lida com paixões, simpatias e humores: animais e espirituais.
É o sal e o sol.
A mais das vezes é Ana e a seguir é Maria.
solino
Dos movimentos e decoro no praticar
“Parte é o falar bem que leva tudo após si”
Ainda com uma semana por diante, até 20, encomendas e advertências deviam nesta matéria ser feitas por serem de fundamento e importância.
“- Para essas e para o mais que tenho dito, nomearei alguns vícios que são contra o bom termo da prática; que, reprovados nela, acreditarão as minhas opiniões, a que eu não posso, nem quero dar o nome de preceitos, posto que são fundadas em os melhores dos que desta matéria escrevem:
O primeiro é escutar-se um homem a si próprio quando fala, por se contentar no que diz.
O segundo, repetir outra vez o que tem dito, com os olhos nos ouvintes, para que lho gabem.
O terceiro, deter-se tanto nas palavras como que as vai pensando, e compondo para as dizer.
O quarto, ir-se arrimando a bordões para que lhe acudam entanto as palavras.
O quinto, ir à mão ao que quer responder, por querer falar tudo.
O sexto, bracejar muito, e dar grandes risadas a seus próprios ditos.
O sétimo, borrifar as palavras com a humidade da boca, por falar com veemência.
Vós formastes aqui uns sete pecados mortais contra a descrição e cortesania, que não merecerá nela ter graça quem neles estiver culpado.”
F. Roíz Lobo
píndaro
Ainda com uma semana por diante, até 20, encomendas e advertências deviam nesta matéria ser feitas por serem de fundamento e importância.
“- Para essas e para o mais que tenho dito, nomearei alguns vícios que são contra o bom termo da prática; que, reprovados nela, acreditarão as minhas opiniões, a que eu não posso, nem quero dar o nome de preceitos, posto que são fundadas em os melhores dos que desta matéria escrevem:
O primeiro é escutar-se um homem a si próprio quando fala, por se contentar no que diz.
O segundo, repetir outra vez o que tem dito, com os olhos nos ouvintes, para que lho gabem.
O terceiro, deter-se tanto nas palavras como que as vai pensando, e compondo para as dizer.
O quarto, ir-se arrimando a bordões para que lhe acudam entanto as palavras.
O quinto, ir à mão ao que quer responder, por querer falar tudo.
O sexto, bracejar muito, e dar grandes risadas a seus próprios ditos.
O sétimo, borrifar as palavras com a humidade da boca, por falar com veemência.
Vós formastes aqui uns sete pecados mortais contra a descrição e cortesania, que não merecerá nela ter graça quem neles estiver culpado.”
F. Roíz Lobo
píndaro
terça-feira, fevereiro 08, 2005
Impromptus
“Let every artist
Strive to make his flower
A beautiful living thing
Something that will convince
The world that there may be
There are things more precious
More beautiful more lasting than life”
Chas Mackintosh
“Na sua forma mais sublime...a música detém um poder universal que lhe advém da forma prodigiosa como se insinua no mais profundo dos códigos misteriosos pelos quais o corpo transmite os seus sinais ao cérebro.
Assim, o cérebro trata as mensagens musicais como se elas viessem do coração e não do ouvido. Esta música apropria-se da transmissão e chega ao cérebro não somente enquanto som, mas também como sentimento puro. E que sentimento é este para um organismo vivo senão a enunciação dos estados graças aos quais a natureza compõe as emoções mais diversas, desde o desejo ardente do inatingível ou da angústia da partida, à resignação da viagem de Inverno, à febre da aventura, à visita sempre adiada a um lugar desprendido deste mundo?...
Quando esta apropriação acontece, o espírito do ouvinte privilegiado tem a sensação de estar a escutar às portas da sua vida interior, de estar ligado à fonte da existência, longe, bem longe, do quadro mundano da experiência.”
AD
“As origens da música são muito remotas. A música nasce da medida e tem as suas raízes no grande Um. O grande Um engendra os dois pólos; os dois pólos engendram a força da treva e da luz.
Quando o mundo está em paz, quando todas as coisas estão em repouso e seguem as suas superiores nas suas metamorfoses, então pode-se fazer bem música. Quando o desejo e a paixão não vão por falsos caminhos, então pode-se aperfeiçoar a música.
A música perfeita tem a sua causa. Nasce do equilíbrio. O equilíbrio nasce do que é justo, o que é justo nasce do sentido do mundo. Por isso só se pode falar de música com um homem que compreendeu o sentido do mundo.”
Lbw
“Tal como a dança e qualquer outra prática artística, a música foi em épocas pré-históricas um instrumento de magia...
Leonardo
Strive to make his flower
A beautiful living thing
Something that will convince
The world that there may be
There are things more precious
More beautiful more lasting than life”
Chas Mackintosh
“Na sua forma mais sublime...a música detém um poder universal que lhe advém da forma prodigiosa como se insinua no mais profundo dos códigos misteriosos pelos quais o corpo transmite os seus sinais ao cérebro.
Assim, o cérebro trata as mensagens musicais como se elas viessem do coração e não do ouvido. Esta música apropria-se da transmissão e chega ao cérebro não somente enquanto som, mas também como sentimento puro. E que sentimento é este para um organismo vivo senão a enunciação dos estados graças aos quais a natureza compõe as emoções mais diversas, desde o desejo ardente do inatingível ou da angústia da partida, à resignação da viagem de Inverno, à febre da aventura, à visita sempre adiada a um lugar desprendido deste mundo?...
Quando esta apropriação acontece, o espírito do ouvinte privilegiado tem a sensação de estar a escutar às portas da sua vida interior, de estar ligado à fonte da existência, longe, bem longe, do quadro mundano da experiência.”
AD
“As origens da música são muito remotas. A música nasce da medida e tem as suas raízes no grande Um. O grande Um engendra os dois pólos; os dois pólos engendram a força da treva e da luz.
Quando o mundo está em paz, quando todas as coisas estão em repouso e seguem as suas superiores nas suas metamorfoses, então pode-se fazer bem música. Quando o desejo e a paixão não vão por falsos caminhos, então pode-se aperfeiçoar a música.
A música perfeita tem a sua causa. Nasce do equilíbrio. O equilíbrio nasce do que é justo, o que é justo nasce do sentido do mundo. Por isso só se pode falar de música com um homem que compreendeu o sentido do mundo.”
Lbw
“Tal como a dança e qualquer outra prática artística, a música foi em épocas pré-históricas um instrumento de magia...
Começando com o ritmo (batimento de palmas, batimento dos pés no chão, entrechocar de pauzinhos, a arte primitiva do tambor), foi um meio poderoso e provado de “afinar” uma pluralidade, uma multidão de homens, de pôr em concordância a sua respiração, o seu coração e os seus sentimentos, de instigar os homens à invocação e à conjuração das potências eternas, à dança, à luta, à senda da guerra, aos actos sagrados.
E esta essência original, pura, de poder primitivo, a essência dum encantamento, a música conservou-se durante muito mais tempo do que as outras artes....”
HH
E esta essência original, pura, de poder primitivo, a essência dum encantamento, a música conservou-se durante muito mais tempo do que as outras artes....”
HH
Antonio R. Damasio
Liu Boo We (citado por HH)
Hermman Hesse
Leonardo
Fato profugus
“He was the kind of man who was ready for anything, who hoped for nothing…”
ys
Ao Conde Almasy, “el padre de las arenas”
“O deserto não é a ausência.
É o estado anterior à presença, antes da travessia dos nómadas, antes da paragem dos aventureiros...
Donde vem esta nostalgia que trazemos connosco, que nos dá por vezes o sentimento de termos perdido a parte de imensidão que é nossa....
Haverá um espaço perdido que pode ressurgir ao sabor dos nossos confrontos com as imensidões que cruzamos, o céu, os oceanos, os desertos, a noite...
Encerrará o código genético, além dos testamentos, o vestígio de uma viagem sem limites através dos esconderijos do universo...
Há nestes impulsos misteriosos para espaços infinitos, a marca de um esforço para o reencontro com uma imensidão dantes conhecida e, depois, desaparecida...
A vida seria então a construção de um invólucro que desamarra do mundo uma parcela de infinito, para lhe dar um peso, um lugar, um princípio e um fim.”
Ys
“Os desertos da Líbia... as mais belas palavras que conheço. Líbia, uma palavra sensual, arrastada, uma nascente secreta... era uma das poucas palavras em que se ouvia a língua virar uma esquina... um homem será como rios de água na areia seca.
Vivi durante anos no deserto, e acabei por acreditar nestas coisas. É um lugar de recessos. O trompe l´oeil do tempo e da água. O chacal com um olho voltado para trás e outro posto no caminho que pensamos tomar. Traz nos dentes pedaços do passado que nos depõe aos pés, e quando todo esse tempo se nos revela, verificamos que já o conhecíamos.
No deserto, um homem pode agarrar a ausência na concha das mãos, sabendo que tem nela um alimento mais precioso que a água.
Estes homens de todas as nações viajam ao cair da tarde, pelas seis horas, quando reina a luz dos solitários.”
mo
Yves Simon (the wondrous voyager)
Michael Ondaatje (the english patient)
leonardo
segunda-feira, fevereiro 07, 2005
Zona de contacto
“Senhor de San Patrizio – disse Mazarino aproximando um prato de lavagantes vivos que pareciam cozidos de um de lavagantes cozidos que pareciam vivos…”
Umberto Eco
Servem-se por agora não a aboborinha com alho e hortelã e os espetinhos de moela, mas, à guisa de petisco d´alma, sabores espirituais entremeados segundo a sabida regra de Iriarte, que, epigramas, queria-os como abelhas:
“A la abeja semejante
para que cause placer,
el epigrama há de ser
pequeno, dulce e punzante.”
Pensamentos de talher, servidos sem guarnição pelos vateis maiores da santa terrinha.
A esmo, os relances de Camilo, Eça e Fialho:
“Consta que ele foi typographo em Coimbra para pagar os estudos.
Não havia de gastar muito se pagou o que sabe”
“…esses apenas produzem vegetalidades de folhagem amarellada, e alguns tortulhos bravos de espécie venenosa, rajados pela peçonha das velhas inépcias.”
“Trajava com elegância, vestia luva gema de ovo todos os dias, e aos domingos alugava cavalo.”
“Naquele tempo até as mulheres de espírito ruim me pareciam boas.”
“Diz adeus às tuas cabrinhas que eu volto já, filha…”
“Tinha a dose de velhacaria que a natureza concede a cada tolo maior de marca.”
Ccb
“Tinha muita lição de livro mau donde sacava virtuosas parvoiçadas, mas habitava nele um gosto depravado pelo fadinho e um justo amor pelo bacalhau de cebolada.”
“Nesse momento estalavam foguetes ao longe, Lembrei-me que era domingo, dia de touros: de repente uma visão rebrilhou, flamejou, atraindo-me deliciosamente: - era a tourada vista de um camarote; depois um jantar com champagne; à noite, a orgia, como uma iniciação!
Corri à mesa. Atulhei as algibeiras de letras sobre Londres. Descia rua com um furor de abutre fendendo o ar contra a presa.
Uma caleche passava, vazia. Detive-a, berrei:
- Aos touros! “
EdQ
“Duas horas de sala de armas, alguns minutos de cabeleireiro e de clube, um bom alfaiate, uma ponta de desdém, e certo ar fatigado de quem esperdiça a vida sem lhe saborear dos proveitos, bastarão para dar o elegante.”
“Gosto do Parlamento como gosto dos toiros, para me estontear um instante na mancha ondeante das cabeças, nos borborinhos d´entrada, e de sahida, e finalmente, no investir do primeiro bicho.”
“…só aguardam, para bem servir o Estado, que o Estado lhes sirva a eles coito onde amozendem a preguiça gososa que os derranca.”
“Homem, isso não é música, é um boi que saltou a trincheira do sol!
Ora queira embolar-se, amigo Pratas, e fazer o favor de seguir o que lá está.”
FdA
E, depois, mesmo a esmo, as citações, disse Benjamim, são como ladrões de estradas, que fazem um ataque armado e aliviam um ocioso das suas convicções.
Doutor Lívio
Umberto Eco
Servem-se por agora não a aboborinha com alho e hortelã e os espetinhos de moela, mas, à guisa de petisco d´alma, sabores espirituais entremeados segundo a sabida regra de Iriarte, que, epigramas, queria-os como abelhas:
“A la abeja semejante
para que cause placer,
el epigrama há de ser
pequeno, dulce e punzante.”
Pensamentos de talher, servidos sem guarnição pelos vateis maiores da santa terrinha.
A esmo, os relances de Camilo, Eça e Fialho:
“Consta que ele foi typographo em Coimbra para pagar os estudos.
Não havia de gastar muito se pagou o que sabe”
“…esses apenas produzem vegetalidades de folhagem amarellada, e alguns tortulhos bravos de espécie venenosa, rajados pela peçonha das velhas inépcias.”
“Trajava com elegância, vestia luva gema de ovo todos os dias, e aos domingos alugava cavalo.”
“Naquele tempo até as mulheres de espírito ruim me pareciam boas.”
“Diz adeus às tuas cabrinhas que eu volto já, filha…”
“Tinha a dose de velhacaria que a natureza concede a cada tolo maior de marca.”
Ccb
“Tinha muita lição de livro mau donde sacava virtuosas parvoiçadas, mas habitava nele um gosto depravado pelo fadinho e um justo amor pelo bacalhau de cebolada.”
“Nesse momento estalavam foguetes ao longe, Lembrei-me que era domingo, dia de touros: de repente uma visão rebrilhou, flamejou, atraindo-me deliciosamente: - era a tourada vista de um camarote; depois um jantar com champagne; à noite, a orgia, como uma iniciação!
Corri à mesa. Atulhei as algibeiras de letras sobre Londres. Descia rua com um furor de abutre fendendo o ar contra a presa.
Uma caleche passava, vazia. Detive-a, berrei:
- Aos touros! “
EdQ
“Duas horas de sala de armas, alguns minutos de cabeleireiro e de clube, um bom alfaiate, uma ponta de desdém, e certo ar fatigado de quem esperdiça a vida sem lhe saborear dos proveitos, bastarão para dar o elegante.”
“Gosto do Parlamento como gosto dos toiros, para me estontear um instante na mancha ondeante das cabeças, nos borborinhos d´entrada, e de sahida, e finalmente, no investir do primeiro bicho.”
“…só aguardam, para bem servir o Estado, que o Estado lhes sirva a eles coito onde amozendem a preguiça gososa que os derranca.”
“Homem, isso não é música, é um boi que saltou a trincheira do sol!
Ora queira embolar-se, amigo Pratas, e fazer o favor de seguir o que lá está.”
FdA
E, depois, mesmo a esmo, as citações, disse Benjamim, são como ladrões de estradas, que fazem um ataque armado e aliviam um ocioso das suas convicções.
Doutor Lívio
domingo, fevereiro 06, 2005
Mate e brilhante
“How do you get to Neverland? – Wendy asked.
Second star to the right and straight on till morning.”
JM Barrie (Peter Pan)
Vogavam à flor da vaga num azul intenso de mar, a cruzar prosas na beleza da passagem e com o Bugio no alinhamento.
Disse o mais adiantado, junto à proa, metido a devaneios:
Os mares de amores são a expressão superior de criação e comportamento.
Sobretudo porque são à prova do frio e do quente, assentiu o que estava mais ao meio, que ajuntou: isto do mar leva-me ao O´Neill, com o seu “Passe um Verão desafogado”.
O terceiro, ao leme, retrucou, mareando a onda: “Vá de metro Satanás.”
Dito isto mandou-se ao colo e à viela duma botelha de branco que, geladinha como geada, também fora de viagem.
O que estava mais ao meio, aficionado O´Neillista, a esse deu-lhe a fome e desviou dos “empifados de Outono” a promessa do seu comer mais querido: “arroz de pato ao luar”.
O do leme bordeou a onda e meteu outra rota: isto das escolhas, das eleições, está farrusco...
No fundo temos dois taludos que dão razão ao Ezra Pound quando dizia que governar é a arte de criar problemas cujas soluções mantenham a população em suspense.
Mas olha, mandou da proa o mais adiantado, nestas coisas o pior é quando há sexo à mistura, fica o enredo turvo, que as coisas da natureza são complexas.
O Fialho é que os topava a todos, a eles e a elas, ajuizou alto o que estava mais ao meio. Era vê-lo a deslombar: Está a gente a ver como estas pécoras se fazem ao lugar na capela-mor, umas às outras, donde melhor possam mostrar as mamas aos fregueses. Eh, mulherzinhas! Fora daí, que empulgam os tapetes. Não vêem isto? A fazerem-se plongeons, como duquesas. Ora os coiros!
Bem, remoeu o mais adiantado, mas assim como assim, se o que lá está agora sair já se apinhou mais um, lá no partido, a prometer que se adianta.
Esse perrichon, disse o que estava mais ao meio, fialhista acerado, só me lembra aquele deputado que, dirigindo-se ao ministro Barjona, já cansado de lhe pedir lugar farto se atreveu a dizer que se a pretensão não visse despacho, ele atiraria com a albarda.
-Não atire, não atire – respondeu-lhe Barjona – que eu não estou acostumado a montá-lo em pêlo.
Isto de facto não está fácil, ruminaram, à uma, o do leme e o mais adiantado.
Píndaro
Second star to the right and straight on till morning.”
JM Barrie (Peter Pan)
Vogavam à flor da vaga num azul intenso de mar, a cruzar prosas na beleza da passagem e com o Bugio no alinhamento.
Disse o mais adiantado, junto à proa, metido a devaneios:
Os mares de amores são a expressão superior de criação e comportamento.
Sobretudo porque são à prova do frio e do quente, assentiu o que estava mais ao meio, que ajuntou: isto do mar leva-me ao O´Neill, com o seu “Passe um Verão desafogado”.
O terceiro, ao leme, retrucou, mareando a onda: “Vá de metro Satanás.”
Dito isto mandou-se ao colo e à viela duma botelha de branco que, geladinha como geada, também fora de viagem.
O que estava mais ao meio, aficionado O´Neillista, a esse deu-lhe a fome e desviou dos “empifados de Outono” a promessa do seu comer mais querido: “arroz de pato ao luar”.
O do leme bordeou a onda e meteu outra rota: isto das escolhas, das eleições, está farrusco...
No fundo temos dois taludos que dão razão ao Ezra Pound quando dizia que governar é a arte de criar problemas cujas soluções mantenham a população em suspense.
Mas olha, mandou da proa o mais adiantado, nestas coisas o pior é quando há sexo à mistura, fica o enredo turvo, que as coisas da natureza são complexas.
O Fialho é que os topava a todos, a eles e a elas, ajuizou alto o que estava mais ao meio. Era vê-lo a deslombar: Está a gente a ver como estas pécoras se fazem ao lugar na capela-mor, umas às outras, donde melhor possam mostrar as mamas aos fregueses. Eh, mulherzinhas! Fora daí, que empulgam os tapetes. Não vêem isto? A fazerem-se plongeons, como duquesas. Ora os coiros!
Bem, remoeu o mais adiantado, mas assim como assim, se o que lá está agora sair já se apinhou mais um, lá no partido, a prometer que se adianta.
Esse perrichon, disse o que estava mais ao meio, fialhista acerado, só me lembra aquele deputado que, dirigindo-se ao ministro Barjona, já cansado de lhe pedir lugar farto se atreveu a dizer que se a pretensão não visse despacho, ele atiraria com a albarda.
-Não atire, não atire – respondeu-lhe Barjona – que eu não estou acostumado a montá-lo em pêlo.
Isto de facto não está fácil, ruminaram, à uma, o do leme e o mais adiantado.
Píndaro
terça-feira, fevereiro 01, 2005
Louvor da língua aprazível
“...e, levantando-se ele, se despediram todos com muita cortesia, deixando ao senhor da casa magoado de se acabar tão depressa a conversação; que quem sabe estimar a que é tão boa, tem sentimento das horas que dela perde.”
F.R.L
“
(...)
- Bravamente é apaixonado o senhor D. Júlio (acudiu o Doutor) pelas cousas da nossa Pátria, e tem razão, que é dívida que os nobres devem pagar com maior pontualidade à terra que os criou. E verdadeiramente que não tenho a nossa língua por grosseira, nem por bons os argumentos com que alguns querem provar que é essa; antes é branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar, breve para resolver e acomodada às matérias mais importantes da prática e da escritura.
Para falar é engraçada com um todo senhoril, para cantar é suave com um certo movimento que favorece a música; para pregar é substanciosa, com uma gravidade que autoriza as razões e as sentenças; para escrever cartas nem tem infinita cópia que dane, nem brevidade estéril que a limite; para histórias nem é tão florida que se derrame, nem tão seca que busque o favor das alheias.
A pronunciação não obriga a ferir o céu da boca com aspereza, nem a arrancar as palavras com veemência de gargalo. Escreve-se da maneira que se lê, e assim se fala.
Tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da Latina, a origem da Grega, a familiaridade da Castelhana, a brandura da Francesa, a elegância da Italiana. Tem mais adágios e sentenças que todas as vulgares, em fé da sua antiguidade.
E se à língua Hebreia, pela honestidade das palavras, chamaram santa, certo que não sei eu outra que tanto fuja de palavras claras em matéria descomposta quanto a nossa. E, para que diga tudo, só um mal tem: e é que, pelo pouco que lhe querem os seus naturais, a trazem mais remendada que capa de pedinte.
(...)
“
F. Roíz Lobo
F.R.L
“
(...)
- Bravamente é apaixonado o senhor D. Júlio (acudiu o Doutor) pelas cousas da nossa Pátria, e tem razão, que é dívida que os nobres devem pagar com maior pontualidade à terra que os criou. E verdadeiramente que não tenho a nossa língua por grosseira, nem por bons os argumentos com que alguns querem provar que é essa; antes é branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar, breve para resolver e acomodada às matérias mais importantes da prática e da escritura.
Para falar é engraçada com um todo senhoril, para cantar é suave com um certo movimento que favorece a música; para pregar é substanciosa, com uma gravidade que autoriza as razões e as sentenças; para escrever cartas nem tem infinita cópia que dane, nem brevidade estéril que a limite; para histórias nem é tão florida que se derrame, nem tão seca que busque o favor das alheias.
A pronunciação não obriga a ferir o céu da boca com aspereza, nem a arrancar as palavras com veemência de gargalo. Escreve-se da maneira que se lê, e assim se fala.
Tem de todas as línguas o melhor: a pronunciação da Latina, a origem da Grega, a familiaridade da Castelhana, a brandura da Francesa, a elegância da Italiana. Tem mais adágios e sentenças que todas as vulgares, em fé da sua antiguidade.
E se à língua Hebreia, pela honestidade das palavras, chamaram santa, certo que não sei eu outra que tanto fuja de palavras claras em matéria descomposta quanto a nossa. E, para que diga tudo, só um mal tem: e é que, pelo pouco que lhe querem os seus naturais, a trazem mais remendada que capa de pedinte.
(...)
“
F. Roíz Lobo
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