quarta-feira, janeiro 10, 2007
Quero-te beber !
Dá-me pois olhos e lábios;
Dá-me os seios, dá-me os braços;
Dá-me a garganta de lírio;
Dá-me beijos, dá-me abraços!
Empresta-me a voz ingênua
para eu com ela orar
a oração de meus cantos
De teu seio no altar!
Empresta-me os pés, gazela,
para que eu possa correr
o vasto mundo que se abre
num teu rir, num teu dizer!
Empresta-me a tua inocência,
para eu ir ao céu voar...
Mas acende cá teus olhos
para que eu possa voltar!
Por Deus to peço, senhora,
Que tu mo queiras fazer;
dá-me os cílios de teus olhos
Para eu adormecer;
Por que, enquanto os tens abertos,
sempre para aqui a olhar,
não posso fechar os meus,
e sempre estou a acordar!
Pela Santa-Virgem peço
que tu me queiras sorrir;
porque eu tenho um lírio d'ouro
há três anos por abrir,
E, se Ihe deres um riso,
há-de cuidar que é a aurora...
E talvez que o lírio se abra,
talvez que se abra nessa hora!
Por Alá, minha palmeira!
quando ao sol me for deitar,
faze sombra do meu lado...
Por que eu quero-te abraçar!
D'amor te requeiro, ondina,
quando te fores a erguer,
ver-te no espelho das fontes...
Por que eu quero-te beber!
Antero de Quental
pindaro
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário