"...Eu sou tudo e não sou nada
mas o que sou sou por mim"
Manuel de Andrade
"Ó morte, velho comandante, é tempo,
aparelhemos "
Beaudelaire
"
(...)
Mãos abertas mãos de dar
As minhas mãos são assim
Viste-as abertas chegar
E abertas hão-de ficar
Quando tu morreres em mim
(...)
Dos meus passos ao partir
Não há rasto nem poeira
Não há rumo nem porvir
Parto sem saber partir
Mas parto à minha maneira
(...)
Andei a ver se encontrava
alguma roseira brava
florida de murchas rosas
Qualquer coisa que lembrasse
E um resto só que ficasse
das nossas horas ditosas
(...)
Tive um barco e dei-lhe um nome
dei-lhe um nome feito ao vento
dei-lhe um nome feito ao mar
Tive um amor e deixou-me
Ficou no meu pensamento
E não mais o vi voltar...
(...)
Sete esperanças sete dias
Era tudo o que trazias
Nada mais me querias dar
Sete ventos te trouxeram
Mas outros sete vieram
Mais tarde para te levar
(...)
Numa tasca bem castiça
De paredes de caliça
Um cartaz se destacava
Foi uma grande toirada
Disse da mesa avinhada
Um campino que ali estava"
(...)
Versos tirados de cantigas fadistas que o Francisco Stoffel, o João Braga, o Ferreira Rosa, o Melo Correia e tantos outros cantaram em noites de boémia há muito desaparecidas.
Versos de quem partiu com vinte e um anos, sem despedidas, numa súbita madrugada de Setembro.
Há quarenta e cinco anos.
Pressentia a essência das coisas, a essência da rosa, e foi um trovante apaixonado da roseira brava, a nunca encontrada – a baleia branca da sua passagem ...
De uma lendária "geração" de Almeirim, era difícil dizer de que tempo ele vinha, navegando a sua estrada como um dilettante no exilio, de sorriso à mosqueteiro,
Versos tirados de cantigas fadistas que o Francisco Stoffel, o João Braga, o Ferreira Rosa, o Melo Correia e tantos outros cantaram em noites de boémia há muito desaparecidas.
Versos de quem partiu com vinte e um anos, sem despedidas, numa súbita madrugada de Setembro.
Há quarenta e cinco anos.
Pressentia a essência das coisas, a essência da rosa, e foi um trovante apaixonado da roseira brava, a nunca encontrada – a baleia branca da sua passagem ...
De uma lendária "geração" de Almeirim, era difícil dizer de que tempo ele vinha, navegando a sua estrada como um dilettante no exilio, de sorriso à mosqueteiro,
Ao volante de um Spitfire verde, a caminho do Real das Canas.
Saborosa e apaixonadamente.
Como um caçador de sortilégios.
A última madrugada, tão efémera e definitiva, era afinal uma companheira antiga, tão pressagiada pela intimidade com que habitava o lado escondido da vida e o encantamento do desconhecido:
Saborosa e apaixonadamente.
Como um caçador de sortilégios.
A última madrugada, tão efémera e definitiva, era afinal uma companheira antiga, tão pressagiada pela intimidade com que habitava o lado escondido da vida e o encantamento do desconhecido:
"Morrerei... e são três da madrugada
Que estranha hora de morrer...
Já nem verei despontar a alvorada,
E como é lindo o sol nascer..."
Manuel Lima Monteiro de Andrade
solino
6 comentários:
Solino, assim...
Não é habitual, pois não?
Quando escrevo qualquer coisa não assino pindaro. O que não tem grande signicado porque, afinal, usando qualquer dos outros nomes da corte na aldeia, sou sempre.. o mesmo.
abraços
A. T.
Tem resposta!
A. T. (?)
António, Artur, Álvaro, Amadis, Aurélio, ...
Outra coisa:
Escreves bem. Com alma.Simultaneamente, tens um traço seguro.
Conheces livros raros."Corte na Aldeia" é um deles.
Vi-o escrever para o António M Correia as "Minhas Mãos", na Valquiria!..e o meu amigo Tozé Martinho canta muitas vezes versos dele, sobretudo a "Roseira Brava"!..Gostei do correr da tua pena, "Solino"!...Abraço
Volta um dia destes, Solino!
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