domingo, janeiro 18, 2009

Ao Nunca Mais


















E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasse a vida.

É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
Ou Catarina, ser menina ou malsã.

Penitente e doloso
Pode ser sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.


Hilda Hilst




pindaro

1 comentário:

Unknown disse...

(.../)

"O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tempo não.
( E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).

O Nunca Mais é de planície e de fendas.
É de abismo e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efémero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.

Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.

Hilda Hilst

( Vamos no V do Cantares do Sem Nome e de Partidas. Tu sabes. Conheces. Mas contigo eu gosto mais de Hilda Hilst. Não sei porquê. Ou melhor, não é propriamente de Hilda Hilst…)