segunda-feira, janeiro 26, 2009

A doida quer morrer-me






Insónia roxa. A luz a virgular-se em medo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua…
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segredo…
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas…
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou…
Tenho frio… Alabastro!… A minha Alma parou…
E o seu corpo resvala a projectar estátuas…
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto…
Timbres, elmos, punhais… A doida quer morrer-me:
Mordoura-se a chorar - há sexos no seu pranto…
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na boca imperial que humanizou um Santo…


Mário de Sá-Carneiro



pindaro

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