quarta-feira, janeiro 25, 2006

A fábula novelesca

"– Escolhi-te mulher – disse Cristóvão. – É ainda tua parenta por Meneses. Não é herdeira; mas o irmão morgado está héctico, e o segundogénito é aleijado e incapaz para o matrimónio. Virá ela portanto a herdar os vínculos. É preciso que a visites hoje comigo.

– Meu pai – respondeu António com respeitosa serenidade – pode V.ª S.ª dispor da minha vida; mas do meu coração já eu dispus. Ou hei-de casar com uma rapariga de baixa condição a quem prometi, ou não casarei nunca.

O velho pôs a mão convulsa nos copos do espadim, arquejou largo espaço, e disse:

– Duvido que você seja meu filho. Proíbo-lhe que se assine Queirós de Meneses. Adopte o apelido de algum dos meus lacaios.

António levantou o rosto e redarguiu:

– Não se ultraja assim a memória de minha mãe.

O velho nutava entre a cólera e a vergonha. Estendeu o braço, e apontou-lhe a porta, rugindo:

– Espere as minhas ordens no seu quarto.

Ao outro dia, um mandado da regência ao intendente-geral da Policia ordenava a prisão do cadete de cavalaria António de Queirós e Meneses no Limoeiro."



Camilo Castelo Branco



pindaro

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