quarta-feira, janeiro 11, 2006

Procurando no inesperado (II)

(Intrincado labirinto)


"Este sonho que sonhei
He verdade muito certa
que la da Ilha Encoberta
Ha de chegar este Rey"

G. A. Bandarra



Continuando, agora no terreno das propensões amoráveis, o Conde fala de um dos enigmas que mais despertou a atenção dos contemporâneos, e tem provocado a curiosidade dos investigadores: a capacidade de emoção amorosa do moço rei.

No seu tempo o problema agitou a Europa, e todos os que estudam a sua época e a personalidade do fantástico príncipe se quedaram indecisos acerca dos verdadeiros motivos que o levaram a desfazer projectos de casamento e a não se deixar captivar pelas seduções da mulher.

Sabugosa avalia as possibilidades:

Seria a castidade, aconselhada pelo velho Aleixo de Meneses e a abstenção imposta pela disciplina da Igreja que o levaram a aborrecer as bodas?

Seria a conservação da virgindade preconizada pelas regras de Cavalaria aos seus paladinos para melhor desempenharem as empresas sublimes?

Seria o horror à mulher, ente que, segundo muitos dos que ele admirava, foi sempre causa e motivo de afrouxamento de carácter e tibieza nas resoluções?

Seria a repulsão pela fêmea – aborrendo le done, mai non volle moglie – de que fala o historiador italiano?

Seria a nitidez exagerada da puberdade perante os mistérios da iniciação amorosa?

Seria o sentimento da fidelidade absoluta para com essa entidade abstracta de irresistível atracção – a glória militar – que o afastava das carícias femininas, como se vestisse a túnica tecida com as folhas de agnus castus, em que as matronas gregas se envolviam durante as festas de Céres?

Seria a incapacidade física a que se referia o Embaixador espanhol nas suas comunicações?

Seria um amor único, e cuidadosamente escondido, que o isolou da influência das Formosas que o rodeavam , e lhe afastou o sentido das noivas que lhe foram destinadas?


D. Sebastião, contemporiza o Conde, não é decerto um galanteador, como tantos dos seus antecessores, ou um incorrigível femeeiro como alguns deles.
Mas não é exacto que recusasse em absoluto o casamento, nem escapa a que a bisbilhotice lhe aponte algumas inclinações amorosas.

O capítulo dos projectos matrimoniais deste rei é complicado, arremata Sabugosa, que acrescenta o comentário do Padre Baião: Intrincado Labirinto





Píndaro

(o tema levará ainda ao procurando no inesperado III)

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