sábado, abril 30, 2005

Cool Britannia

"Ele vendeu a alma ao diabo sem se incomodar sequer em receber algo em troca."
(Adjunto de Clinton, referindo-se a este)




"Rei Tony por quanto tempo o trono?

Isabel e Filipe, Carlos e Dia-na, Posh Spice e David Beckham, Hugh Grant e Jemima Goldsmith mas decididamente não Carlos e Camilla os britânicos parecem necessitar de obsessões de longa duração com a realeza, e, quando os Windsor perdem o brilho, as estrelas do rock, do desporto, do cinema e as bilionárias preenchem a falha na psique nacional.

Estranhamente, no último meio século este fascínio pelos reinados prolongados alargou-se à esfera política. Os britânicos desenvolveram um gosto pelos políticos duráveis igual ao que mantêm pelos monarcas constitucionais, ou seja, pelos longos períodos de Gover no de um só partido.

13 anos de conservadorismo com Churchill, Eden, Macmillan e Douglas-Home foram seguidos por uma década e meia dos governos trabalhistas de Wilson e de Callaghan, interrompida apenas pelo breve interregno de Heath. Depois vieram 18 anos de Thatcher e Major. Agora parece que o Novo Trabalhismo de Tony Blair vai ganhar um terceiro mandato, e tal é a desorganização dos seus inimigos que talvez venha a ganhar um quarto.

A supremacia do Rei Tony é ainda mais notável quando verificamos como ele desagrada a tanta gente. Quando subiu ao poder pela primeira vez, em 1997, o veterano trabalhista Denis Healey chamou-lhe "a princesa Diana da política", uma referência não à delicada fragilidade da princesa mas sim à sua inextinguível popularidade. Agora ele já é mais o príncipe Carlos do que a princesa Diana - resmungão, doutrinário, inatingível.

Quem é Tony Blair?
Conhecemos as suas máscaras - o sorriso juvenil do período inicial, o olhar diabolicamente furtivo da época pré- -guerra, as expressões mais fe- chadas e mais preocupadas dos últimos tempos -, mas é espantoso que, depois de oito anos no n.º 10 de Downing Street, ele continue a ser uma espécie de enigma, com atitudes sempre inesperadas, como o mensageiro anglo-saxónico de Lewis Carroll, "a saltitar para cima e para baixo e serpenteante como uma enguia", sendo a sua verdadeira natureza escorregadia e difícil de definir.

Sabíamos, desde início, que ele tinha algo de maníaco do controlo com um toque de oportunista. Sabíamos, também, que ele era contraditório o líder de um partido socialista democrático que nunca usou a palavra "socialismo".

Em Fevereiro de 1998 eu era um convidado num jantar em Chequers, a propriedade de campo de Blair, e, quando o ouvi elevar a voz para começar a falar de liberdade, pensei, "Estou interessado nisto" e prestei atenção. Alguns momentos depois percebi que ele estava a falar de liberdade de mercado, nos termos que qualquer primeiro-ministro conservador poderia ter falado, mas que nenhum líder trabalhista anterior teria usado.
Mas estávamos ainda em período de estado de graça do Novo Trabalhismo e a memória da vitória de 1997 estava ainda quente."

Deixa estar", disse para mim mesmo, "este é um homem decente e capaz e ninguém é perfeito".

Eram esses os trunfos de Blair decência, integridade, competência. A sua pontuação nos dois primeiros itens sofreu alguns danos sérios. Mas se ele não é decente, o Tony confiem-em-mim, então quem é?

Aos olhos de muitos antigos apoiantes, ele é o sujeito que se safou com uma acusação de assassínio, lançando uma guerra baseada numa mentira inconsistente e sustentando-a descaradamente depois quando o caso contra a sua decisão se tornava cada vez mais forte, agarrando-se ao poder quando muitos, talvez todos, os seus predecessores teriam resignado.

É quase doloroso recordar agora os dias inebriantes da cool Britannia, quando existia um glamour de tablóide, de terceiro milénio, à volta do n.º 10. A aura de estrela pop funcionou também no estrangeiro quando Blair visitou Moscovo em 1997 e deu uma volta de metro, as meninas de escola russas gritaram como os maníacos dos Beatles nos anos 60.Na cobertura que The Economist fez da primeira reunião do partido após as eleições, citou um observador anónimo que disse "Ele podia anunciar a matança dos filhos primogénitos e mesmo assim seria ovacionado de pé."

Bom, Blair ordenou uma matança, mas ninguém se levantou para aplaudir. E o mistério mantém-se porque é que Blair comprou a guerra de Bush? Porque é que ele não insistiu que fosse permitido aos inspectores de armamento das Nações Unidas cumprirem o seu trabalho e que se formasse uma genuína coligação anti-Saddam - como, com o devido tempo, se teria certamente formado? Qual era a pressa? Porque é que ele adoptou o unilateralismo de Bush e a agenda ideologicamente dirigida de Wolfowitz?

Terá sido porque ele e Bush têm em comum uma profunda fé religiosa e concordaram em embarcar numa nova cruzada? Não, demasiado simples.
Terá sido porque ele acreditou nos relatórios cheios de falhas dos serviços secretos? Não, também isto não é credível porque o seu pessoal mastigou tanto quanto possível essas informações para justificar a guerra.

Um antigo adjunto de Clinton colocou-me a coisa da seguinte forma "Ele vendeu a alma ao Diabo sem se incomodar sequer em receber algo em troca."

Esta é uma visão quase trágica de Blair, a de alguém que fez a coisa errada porque acreditava ser a certa e sacrificou o seu bom nome para nada, um Fausto puritano condenado ao Inferno sem experimentar primeiro qualquer delícia terrena.

Quase sentimos simpatia por uma tal figura, mas seria uma visão mais fácil se Blair mostrasse alguns remorsos.Na ausência destes, devemos pesquisar no manifesto trabalhista a última gota que faz transbordar o copo. A política britânica, assim como a norte-americana, do pós-11 de Setembro e pós-guerra do Iraque, tem sido caracterizada pelos atentados governamentais às liberdades civis e, se o manifesto der a mais leve indicação de continuidade desses atentados, então mesmo os votantes de toda a vida nos trabalhistas devem afastar-se de Blair e votar tacticamente para o derrotar.

Se, por exemplo, o manifesto voltar a introduzir a muito criticada proposta de criação de uma ofensa por "incitamento ao ódio religioso" que a Casa dos Lordes bloqueou com sucesso no mês passado e que iria sacrificar a liberdade de expressão com a finalidade de aplacar os votantes muçulmanos zangados com a guerra do Iraque, isso será uma última gota suficiente para mim. Eu posso ser persuadido a votar num maníaco do controlo, competente, mesmo que embaciado, mas não votarei num maníaco do controlo comprometido com inquisidores religiosos.

O Novo Trabalhismo pode vir ainda a descobrir que o lobby da livre expressão comanda uma base de eleitores maior que os islamistas e que brincar à política populista e estar preparado para derrubar liberdades fundamentais em prol de uma estreita vantagem eleitoral é um jogo que pode fazer o tiro sair pela culatra. O Rei pode ainda vir a ser destronado."



Salman Rushdie



(DN/The New York Times -Trad. de Cristina Queiroz )

pindaro

sexta-feira, abril 29, 2005

Galantería simpar

"A todas las mujeres hay que pedírsela, porque la que no te lo da, te lo agradece"
p.r.




En vida, Porfirio Rubirosa jugó polo, piloteó bombarderos B-25, corrió ferraris en Le Mans, y buscó tesoros perdidos en el Caribe.

Pero fue su éxito con el bello sexo que lo convirtió en una leyenda. Sus conquistas incluyeron a Eva Perón, Ava Gardner, Jayne Mansfield, Veronica Lake y Dolores del Río. La cuenta final nunca se sabrá. Un amigo confirma que Rubi, quien se casó con las dos mujeres más ricas del mundo una detrás de la otra, Doris Duke y Barbara Hutton, durmió con "miles de mujeres" mientras vivía en París en los 50 y 60.

El columnista Taki Theodoracopulos recuerda que cuando se emborrachaba, Rubi tomaba una guitarra y cantaba "Soy sólo un chulo".

La galantería de Rubirosa era simpar.

Cuando estaba cerca, un cigarrillo sin encender nunca tocaba la boca de una mujer. "Si estaba hablando con un señora de 80 años o con una niña de 4, la mujer más bella del mundo podía pasar frente a él y no la miraría", dice su amiga Mildred Ricart, cuyo esposo, Jaime, estuvo en el servicio diplomático con Rubirosa. "El hacía que cada mujer se sintiera que era la más importante del mundo. Hay muchos hombres que son excelentes en la cama, pero que no puedes ir a cenar con ellos".

Una vez proclamó y juró que viviría un estilo de vida a la altura de su reputación.

“El niño bien ” como también se le conocía a Rubi decía que “la mayoría de los hombres viven para ahorrar dinero, yo vivo para gastarlo”.

Esto lo llevó a una vida de despilfarro. Según algunos amigos, en promedio, él gastaba dos millones de dólares al año. En una ocasión llegó a pagar doscientos mil dólares por un avión, dinero que sacó de la cuenta personal que le había regalado Barbara Hutton con doscientos cincuenta mil dólares.

A los 56 años, con la habilidad de "don Juan" en decadencia y con la perspectiva de vivir en la pobreza, tomó su carro Ferrari descapotado y lo chocó contra un árbol en la avenida de la Reina Margarita en París. Era el 5 de julio de 1965 cuando los hilos dieron la noticia sobre la muerte del más famoso “Play Boy” que ha conocido el mundo.

(vanity fair e la prensa)




pindaro

Jeu de l´esprit

" Tout est facile quand on aime et qu'on veut plaire "




Mi-Robin des Bois, mi-Don Juan, à la fois Gentleman et Cambrioleur, il est voleur et séducteur…
Chez Arsène Lupin, le vol est un jeu de l'esprit.


Il effectue ses cambriolages en virtuose avec ironie et audace. Quand il dépouille une victime, c'est avec une élégance rare…
Tous les moyens sont bons à Lupin pourvu qu'ils soient marqués par le panache, l'insolence et l'amour.

La lettre envoyée au baron de Cahorn en est sans doute un des plus beaux exemples :

" Monsieur le baron, il y a dans la galerie qui réunit vos deux salons, un tableau de Philippe de Champaigne d'excellente facture et qui me plaît infiniment. Vos Rubens sont aussi de mon goût, ainsi que votre plus petit Watteau. Dans le salon de droite, je note la crédence Louis XIII (…) P.S. - Surtout ne pas m 'envoyer le plus grand des Watteau. Quoique vous l'ayez payé trente mille francs à l'Hôtel des Ventes, ce n'est qu'une copie, l'original ayant été brûlé, sous le Directoire, par Barras, un soir d'orgie. Consultez les Mémoires inédits de Garat. Je ne tiens pas non plus à la châtelaine Louis XV dont l'authenticité me semble douteuse. "

Arsène, Raoul Lupin est né en 1874 à Blois, fils d'Henriette d'Andrézy et de Théophraste Lupin.

Sa formation est éclectique. Des études de droit et de médecine (enrichies par un stage en dermatologie où il apprendra à modifier un visage), d'excellentes études classiques de latin et grec et une bonne maîtrise des langues vivantes.

Mais ce n'est pas tout.

Arsène cultive également un talent de prestidigitateur... Initié aux sports de combat (son père était professeur de boxe et de gymnastique), notre héros sera même un moment professeur de Jui-Jitsu. Ses multiples compétences lui permettent de naviguer dans tous les milieux et de camper autant de personnages différents.

Arsène Lupin est aussi un esthète, il fait preuve d'un goût très sûr en matière de peinture, et d'une excellente connaissance de l'art.


Il a caché dans l'Aiguille Creuse La Joconde de Léonard de Vinci, des Botticelli, des Rembrandt…

Mais quel est le vrai visage d'Arsène Lupin ?

Son confident, Maurice Leblanc, avoue lui-même ne pas le reconnaître :

" Son portrait ? Comment pourrais-je le faire ? Vingt fois, j'ai vu Arsène Lupin, et vingt fois, c'est un être différent qui m'est apparu (…). Moi-même, me dit-il, je ne sais plus bien qui je suis. Dans une glace, je ne me reconnais plus. "

Celui que Maurice Leblanc décrit comme " une âme intrépide dans un corps inattaquable " est un amoureux des femmes et de la vie… Clarisse d'Etigues, Louise d'Ernemont, la comtesse de Cagliostro, Raymonde de Saint-Véran, Angélique de Sarzeau-Vendome… nombreuses sont les femmes qu'Arsène Lupin va aimer...




píndaro

Alcantil agreste

E eu te encontrei, num alcantil agreste


E eu te encontrei, num alcantil agreste,
Meia quebrada, ó cruz. Sozinha estavas
Ao pôr do Sol, e ao elevar-se a Lua
Detrás do calvo cerro. A soledade
Não te pôde valer contra a mão ímpia,
Que te feriu sem dó. As linhas puras
De teu perfil, falhadas, tortuosas,
Ó mutilada cruz, falam de um crime
Sacrílego, brutal e ao ímpio inútil!
A tua sombra estampa-se no solo,
Como a sombra de antigo monumento,
Que o tempo quase derrocou, truncada.
No pedestal musgoso, em que te ergueram
Nossos avós, eu me assentei. Ao longe,
Do presbitério rústico mandava
O sino os simples sons pelas quebradas
Da cordilheira, anunciando o instante
Da ave-maria; da oração singela,
Mas solene, mas santa, em que a voz do homem
Se mistura nos cânticos saudosos,
Que a natureza envia ao Céu no extremo
Raio de sol, pasmado fugitivo
Na tangente deste orbe, ao qual trouxeste
Liberdade e progresso, e que te paga
Com a injúria e o desprezo, e que te inveja
Até, na solidão, o esquecimento!



Alexandre Herculano

píndaro

Rien ne va plus


"C'est toujours ce qui éclaire qui demeure dans l'ombre."
Edgar Morin



"Protégé de la marquise de Pompadour, le duc de Choiseul etait un individualiste aux multiples facettes, ambitieux, libertin et amoral, à la fois rompu aux intrigues de la cour et devoué au service de l´État;

un aristrocate qui portait ses défauts "avec une audace, une absence de préjugés et de remords qui lui conférait une sorte d´originalité, l´érigeait en archétype de la désinvolture et de l´insouciance élégante", écrit son biographe, Guy Chaussinand-Nogaret (1)

Casanova, dont les Mémoires étaient l´un des livres de chevet de François Miterrand, avait lui-même, en expert, brossé de cet esthète débauché le portait suivant, qui pourrait être celui de son ministre (Roland Dumas):

amateur des arts, ami des gens à talent et de goût, il jouissait du plaisir de leur être utile et de les voir lui faire la cour par reconaissance.

Il avait d´ailleurs beaucoup d´esprit, mais sommaire et en gros, méprisant tout ce qui est détail; car il était paresseux et idolâtre du plaisir."(2)




hervé gategno
(1)-Guy Chaussinand-Nogaret, "Choiseul, naissance de la gauche" -Perrin
(2)-Casanova, "Mémoires"-Gallimard


píndaro

quinta-feira, abril 28, 2005

A boca da mulher





OS VERSOS QUE TE FIZ


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!


florbela espanca


pindaro

Não tem pinga de marxismo

"Não se pode atravessar um abismo aos saltinhos."
David Lloyd George


"Em vez de opinar sobre o estado do bem comum, prefiro escrever, hoje, sobre os fazedores do clima de opinião. E decidi começar por Vasco Pulido Valente, por uma grande razão. Apesar da sua colaboração destacadíssima como colunista em jornais, semanários e literaturas digitais, é ainda um profeta a pregar no deserto.

Numa frase, Vasco Pulido Valente tem de imensamente positivo não ter pinga de marxismo no seu intelecto; o que tem de negativo é que não é evidente que goste de ser português.

Pulido escreveu, cientificamente, sobre as nossas revoluções e golpes de estado. “O Poder e o Povo” é uma interpretação revisionista do «5 de Outubro de 1910» e mostra como a República não era um regime, mas uma guerra civil entre conservadores e jacobinos, uma revolução contínua. A Revolta do Grelo, 1974, é soberba!

Creio que me lembro de ter lido no velho “O Tempo e o Modo” de Alçada Baptista, As Duas Tácticas da Monarquia perante a Revolução, reeditadas em 1974. E Ramalho Ortigão e a Crise do Estado em Portugal! E há mais obras e mais recentes; mas os bons criadores científicos reconhecem-se logo à origem!

Essa tendência para estudar um povo tão mal acomodado na ordem democrática deve ter-lhe desenvolvido, talvez por compensação, uma inteligência para captar a essência da democracia e diagnosticar os perigos que a ameaçam no presente.

Quem lê o quanto Pulido escreve nos jornais sobre Guterres, Carrilho, Gomes, Barroso, e tutti quanti, sobre TGV, Expo 98, Porto 2001, Declaração de Bolonha, ou União Europeia, pode não concordar com tudo o que ele diz; mas adivinha máximas luminosas que se aplicam à nossa pequena casa lusitana.

Pulido Valente está na linhagem dos que pensam como Alexis de Tocqueville sobre a democracia americana: entre igualdade e liberdade existe uma tensão que apenas pode ser gerida mas nunca resolvida. E lembra-se de Frédéric Bastiat, que diagnosticou a natureza tirânica e devorista do Estado moderno. Ou evoca o respeitado mas discreto Bertrand de Jouvenel, que destruiu o mito das liberdades modernas crescentes, demonstrando o crescimento ilimitado do poder, e o fosso cada vez maior entre governantes e governados.

Não é de estranhar que tais homens fossem tão pouco profetas em sua própria terra! Também em Pulido Valente se vê a linhagem do pessimismo histórico, a apreensão dos democratas sinceros que vêem a liberdade extinguir-se e, olhando em redor, duvidam profundamente que haja gente e meios para a defender contra os passos avassaladores do poder, tomem estes a forma de um bailinho da Madeira, de uma chula de Matosinhos, ou de um hip-hop populista da Figueira da Foz.

Nestas matérias Pulido não perdoa e investe, liberalmente, contra todos os que revelam inépcias, desconchavos, desacertos, contradições, raciocínios enviesado, falaciosos, ou simplesmente estupidez, muita estupidez. Pulido não perdoa.

De tanto bradar contra tantos, Pulido passa, por um céptico, um demolidor, um mal disposto, um resmungão. Aparece mesmo como um pregador no deserto. Mas quer-me parecer que o cepticismo de Pulido é de um tipo diferente do habitual. Não se baseia somente na descrença, mas na constatação de um facto: somos seres livres, e nenhum determinismo consegue abolir a decisão humana, seja para instaurar em lugar dela a necessidade do mal, seja a fatalidade do bem crescente. É céptico para contrariar as ilusões deprimentes do optimismo e do progressismo, baseadas na presunção de conhecermos o futuro, doenças intelectuais feitas de restos de marxismo e de materialismo histórico.

Mas, infelizmente, nisto, Pulido ainda prega no deserto. Todas as suas análises visam libertar-nos do materialismo histórico que nos infecta. Mas o sistema educativo e o sistema cultural que nos rege – dos químicos da educação aos cunhalistas da cultura, passando pelos rangéis e monizes da televisão - continua espontaneamente, mesmo quando somos persuadidos do contrário, a aderir à tese do primado da infra-estrutura económica e material sobre a superestrutura cultural e espiritual.

Ora tudo o que Pulido escreve, recusa esta tendência inata do intelectual português para o fatalismo progressista, essa pseudo-segurança de contabilistas do espírito, este álibi contra a exigência de autonomia, e de desafio da adaptação contínua de que Portugal carece. Para Pulido, primeiro, está a capacidade de se libertar dos sistemas deterministas através do acto humano regenerador da política. Depois é que chegamos à sociedade e à economia.

Por isso, creio eu, o ex-Secretário de Estado Adjunto de Sá Carneiro é capaz de elogiar o dr. Mário Soares como fundador da democracia: e o antigo colaborador de “O Independente” considera Paulo Portas um populista mentiroso e perigoso. E o ex-deputado PSD zurze os actuais, etc,., etc., São contradições ? Não, são avaliações que Pulido Valente nos transmite, em nome do reconhecimento da decisão humana como superior aos sistemas sociais e económicos!

Se fossemos discípulos do Conselheiro Acácio exclamaríamos: “Bem haja, dr. Pulido Valente!” Mas não somos ! E Pulido Valente, creio eu, parece por vezes paralisado pela malícia e pelas dúvidas paranóicas que julga ver na sociedade portuguesa. Se fossemos assim tão maus, já teríamos desaparecido. Se fossemos assim tão maus, haveria razões para não gostar de nós. Ou será ao contrário ? É preciso, primeiro, gostar de nós, portugueses, para depois nos conhecer ?

Só o dr. Pulido Valente poderá esclarecer onde foi buscar os seus princípios de análise: se à licenciatura em Filosofia, na Faculdade de Letras de Lisboa; se ao doutoramento em História Moderna, em Oxford com Raymond Carr, se ao ensino de Adérito de Sedas Nunes; se, apenas, ao seu bom senso resmungão, ou à sua metódica, ou ao seu estar-se soberanamente nas tintas para a metodologia porque já tem génio que baste. Isso é lá com ele.

Mas eu penso, sobretudo, que temos a agradecer-lhe a tentativa diária para libertar a inteligência portuguesa de uma das cangas mais temíveis do nosso séc. XX: o determinismo.

É certo que o faz de um modo teórico muito resmungão, céptico e desconfiado. Mas se assim não fosse, será que lhe daríamos a mesma atenção?"




M. Castro Henriques
( 20 de Julho de 2001)



píndaro

Palavras nuas

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.



alexandre o´neill

píndaro

Blow up



"A vida só se dá a quem se deu. "
(Vinicius de Moraes)




Peter Beard


Visionary artist and photographer, world traveler and explorer, champion of wildlife conservation and brilliant society character, Peter Beard is impossible to fit into an easy category.

His life experiences are recorded and interpreted through photographs embellished with drawings, stories, newspaper clippings, and animal blood.

Peter Beard's photographs become objects which transport the viewer through time, objects with a presence both instantaneous and everlasting.

Since 1961, when he graduated from Yale and settled in Kenya on land adjoining the farm of Karen Blixen (Isak Dinesen, author of Out of Africa), Peter Beard's life and career has been inexorably tied to the African continent and its wildlife.

While elephants, leopards, and crocodiles are still important elements in Beard's diaries and collages, they are by no means the only ones: Fifty Years of Portraits features work in which family members, celebrities, fashion models and fellow artists figure prominently in Beard's unique visual vocabulary

Peter Beard‘s life is of the stuff that Hollywood epics are made.


His great-grandfather G. G. Hill founded the Great Northern Railroad Company in the 19th century and by the time of his death had ammassed a fortune of some 53 million dollars. The tobacco heir Pierre Lorillard, Peter Beard‘s grandfather, founded the Tuxedo Company and was the inventor of the formal eveningdress of the same name.

Peter Beard was born in New York on January 22, 1938 and at first studied medicine, in compliance with his parents‘ wishes. His mother fancied bringing up a doctor, a governor, or a lawyer.

But that was not to be: Peter Beard transferred to the art department at prestigious Yale University...

He was inspired and fascinated by Karen (“Tanja”) Blixen‘s book, “Out of Africa”, which moved him to visit Africa for the first time in the mid-50‘s.

Later he made Karen Blixen‘s acquaintance, became her neighbour and photograhed her for the last time three months before her death.

In 1961 he settled on Hog Ranch near Nairobi, and it is here that he found the central theme of his life: the destruction of the last animal paradises at the hands of man and civilisation.

In 1965 he published his first book, “The End of the Game”, a brutal, shocking documentary of the history of wildlife in Africa as exemplified, in particular, by the dying out of the elephants.

“Stress & Density” - how did the exhibition come to get this name, he was asked last autumn in an interview for the Munich “Fotomagazin”. “That is the corner humanity is painting itself in to. In a world where every four days one million more people are added to this number...”

So who is Peter Beard? A world-famous photographer, playboy, friend of the world‘s rich and beautiful, member of the New York jet set, a regular in the legendary Studio 54, a close friend of Francis Bacon‘s, Andy Warhol‘s, Truman Capote‘s, Mick Jagger‘s, Jackie Onassis‘... Peter Beard has many faces.

On the outside he looks like a cross between an American movie star and an English gentleman; but he is not just an Africa adventurer and bon vivant, he is an artist and Cassandra with a camera who creates disturbing, troubling chronicles of the destruction of the earth‘s wildlife paradises. And he has been doing this for a long time.

Since 1949 he has been compiling his famous “daybooks”, his pictorial diaries - book collages crammed out to the margins full of scribblings, and smudges: full of life itself - which continue to influence photographers and artists today.

But Peter Beard is also a fashion photographer: his fashion-photo spreads for the big international gloss magazines have an intensity and unmistakability that have never been surpassed. And 20 years ago he discovered a breathtaking, elegant African woman on the bustling streets of Nairobi, Iman, who thanks to him, went on to become a supermodel with a worldwide career...

Peter Beard lives and works in Africa.

pindaro

Espelho dos símbolos

Analogia


"Proporção entre os termos de duas ou mais ordens ou sistemas, designadamente entre Deus e as criaturas, cuja relação se revelou o problema capital da teologia escolástica.

O universo é o espelho dos símbolos, porque Deus, causa suficiente dos entes criados e de todo o ser, se reflecte nele, contendo as suas imperfeições.

Assim, o conhecimento do cosmos introduz o homem no mistério de Deus, facultando-lhe o acesso ao modelo de que o mundo é a imagem.

É o que, justamente, propõe como metodologia o postulado "per visibilia ad invisibilia" de Guillaume de Saint-Thierry.

De resto, tal atitude foi muito vulgarizada pelos inúmeros Espelhos e Imagens do Mundo de que o Speculum majus de Vincent de Beauvais constitui o exemplo mais notável (composto pelos espelhos da natureza, da ciência, da moral e da história). "



(centro ernesto soares)



pindaro

quarta-feira, abril 27, 2005

O sétimo raio e a chama violeta ou um tipo catita


Conde de Saint-German

"Em 112 anos de vida carnal, a passagem pela Terra do espírito chamado Conde de Saint Germain, assombrou seus contemporâneos na França do século XVIII, e continua a intrigar até aos dias actuais.

Muito se fala e se especula sobre este personagem que tinha fama de imortal e aparentava jamais envelhecer.

Como um autêntico missionário, sua passagem foi registrada por toda Europa e parte da Ásia, muitas vezes apresentando-se com outros nomes e títulos, sempre ajudando os mais humildes e necessitados, sem abdicar porém, de sua posição nobre, da qual se valia para distribuir riquezas e consolos.

Por meses e anos, ninguém ouvia falar dele, até que, de repente reaparecia "magicamente", com a mesma aparência, em alguma corte européia, o que muito contribuía para sua fama de imortal.

Outra curiosidade é que ele era vegetariano, jamais sendo visto comendo ou bebendo nas festas e banquetes, exceto água.

À suas qualidades humanas, somavam-se diversas habilidades: pintava divinamente, tocava violino e clavicórdio (uma espécie de predecessor do piano).

Também era capaz de conversar como nativo em nada menos que 12 idiomas, entre as quais o sânscrito, o árabe e o chinês.

Alquimista renomado, detinha o segredo do Elixir da Longa Vida (o que explicaria sua imortalidade) e o da Pedra Filosofal, que o ajudava a transformar metais em ouro, o que fez certa feita diante de um boquiaberto Luis XV, Rei da França.

Saint Germain detinha também o dom da previsão. Diz-se que advertiu sua amiga Maria Antonieta da iminência da Revolução Francesa, chegando a entrar em detalhes sobre as consequências trágicas para a família real.

Conhecia profundamente as propriedades curativas das plantas, raízes e ervas, tendo fabricado diversos medicamentos, que eram distribuídos entre ricos e pobres, sem distinção.

Detendo tantos poderes e segredos, não é de impressionar que tivesse feito parte da Loja Maçônica de Paris, onde palestrava com Rousseau, Mozart, Hydin e Voltaire.

Além disso, inspirou e fundou diversas sociedades secretas.

É tido dentro do culto da Fraternidade Branca como Mestre Ascencionado, responsável pelo Sétimo Raio e pela Chama Violeta.

De acordo com o mesmo culto, Saint Germain conduzirá a humanidade pela Era de Aquário, nos próximos 2 mil anos, um período mais espiritual onde o ser humano experimentará um autêntico crescimento.

Em seu livro "A Doutrina Secreta', Madame Blavatsky, uma das fundadoras da Teosofia, afirmava que Saint Germain tivera diversas reencarnações, entre elas como profeta Samuel, como José, pai adotivo de Jesus, como Shakespeare e como mago Merlin.

Em todas elas, sempre se apresentou como amigo dos animais, da natureza e da humanidade, ajudando na evolução do planeta."


pedro jayme ortega e schmitt


pindaro

Imemorial

"Dos beijos ao banquete apaixonado em sonhos o amor levou-me um dia."

ascenso ferreira


Imemorial
o desejo
da pedra
despida

Impúdica
a carne
da intima
bebida

Devasso
o empenho
da boca
desenhada

Indecente

a rosa
cor-de-rosa
avermelhada





à amhft
Solino

La tesitura

Entre el amor, la noche, el sueño,
la realidad, el deseo;
la pasión y la ternura
está la tesitura.



Ylia Kazama


pindaro

Brilhos azulados



Conheço o sal...


Conheço o sal da tua pele seca
Depois que o estio se volveu inverno
De carne repousada em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
Quando das bocas se estreitavam lábios
E o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
Os louros ou cinzentos que se enrolam
Neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
Da tua língua, o sal de teus mamilos,
E o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
Um cristalino pó de amantes enlaçados.


jorge de sena

píndaro

Como um barco


Dá a surpresa de ser


Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro,
faz bem só pensar em ver
seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
sem ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
assenta em palmo espalhado
sobre a saliência do flanco
do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?


fernando pessoa


pindaro

terça-feira, abril 26, 2005

Lua-de-água

Lettera amorosa

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noites
abe a pedra amarga,
sabe à minha boca.


eugénio de andrade


pindaro

Gente de malta

Lá quando em mim perder a humanidade


Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:

Não quero funeral comunidade,
que engrole sob-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro."



Manuel Maria Barbosa du Bocage
Poesias eróticas burlescas e satíricas


pindaro

Cuando callas



Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca

pablo neruda


píndaro

Ad usum delphini

"...e dos sagrados touros Miuras que são catedrais da Inquisição para grandes bispos dominarem"
(jcp in delfim)


"É a propósito dos Palma Bravo, antigos senhores da Gafeira e da lagoa, que o narrador procura sensatas referências a tão grandes fidalgos na obra escrita pelo abade, «Dom Agostinho Saraiva, autor da Monografia do termo da Gafeira / Leiria Ano de MDCCCI» (p. 55).

A propósito dos Palma Bravo actuais, diz o narrador: «O próprio Dom Abade, se fosse vivo, poderia testemunhar que no reduto cristão onde me encontro também houve sempre um Palma Bravo a repartir com a família e os servos o pão da Natividade» (p. 120).

Imagina visões fantasmagóricas sugeridas pela leitura da Monografia: «Quando cair a noite começarão a desfilar por entre as árvores as almas bêbadas dos Palma Bravo, couteiros reais saídos das páginas do abade Agostinho Saraiva, falcoeiros, monteiros-mores e sociedade» (p. 130).


O snobismo de Tomás Manuel leva o narrador a recordar-se do estribilho de certa canção que não conseguimos identificar: «com muita pena, se comportava como um snob que eu cá sabia tirado de uma velha cançoneta francesa. "Je suis snob, je suis snob..."» (p. 197).

A música cresce: «uma música perdida começa a rolar dentro de mim:
Je suis snob
et quand je serais mort
je veux un sudaire de chez Dior...» (p. 197)."


josé leon de machado - 1993


pindaro

A COR DO MILAGRE

Magia


Às vezes parava o tempo
Como um levita esquecido
Na comunhão.
Parava-o, e ficava atento,
A ver a cor do milagre
A desmaiar-lhe na mão.


Miguel Torga,
«Nihil Sibi».

segunda-feira, abril 25, 2005

Saldanha (João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun, 1.° conde, 1.° marquês e 1.° duque de).

Na noite de 18 para 19 de Maio, regimentos militares subvertidos por oficiais que invocam o setembrismo cercam o Palácio da Ajuda e pressionam D. Luís I no sentido da demissão do governo.

Saldanha coloca-se à frente dos regimentos rebeldes (caçadores 5, artilharia 3 e infantaria 7), enquanto populares assaltam o castelo de S. Jorge.

Tiroteio entre os rebeldes e a guarda do palácio. Saldanha é imediatamente recebido por D. Luís.

Na tarde do dia 19, um suplemento ao Diário do Governo, nomeava Saldanha ministro da guerra, mas Loulé recusa referendar o acto.

Então, Saldanha é nomeado presidente e ministro de todas as pastas.



(in j. a. maltez/info)
píndaro

História de Portugal por Napoleão Bonaparte

"A raça humana é governada pela sua imaginação"
Napoleão Bonaparte



(Parte II)

O navio francês Saint Jacques, confiado no direito das gentes, entrou no porto de Santiago, contando achar ali amizade e protecção da parte dê uma nação que não nos havia declarado guerra: foi aprisionado, confiscado e vendido. Portugal mandou depois os seus exércitos para nos combaterem nos Pirinéus: juntou os seus navios aos das esquadras inglesas, e apresentou-se mais declaradamente no número dos nossos inimigos.

Depois da paz de Campo Formio Portugal receou que os exércitos franceses se dirigissem para as suas fronteiras, atravessando o território espanhol. Enviou um embaixador a Paris, que concluiu e assinou um Tratado definitivo, mas o Governo português recusou ratificá-lo, e essa recusa devia naturalmente aumentar o rancor já produzido pela guerra entre as duas nações. Portanto viu-se desde essa época que as esquadras portuguesas cruzaram diante de Malta e de Alexandria: e lembra-nos que o general do exército do Oriente, à vista dos navios portugueses, declarou na ordem do dia do exército que chegaria tempo em que a nação portuguesa havia de pagar com lágrimas de sangue a afronta que fazia à República francesa.

O Tratado de Luneville, que pacificou o continente, dava ocasião de se obterem do Governo português as satisfações que havia direito de lhe exigir. Concluiu-se em Madrid uma convenção entre a Espanha e a França, pela qual se estabeleceu que Sua Majestade o Rei de Espanha e a República francesa formariam um exército combinado para obrigar Portugal a desligar-se da aliança com a Inglaterra, e a deixar que as tropas espanholas e francesas ocupassem a quarta parte do seu território até à paz definitiva.

Esta convenção não tinha por fim satisfazer um vão sentimento de orgulho, ou simplesmente vingar ofensas, que verdadeiramente deixam de existir desde que é possível castigá-las; mas era uma parte da vasta combinação política, que se ligava desde o Báltico até ao Hanover, do Hanover até aos confins de Otranto, e cujo laço comum era a paz geral.

O Governo francês cumpriu as suas promessas: uma divisão com artilharia numerosa atravessou os Pirinéus comandada pelo general Leclerc. O general Saint-Cyr, oficial de mérito distinto, foi mandado para junto do general espanhol para concertar todas as operações de guerra.

Começaram as hostilidades mas depois de duas ou três escaramuças, em que se empenhariam quatrocentos ou quinhentos homens de parte a parte, o general espanhol concluiu em nome do seu Governo o Tratado ele Badajoz, em que lhe esqueceu de exigir o primeiro e principal interesse da Convenção de Madrid.

O Primeiro Cônsul fez saber imediatamente, que da sua parte não podia ratificar o Tratado de Badajoz; que esse acto era contrário à política geral e ao interesse dos aliados: que estava em oposição formal com a convenção de Madrid; e que a consequência imediata deste Tratado para S. M. C., resolvendo-se a ratificá-lo separadamente, seria a perda da Trindade. O Gabinete de Madrid passou avante, ratificou separadamente o Tratado de Badajoz, e assim sacrificou a Trindade.

Depois da pacificação de Espanha continuámos a ficar isolados muitos meses em guerra com Portugal. Teríamos empreendido e realizado sós o que pela Convenção de Madrid a Espanha devia fazer de acordo connosco; haveríamos obtido, até à paz definitiva, a ocupação da quarta parte do território português; mas os acontecimentos precipitaram-se, as negociações começadas há muito em Londres, chegavam à sua madureza; o Governo deu as suas ordens, e assinou-se a paz com Portugal dois dias antes da assinatura dos preliminares em Londres.
O Governo francês procurou regular com Portugal as nossas relações comerciais de modo útil a ambas as nações, e fixar pelo Tratado os limites entre a Guiana francesa e a portuguesa, com bastante cuidado para prevenir qualquer contestação futura. Para conseguir o primeiro objecto pediu a Portugal a reciprocidade, que este não podia recuar sem prejuízo de seus próprios interesse.

Todas as nações precisam mais ou menos umas das outras; e quer tenham de comprar quer tenham de vender, nada lhes convêm mais que chamar aos seus mercados o maior número de compradores e vendedores. Qualquer monopólio ou privilégio exclusivo em proveito de alguma nação nos mercados de outra, não prejudica somente às mais nações que afasta desses mercados, mas ainda à que o concede pois lhe tira o recurso de achar pela concorrência preços mais vantajosos.

As disposições do Tratado são portanto conformes aos princípios por que têm de se dirigir todas as nações comerciantes, e se essa, disposições devem operar felizes mudanças nas nossas relações comerciais com Portugal, as duas nações devem igualmente congratular-se.Quanto aos limites entre as duas, Guianas, podemos dizer que a Convenção do 1700 os fixou no rio Amazonas, visto que os Portugueses se obrigaram por esta Convenção a derrubar todos os fortes que tinham na margem esquerda daquele rio; o Tratado de Utrecht determinou-os posteriormente de um modo incompleto, cheio de contradições, e que originou controvérsias continuadas até agora.

A Guiana francesa é a colónia que unicamente nos resta no continente da América, enquanto os ingleses, espanhóis, portugueses e holandeses ali possuem vastos e ricos estabelecimentos, considerados por eles como valioso meio de prosperidade.

Caiena, porto principal da ilha deste nome, é a capital da Guiana francesa. Diminuída pela cultura a insalubridade do clima, bem conhecida a navegação para aquela colónia, já o seu nome não causa terror. Acham-se aí naturalizadas as mais ricas produções da Ásia e dos seus arquipélagos, às quais a transplantação deu uma vegetação mais abundante, mais vigor e fecundidade que no seu país natal. A Guiana cria gados, madeiras e outros produtos com uma abundância que só tem por limite o número de homens que se pôde empregar nos trabalhos e na guarda dos rebanhos.
Além de cem léguas, partindo da beira-mar pouco se conhece desse país que ainda não experimentou a cultura: encontram-se nele dispersas algumas tribos de nações selvagens, que se têm afeiçoado aos franceses, porque as havemos tratado com humanidade e brandura: negociámos com aqueles selvagens, esperando que os progressos da cultura elevem o valor das terras interiores da Guiana.

Esta colónia está longe de um estado de prosperidade: mas não deixa por isso de ter grande importância para nós, quer a consideremos em relação aos socorros que pode prestar a Caiena e às outras nossas colónias, quer a contemplemos como um país novo, destinado a receber no futuro os nossos concidadãos, que por desejo de fortuna, pelas desgraças, ou pela inquietação natural de muitos homens, se afastarem da mãe pátria.

Seria erro pensar que os Europeus não podem habitar a zona tórrida; o Amazonas, o maior rio do universo, serpenteia paralelo à equinocial, a dois ou três graus sul desta linha, com que se confunde na sua foz; e Lacondamine, que lhe percorreu todo o curso, não achou o calor insuportável. Este modifica-se à proporção que se entra nas terras altas, e a beleza do país dá-nos a esperança de fundar ali realmente uma colónia importante.

De certo que só com poderosos auxílios chegarão a realizar-se estas esperanças; mas primeiro que tudo era conveniente determinar os limites ainda incertos da colónia.

Se no Parlamento inglês se levantou discussão sobre os meios de conciliar esta demarcação com o Tratado preliminar concluído entre a França e a Inglaterra, que aceita a integridade das possessões portuguesas, não pode esta discussão fazer surgir sérias dificuldades; é evidente que a cláusula do Tratado preliminar não se referiu senão à invasão de que Portugal estava ameaçado pelo exército francês, que se achava nas suas fronteiras.

Não pode, além disto, aplicar-se esta cláusula à determinação de limites, que tem sido constantemente discutida. Importava a Portugal e à França prevenir toda a contestação futura; e não se pode, sob nenhum aspecto, considerar a disposição que tem por fim este objecto, como um ataque à integridade do território de Portugal.

Enfim, a única vantagem para a França será possuir sem contestação um território que está hoje inculto, mas que pode, pelo, cuidados e protecção de um Governo ilustrado e sempre cuidadoso da prosperidade pública receber prontos e grandes melhoramentos, sem causar inveja nem saudades a Portugal, a quem fica muito mais território do que pode cultivar.

As novas relações entre os dois países tornar-se-ão mais activas; as recíprocas vantagens que delas tirarem concorrerão para aproximar dois povos destinados a estimarem-se e amarem-se; e Portugal recobrará na Europa a posição que convêm a um estado que deve zelar a sua independência e prosperidade.

Em vão pretenderiam alguns homens, animados por antigas paixões e insensíveis aos clamores da humanidade, ver prolongar uma guerra que já custou sangue e tesouros à Europa; os seus murmúrios não prevalecerão sobre a sabedoria que, enfim, preside nos conselhos dos Governos.

Podemos esperar que dentro em pouco um último Tratado porá termo a todas as desgraças da guerra, e que Tratados fundados na justiça e no interesse comum assegurarão por largo tempo os inapreciáveis benefícios da paz.




píndaro

História de Portugal por Napoleão Bonaparte

"Cada um é responsável pelo seu próprio naufrágio."
Lucano



(Parte I)

Exposição apresentada ao Corpo Legislativo sobre os motivos para ratificar o Tratado de
paz feito em Madrid a 29 de Setembro de 1801 entre a República Francesa e o Príncipe Regente de Portugal, debaixo da mediação da Espanha

Esta exposição ao corpo legislativo do executivo francês sobre o tratado de Madrid de 1801, foi evidentemente escrita por Napoleão Bonaparte, pois só ele se poderia lembrar do que tinha escrito sobre Portugal, quando após a batalha naval de Aboukir, que isolou o exército francês que comandava no Egipto, descobriu a existência de navios portugueses na baía.


O mais interessante desta exposição é que ela é, ainda hoje, duzentos anos depois, a base da análise sobre as relações políticas e económicas de Portugal com a Grã-Bretanha, criadas pelo Tratado de Methuen de Dezembro de 1703.

De facto, o texto, ao ser publicado em França em 1864, serviu a Luz Soriano, Latino Coelho e outros autores portugueses do século XIX, como base para a sua visão do domínio britânico em Portugal.

O Tratado foi ratificado pela França em 19 de Outubro de 1801, e tornado decreto em 10 de Dezembro seguinte, após ter sido discutido no Corpo Legislativo em 30 de Novembro e votado no Tribunado em 2 de Dezembro.





«Qualquer monopólio ou privilégio exclusivo em proveito de alguma nação nos mercados de outra, não prejudica somente às mais nações que afasta desses mercados, mas ainda à que o concede pois lhe tira o recurso de achar pela concorrência preços mais vantajosos.»

Cidadãos legisladores.
- O Tratado que tenho a honra de vos propor é mais um acto que devemos às sábias medidas tomadas pelo Governo, e à valorosa dedicação dos exércitos da República.
Não será difícil demonstrar-vos as vantagens que oferece para a honra e prosperidade das duas nações.
Compreendem-se nele três disposições principais.


Pela primeira se restabelece a paz e a amizade entre a República francesa e o reino de Portugal; e as relações politicas entre as duas Potencias ficam no mesmo estado que antes da guerra.

Pela segunda determinam-se os limites futuros entre a Guiana francesa e a portuguesa.
Não era possível escolher outros melhores num país quase deserto, do que os rios e as montanhas; e era natural que a França, com possessões nessa parte muito menos extensas que as de Portugal, fizesse aproximar esses limites ao antigo ponto em que se haviam fixado.

Enfim a terceira dispõe que se negociará entre ambas as Potências um Tratado de comércio e de navegação, que há de lixar definitivamente as relações comerciais entre a França e Portugal; mas entretanto restabelecer-se-ão as comunicações: os cidadãos e súbditos das duas Potencias gozarão igual e respectivamente, nos Estados de uma e de outra, de todos os direitos de que aí gozam os das nações mais favorecidas; os géneros e mercadorias provenientes do solo e das fábricas de cada um dos dois Estados serão admitidos reciprocamente sem restrição, nem sujeição a qualquer direito que não pese igualmente nas mercadorias e géneros análogos importados por outras nações; e os panos franceses poderão imediatamente ser introduzidos em Portugal na condição das mercadorias mais favorecidas.

Estas estipulações provam que o Governo não ultrapassou os limites da moderação; não quis nada contrário ao interesse de uma nação que pediu a nossa amizade.

A mais estrita justiça prescrevia completa reciprocidade; limitou-se a pedi-la: abre novos mercados à indústria francesa, mas não quer engrandece-la por meio de privilégios ou de um monopólio; pretende fazê-la alcançar por nobre emulação o grau de prosperidade a que deve chegar. Se o Governo francês houvesse consultado somente o direito da força, poderia ter exigido mais de Portugal: julgou, pelo contrário, que quanto menos poderosa estava essa nação, menos conveniente nos era enfraquece-la.

Portugal já era há muito uma Potência independente, quando em 1581 passou para o domínio espanhol. Os Portugueses já haviam dobrado o cabo da Boa Esperança, aberto novo caminho ao comércio das Índias, e enchido com o seu nome esse rico país, onde se assinalaram por inúmeras façanhas e formaram os primeiros estabelecimentos europeus. Tinham descoberto o Brasil, e começado a fundar nessa parte da América uma colónia rica.

Não puderam as demais Potências da Europa ver sem receio, que se reunia aos reinos de Espanha uma monarquia tão vantajosamente situada para fazer uma grande parte do comércio do mundo, e que possuía os mais ricos e vastos estabelecimentos em ambos os hemisférios.
Assim quando os Portugueses em 1640 tentaram restituir ao trono a casa de Bragança, receberam poderosos socorros, mas nenhuma Potência lhos ministrou mais eficazes que a França.


Entre as duas nações formaram-se então relações de amizade, que só esfriaram no começo do século XVIII.
Quando o neto de Luís XIV passou à Espanha, o Governo português, assustado por ver naquele trono um Príncipe da casa de Bourbon, entregou-se, por assim dizer, à Inglaterra, e acedeu a estipulações que lhe arruinaram a indústria e tornaram quase nulas as nossas antigas relações com ele.


O Tratado de 27 de Dezembro de 1703, confirmado em 1713, entregou o comércio de Portugal ao monopólio dos negociantes e fabricantes ingleses, enquanto as mais nações foram, para assim dizer, excluídas dele.
Admitiram-se em Portugal todos os panos de lã da Grã-Bretanha, com a condição de serem recebidos na Inglaterra os vinhos portugueses pagando somente os dois terços dos direitos que pagassem os vinhos de França.


Por meio deste Tratado fizeram os Ingleses que as fábricas portuguesas primeiro definhassem, e depois se aniquilassem: tornaram-se fornecedores e agentes gerais do comércio de Portugal, e quase todas as riquezas que este extraía das suas colónias vinham por conta dos Ingleses e passavam pelas suas mãos; desta sorte se reduzia Portugal a uma simples colónia da Inglaterra, a um mercado quase privativo para sua indústria.

Debalde um ministro esclarecido indignado com semelhante escravidão, desenvolveu uma energia e tenacidade pouco vulgares, não poupando coisa alguma para libertar o seu país: o génio e a firmeza não deixaram traços tão profundos que os Ingleses não pudessem recobrar, depois que ele foi demitido, uma grande parte da sua influência. De certo que não tinham maior quinhão no comércio das suas próprias colónias do que tiveram no de Portugal.
Não só as suas manufacturas achavam saída neste reino, mas ainda os Ingleses serviam de intermediários entre Portugal e os mais povos manufactores da Europa; e como não entravam sem proveito por terceiros nestas transacções, o seu lucro era uma perda real tanto para Portugal, como para os outros povos manufactores.


Não era mais feliz o Governo português nas providências para assegurar a sua independência política; só tinha fracos meios de defesa, e achava-se reduzido a contar com os socorros da Potência em cuja dependência se colocara.

Os Portugueses, naturalmente plácidos e tratáveis, sensíveis à honra e amigos da glória, afáveis com os estrangeiros, e amantes das ciências e das artes, não deveriam ter visto na revolução francesa senão o repto de um povo generoso para a liberdade: mas o Governo português estava muito dependente da Inglaterra para deixar de seguir o seu exemplo.


(Continua)


píndaro

domingo, abril 24, 2005

Do gesto e triunfo


"Soy un ibero
y si embiste la muerte
yo la toreo"
gabriel celaya




"O poeta desdobra sua capa
está na página em branco a luz e oiro
para lidar o verso que lhe escapa
como o toiro na arena como o toiro"

(1)

"El torerísimo d. juan no engaña a las mujeres;
al contrario, las desenganã.
El toreo no engaña, desengaña el toro
"
(2)

"El arte es todo lo que sobra,
una vez se ha ejecutado la suerte como mandan los cánones
."
(3)

"É a outra face do silêncio, a consumação, que traz consigo a onda do prazer
e a subtil nostalgia da espera que o anunciou."

(4)

"O temple é uma questão de intuição".
(5)




(1) manuel alegre
(2)jose bergamín
(3)antonio bienvenida
(4)alvaro guerra
(5)pepe luiz vasquez



pindaro

Ligeiro arrepio



"Uma mulher jovem está estendida na areia, apanhando sol com os seios descobertos."
ic


"(...)
Faz meia-volta. Com passos decididos, encaminha-se uma vez mais na direcção da mulher estendida ao sol. Desta vez o seu olhar, lambendo voluptuosamente a paisagem, deter-se-á sobre os seios com especial atenção, mas apressar-se-á a considerá-los como parte de um arrebatamento de benevolência e de gratidão pelo todo, pelo sol e pelo céu, pelos pinheiros inclinados, pela duna e a areia e os escolhos e as nuvens e as algas, pelo cosmos que gira em torno daqueles cumes aureolados.
(...)"



Italo Calvino
(Palomar-o seio nu)



pindaro

Alma até Almada


"Hâtons-nous de succomber à la tentation, avant qu'elle ne s'éloigne. "
Epicuro




"Certo fim de tarde, Bento de Jesus Caraça dispõe-se ao ritual de um dedo de conversa à porta da Brasileira do Chiado. Os amigos vêem-no chegar radioso, iluminado - coisa rara num homem com tantas horas de aulas no Quelhas das Económicas. lnquirem da euforia. E Bento Caraça:

"Sabem, venho do atelier do Almada. Estive lá a tarde inteira. Nunca ouvi tanta asneira na minha vida, mas nunca passei uma tarde tão encantadora."
Si non è vero, è bene trovato.

Nem dá para imaginar o teor das "asneiras" de um esotérico (manipulador de mitos, símbolos, alegorias) face a um matemático - para mais, e presumivelmente, pouco dado a pitagóricas especulações. Porém todavia - matéria de encantamento - exprimiu Caraça o melhor que se pode exprimir da poesia ou, por extensão natural, de toda a arte: se não serve para encantar (lúdica ou convulsivamente), então o que é que anda cá a fazer?

Auto-retratando-se com palavras, Almada incluiu estas de Braque:
"A Arte é feita para perturbar, a Ciência assegura."

Não precisaria de bengala, ele que em diálogo com Fernando Amado já tivera ocasião de dizer "O artista conhece e não sabe", repetindo, em síntese redutora, o que escrevera no "Prefácio ao Livro de Qualquer Poeta":

"O saber é pouca coisa para quem conhece. O saber desencanta o mistério. O conhecimento vive cara a cara com o mistério."

Este primado da arte como conhecimento (e deste como "dianteira" sobre os saberes), atravessa todo o longo, eclético, plural percurso de Almada Negreiros: ao vanguardista que junto a Santa-Rita e Amadeo vinca o "fazer diferente" do primeiro modernismo português (Pessoa e Sá-Carneiro são casos atípicos, circunstanciais de modo) corresponde, em final de vida biológica, o mesmo do painel-testamento riscado na pedra que se mostra no átrio da Gulbenkian.

Se bem entendido fosse, ninguém, à cabeça Azeredo Perdigão, poderia exigir a Almada o repetir-se: já lá iam os painéis de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, com suas arquitraves geometrizantes ao serviço das figuras (como em algum do melhor neo-realismo), agora era a hora de outro salto - e Almada deu-o: à síntese, à súmula, ao arquétipo da geometria e do número, do sinal e do ponto, chamou-lhes, simplesmente, "Começar" - também para que não subsistissem académicas confusões sobre abstraccionismos geométricos "a la" Mondrian ou Malevitch.

"Começar", pois, e sempre: não se conhece melhor definição para vanguarda.
... Que pressupõe rectaguarda. Por exemplo, e para alguns: rectaguarda ideológica.

Ainda não há assim tanto tempo como isso (Novembro de 1996), Álvaro Cunhal-ensaísta (in "A arte, o artista e a sociedade", álbum natalício da Ed. Caminho) chegou e disse: "Falando das artes plásticas e da saga modernista dos anos 30 em Portugal, ninguém deve ter hoje dificuldade em reconhecer o valor estético dos desenhos de Almada Negreiros por se tratar de um defensor militante do fascismo (sublinhado nosso).

Certo que mais adiante reconhece igualmente "valor estético" ao "impressionante choque plástico da girafa em fogo de Dali", porém agora em contraponto com as "concepções, critérios e sensibilidades embotadas por ideias feitas". Ponto de exclamação do tamanho da légua da Póvoa em vertical.

Nem valeria a pena desembrulhar tal trapalhada (Almada "defensor militante" do fascismo - por via de selos e cartazes ? - e o franquista e pró-nazi Avida Dollars branqueado pela "estética") se as palavras de Cunhal-ensaísta não viessem, como vêm, persistir num equívoco ainda hoje recorrente se bem que boleado pela grosa liberal, seja, o de confundir, misturar, expressão artística com idealismo ideológico e assim ferretear "fascista" algum daquele pessoal das artes e ofícios que prestou serviço, trabalho, na arrancada do Estado Novo - desse Estado Novo que até foi, e só foi, "modernista" enquanto o Ferro, editor de "Orpheu", teve influência.
Algum.
Mas não todo, porque também entre a gente colaborante se contaram "progressistas", logo, e por tal, isentos de mancha. Poupem-nos nomes.

À luz crepuscular deste maniqueísmo teríamos então - se de contrária conveniência - como "antifascistas" já agora Pessoa e... Almada, que lá tiveram ocasião de alfinetar o ditador em verso e caricatura.
Terreno minado este - que não leva a lado algum em termos de propriedade, densidade, relevância do trabalho artístico.

Está bem de ver que o fulcro da questão assenta no fosso cavado entre quem defendia (ou defende) o primado ideológico sobre a concepção artística (Jdanov, Goebbels), com os lindos resultados que se conhecem, e quem, não "embotado por ideias feitas", não isenta a arte - como não isenta a vida - de relações, conflituosas as mais das vezes, com o seu tempo histórico mas a querem livre de constrangimentos conceptuais, fora ou dentro das pessoais opções políticas - caso hajam. "A sociedade só tem que ver com todos, não tem nada de cheirar com cada um" ("Nome de Guerra", 1925).

Será necessário sublinhar que a opção política - esta, sim, militante - de Almada se resume à afirmação de que "se não for por arte não serei de outro modo"? O último capítulo de "Nome de Guerra" tem por título "Finalmente o protagonista toma o partido das estrelas".

Em 1980, num longo e suculento bate-papo com Helena Vaz da Silva que veio a surgir impresso (ed. António Ramos), Júlio Pomar saiu-se com esta: "Hoje costumo dizer que houve dois homens no Portugal próximo-passado que de Portugal sabiam melhor que ninguém e que sem os perceber não há Portugal (Lisboa?) que se perceba: um chamava-se António de Oliveira Salazar e reinou o mais longo reinado da história (que aprendíamos por reinados), outro José de Almada Negreiros e reina ainda no personagem a-cultural que elaborou.

Esses foram dos poucos que conheceram Portugal na carne e por dentro."

Tiro certeiro e matéria fecunda para encartados. Pondo de lado o Manholas, que enquanto tal conhecia de ginjeira a maralha conterrânea (e de aí o ror de anos no poleiro) como não "ver" Portugal, como não "ler" Portugal ("par coeur") na obra de Almada que por aí se estende? No desenho, na pintura, a concretização do pacto sagrado a carecada com Amadeo e Santa-Rita em 1917 e que consistia, não por menos, em trazer à hora europeia, cosmopolita, futurista-e-tudo a pintura portuguesa do "Ecce Homo" e dos Painéis atribuídos a Nuno Gonçalves.

Na poesia, no romance, nos manifestos, nas conferências, nos ensaios (agora em fase de publicação sistemática e rigorosa), a língua "espontânea", salgada, donairosa, inventiva, hiperbólica, que vinha de Gil Vicente e Fernão Lopes e chegava até ele para ele a inventar outra vez e ficar novíssima em folha e toda dele, pessoal e... popular. Logo, com mestres.

Nem por sombras retirar vírgula de importância ao estudo fundamental de José-Augusto França "Almada Negreiros, o Português sem Mestre": acentue-se o "Português", compreenda-se que o "sem Mestre" vai no sentido de quem sabe o que sabe sem recurso a cartilhas e professores, mas leia-se o (relativo e nem por isso original) reparo à luz dessa entidade, dessa "unidade na diversidade" (José Mattoso) que percorre o arco da história e se chama povo, povinho, arraia miúda, homens bons - seu imaginário, sua gesta sofrida, sua mestiçagem cultural necessariamente universalista (em erudito, herdeira de gregos e renascentistas), sua empírica sabedoria, suas falas, sua língua movente.

Toda a obra de Almada comprova a herança que ele escolheu recebida às alturas de mito (o "povo real" tem dias) - e é pilar de Tradição, matriz e força motriz.

Bem no viu Lima de Freitas quando escreveu: "Os intelectuais imaginavam-se demasiado sabedores para ser seus discípulos, a juventude à procura de guerras santas não se interessava pela sua paz rigorosa; porém os homens simples do povo que conheceram o artista, ainda que incapazes de segui-lo intelectualmente, conheciam estar na presença de 'alguém'".

Almada sofria, irradiando uma luz secreta dos olhos desmesurados. (E anotava: "Farei tudo para que se respeite em toda a parte o português mas, pelo menos, na sua própria terra." ) (in "Almada e o Número", Arcádia, 1977).

Ah, o português! E que português obrigava a "respeito" quem dedilhara irónica amargura ao escrever (1931) "É fado nosso / é nacional / não há portugueses / há Portugal"?

... Isso é o que nós, antes de adivinhá-lo, gostaríamos de saber. Talvez aquele - é uma esperança - que ouse brandir a colher de pau (resistir é preciso) como defesa do último reduto caracterizador frente ao caterpillar do Supermercado Global.

Agora que deixou de ser possível a um português querer ser espanhol por causa dos Dantas - "o fado nosso" rasura Portugal do mapa e preenche com dez milhões de proto-cadáveres consumidores - restará, em jeito de corolário, colocar dois pontos:

"Os palermas que não percebem nada da vida são piores que os malandros" - Almada Negreiros, poeta português, universal-em-espírito."



v. silva tavares (2002)


píndaro

Dve ser isso

"(...) Arde nelas o que sobejou. A obra está limpa, o homem está limpo. Deve ser isso."
(de herberto helder, dedicado a Almada Negreiros)



"Amadeu de Sousa Cardoso é o documento conciso da Raça Portuguesa do séc. XX".

"É preciso criar a Pátria Portuguesa do séc. XX
O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades."

"Eu gosto de procurar sozinho para me encontrar com todos"

"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve haver certamente outras maneira de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido."

"Um ponto que está no círculo
E que se põe no quadrado e no triângulo.
Conheces o ponto? tudo vai bem.
Não o conheces? tudo está perdido."

"As pessoas que eu mais admiro são aquelas que nunca acabam."


almada negreiros


pindaro

E sempre, e tanto



Soneto da Fidelidade


De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zêlo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e darramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contetentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, pôsto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.



vinicius de moraes


pindaro

sábado, abril 23, 2005

Entendimento

Arte de amar


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


manuel bandeira



píndaro

Entranha a alma

A educação pela pedra


Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal[pela de dicção ela começa as aulas].
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra [de fora para dentro,
Cartilha muda], para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão[de dentro para fora, e pré-didática].
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.


joao cabral de melo neto


pindaro

quinta-feira, abril 21, 2005

Fuente de todos

"Sou valente com as armas,
sou guapo como um leão,
índio velho sem governo,
Minha lei é coração."

Erico Veríssimo
("Um certo capitão Rodrigo")




Francisco José Goya y Lucientes nasceu em Fuentedetodos, em 30 de Março de 1746, e depois andou por Saragoza, Madrid, Andaluzia, Itália e França.

Jurou fidelidade a José Bonaparte, designado Rei de Espanha pelo irmão, e após a Restauração pintou Fernando VII, retratando como ninguém a sua magnífica crueldade.

Da sua convivência com a Duquesa de Alba nasceram “Os caprichos”, fabulosas gravuras em água-tinta, que desafiam os séculos.

Por isto e aquilo, é para muitos o pai da arte moderna.

Muito anos mais tarde, na então Checoslováquia, nasceu Milos Forman, que vem brilhando a fazer filmes, juntado o difícil: integridade artística e atracção popular.

Voando sobre um ninho de cucos já chegava para a fama, mas acrescentou Valmont, Amadeus e Amarillo Slim.

E então? Pergunta-se.

O segundo vai fabricar a vida do primeiro, em filme, e terá baptizado o trabalho de “Os fantasmas de Goya”, centrando-se a trama no escândalo que estala quando uma musa do pintor é acusada de heresia por um monge …

Goya, musas, fantasmas, monges e heresias nas mãos de Forman é, de facto, uma boa notícia, até porque, como dizia um certo capitão Rodrigo, mentira histórica vira verdade artística.




Leonardo

É assim


“Para qué llamar caminos a los surcos del azar?”
a. m.




“Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;

Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás

se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.”




antonio machado



pindaro

Grande arte da luz e da sombra

“Na vida, os factos são o limão na ostra”
Clarice Lispector


Le secret de plaire en société est de se laisser apprendre des choses que l´on sait par des gens qui les ignorent

Charles Maurice, Prince de Talleyrand-Périgord



pindaro

Ao relento


“ Corsários, párias, tratantes, malandros, flibusteiros, trapaceiros, malfeitores, aventureiros, bucaneiros, vadios, velhacos, patifes, bandoleiros, celerados, malvados e salteadores. Gente boa.”
píndaro



Bartholomew Roberts (Gales 1682-1722):

Su verdadero nombre era John Roberts y fue conocido como "Black Bart".

Fue uno de los piratas de más éxito.

Era alto, bien parecido y vestía elegantemente .

En junio de 1719 el barco en que viajaba fue capturado en Gahna por Howell Davis, a quien se unió y a quien sucedió por elección como capitán cuando Davis cayó muerto por el gobernador de isla Príncipe.

En 1720 capturó al gobernador de Martinica y lo colgó del mástil.

La bandera que eligió lo muestra vengándose de las islas de Barbados y Martinica (con un pie sobre el cráneo del gobernador de Barbabados y con el otro pie sobre el de Martinica).

Su carrera duró cuatro años y terminó por un balazo que recibió de un soldado inglés en el cuello el 10 de febrero de 1722.

Su tripulación arrojó su cuerpo al mar antes de rendirse para impedir que cayera en manos de los británicos.

píndaro



quarta-feira, abril 20, 2005

As setas espirituais



ORAÇÕES JACULATÓRIAS, OU SETAS ESPIRITUAIS PARA
ATIRAR AO CÉU E FERIR O CORAÇÃO DE DEUS



"Agora damos alguns exemplos, ou fórmulas das Jaculatórias; não para que a alma devota se ate a palavras certas, e as profira mais como lição decorada na memória do que como parto afetuoso da vontade; senão para que, à vista destes exemplos, conheça melhor o modo de as fazer, e adestre o seu arco.

Vão repartidas em três como aljavas, conforme as três vias do Espírito, Purgativa, Iluminativa e Unitiva (que Molinos impiamente chamava o maior disparate da Mística); e assim podemos dizer que as primeiras são de ferro, as segundas de prata, e as terceiras de ouro; se bem aquelas ferirão mais altamente o coração de Deus que procederem de maior auxílio de sua graça, e maior intenção da nossa caridade.

Se o Leitor achar em alguma aljava seta que parece pertencer mais propriamente a outra, não forme disso reparo, porque estas coisas morais pouco importa se não pesem ouro fio com os escrúpulos da balança Teológica."


manuel bernardes


píndaro

terça-feira, abril 19, 2005

Do sentido próprio ao figurado

"De l'aphorisme obscur retiens la possible étincelle."
yves broussard





A l'aube de la Renaissance, l'Italie est fractionnée en une multitude d'entités politiques distinctes issues de la féodalité et de l'affaiblissement du pouvoir impérial.

Parmi celles-ci, cinq Etats principaux se partagent les richesses démographiques et commerciales:

Les Républiques de Florence et de Venise, le Duché de Milan, les Etats pontificaux et le Royaume de Naples.

Les rivalités sont nombreuses entre ces Etats qui se disputent le contrôle des marchandises et des capitaux, exacerbées par la haine qui oppose les partis Guelfes et Gibelins.

C'est dans ce cadre politique troublé que s'élaborent les bases de la diplomatie et de la guerre modernes: stratégies, tactiques et technologies militaires s'y développent rapidement.

Et parmi la foule d'innovations engendrées par ces conflits, émerge une nouvelle conception de l'affrontement :

la 'professionnalisation' de la guerre. Ainsi apparaissent les Condottieri.

Anciens soldats réguliers ou nobles désireux de redorer leur blason, ces hommes mettent leur art et leur expérience au service des Etats en guerre en échange d'argent, de terres ou de titres. Marginaux, féroces et respectés, les Condottieri et leurs mercenaires vont changer la face de l'Italie...

Quelques portraits, du XIV siecle:

GIOVANNI ACUTO (1320-1394) Apprenti tailleur à Londres, John Hawkwood s'engagea dans l'armée et se distingua lors des batailles de Crécy et de Poitiers. Il y conquit la faveur du Prince Noir et fut fait chevalier. Après le traité de Brétigny (1360), il leva un corps de mercenaires, la Compagnie Blanche (célèbre pour ses armes blanches et ses cris de guerre), et le conduisit en Italie où il prit le nom de Giovanni Acuto.Successivement au service de Pise contre Florence, puis des Visconti, puis du pape Grégoire XI, il termina sa carrière au service de Florence qui en fit Capitaine de la ville pour la somme de 130.000 ducats d'or.

FACINO CANE DE CASALE (1360-1412) Cane servit d'abord Jean-Galéas Visconti, qu'il aida dans sa lutte contre Mantoue, puis, après la mort de son protecteur (1402), il s'empara d'une partie de l'Italie du Nord. A la mort de Facino Cane, sa veuve, une princesse byzantine, épousa Philippe-Marie Visconti, à qui échurent les possessions de l'aventurier.

ANDREA FORTEBRACCI, DIT «BRACCIO DA MONTONE» (1368-1424) Braccio Da Montone eut pour rivaux Carlo Malatesta et Sforza qu'il battit en plusieurs rencontres. Il s'empara en 1416 de Pérouse dont il se fit déclarer Seigneur et fut un instant maître de Rome (1417). Il fut tué devant Aquila qu'il assiégeait pour Ladislas, roi de Naples.

MUZIO ATTENDOLO, DIT «SFORZA» (1369-1424) Fils d'un riche propriétaire terrien, Muzio s'engagea dans une troupe mercenaire à l'âge de 15 ans. Ayant gravi les échelons jusqu'à devenir capitaine de sa compagnie, il se mit au service de la maison d'Anjou à Naples. Il devint le patriarche de l'une des plus célèbres dynasties de condottieri après avoir reçu de Jeanne II de Naples le titre de grand connétable.

ERASMO DA NARNI, DIT «IL GATTAMELATA» (1370-1443) Fils d'un boulanger de Padoue, Erasmo da Narni fit ses armes dans les compagnies de Montone et Piccinino au service du Pape et de Florence. Il passa ensuite au service de Venise en 1434 durant la guerre contre les Visconti de Milan, puis devint le capitaine général de la ville en 1437.Sa célèbre statue équestre, oeuvre de Donatello, constitue le plus grand bronze moulé de l'époque.

NICCOLO PICCININO (1380-1444) Né à Pérouse dans une famille de bouchers, Piccinino (le tout petit) embrassa la carrière des armes à 13 ans. En 1424, à la mort de son commandant, il prit la tête de sa compagnie et vendit ses services à Florence puis à Milan en 1426.Son ambition dévorante inquiéta son employeur, le duc de Milan, qui prit la décision d'engager Francesco Sforza, l'ennemi personnel de Piccinino. La rivalité grandissante entre les deux condottieri les amena finalement à s'affronter en 1443.Vaincu, Piccinino mourut l'année suivante.

FRANCESCO BUSSONE DA CARMAGNOLA (1390-1432) Bussone combattit pour Philippe-Marie Visconti, duc de Milan, avant de passer en 1425 sous les ordres des Républiques de Florence et de Venise. Suspecté de trahison, il fut exécuté publiquement en 1432.




píndaro

O raio verde


Les roses des sables ou le vent dans les saules,
L'écru, l'ocre, la terre de Sienne,
Les déserts et les océans, les pôles,
Le rayon vert dorant la méridienne:

Trop de souvenirs désaccordés qui,
Tels des illusions de paradis,

A l'heure où les grands fauves vont boire,
Lascifs, celle où enchanteurs et augures
Illuminent tant de vieilles histoires,
Engagent à partir à l'aventure.




Anne Spinali

píndaro

domingo, abril 17, 2005

Cravação fechada

“A esmeralda é uma pedra frágil que se quebra com facilidade, como a fé”
Catarina de Médicis




A regra só pode ser esta:
os lapidários lapidarão e os ourives engastarão.

E elas, as de cabelo asa de corvo e olhos pretos, usem de primazia, na cercadura dos brincos, a prata branca.


Com vistas para o realce.

Ponham, por cima, camisa aberta e cor de canela, que entraves raianos não molham beijos,


Sabendo que reais são os méis e adulações no estreito das embocaduras, maiormente da do fremente limo voraz.

E, por cima de tudo, a destapar as pernas quase todas, que a seda preta, ávida de regard, mostre a sua solidão furtiva entre a saia e a carne nua.



Marcando territórios, os lobos florescem.







À Ana, bela à noite.

Doutor Lívio

Freixo de Espada à Cinta



"Afreguesei-me para lhe captar a benevolência..."
camilo castelo branco




"Um dos círculos menos disputados era, nessa ocasião, o de Freixo de Espada à Cinta.

Propunha-se como deputado da oposição um obscuro Gervásio Maldonado, proprietário local, com uma parentela larga na terra, interesses de lavoura, etc., e o Governo Cardoso Torres combatia-o, apresentando na lista governamental, como candidato por Freixo de Espada à Cinta, o moço bacharel Artur Gavião, filho do Presidente do Banco Nacional, que o pai, cansado da sua dissipação, queria forçar, pelos deveres que lhe imporia S. Bento - isto é o Parlamento - a uma vida disciplinada, sóbria e útil.

Conta-se que o sr. Alexandre Herculano, a este respeito, dissera, com aquele espírito misantropo que a sua voz ríspida acentuava de um relevo amargo:

Se o Gavião queria morigerar o rapaz, devia-o conservar no bordel, e não o mandar para o Parlamento !"


Eça de Queirós


pindaro