domingo, maio 15, 2005

Pérolas a montes



"O nosso ínclito rei D. Manuel, de feliz recordação, quando se viu dominador dos reinos do Oriente (de sorte que podíamos dizer que as asas do Sol se mediam com o seu Império, e que aqueles povos infiéis se não confederavam contra a potência das suas armas mais que para ser delas triunfo e ouvir os anúncios da palavra evangélica), então folgou de submeter toda esta grandeza aos pés do Sumo Pontífice Leão X, por seus embaixadores particulares tributando-lhe juntamente as primícias das riquezas do Oriente.

O principal delas era Tristão da Cunha, a quem faziam lados outros dois, a saber: Diogo Pacheco e João de Faria, desembargadores, e outros cinquenta cavaleiros. E era em todos tanta a riqueza e lustre, que havia selas, freios, peitorais e estribos de ouro de martelo, com pedraria fina e pérolas a montes.

Todos os embaixadores dos príncipes cristãos, que se achavam em Roma, e o governador da mesma cidade, e muitos bispos, e famílias dos cardeais, e outra inumerável nobreza, deram nobres aumentos a esta pompa, e o mesmo papa quis lograr o vistoso desta entrada, desde o Castelo de Sto. Angelo.

Levavam-lhe um presente com um grande e preciosíssimo cofre, coberto com pano de ouro e nele debuxadas as reais quinas posto sobre um elefante, o qual tanto que avistou ao Sumo Pontífice, ajoelhou três vezes, ensinado pelo naire que de cima o governava, e logo, metendo a tromba em um grande vaso de água que ali estava prevenido, borrifou os cardeais e outras pessoas que estavam pelas janelas, e o mesmo sinal de festa usou com o mais povo que estava apinhado pelas ruas."



manuel bernardes

(EMBAIXADA DE D. MANUEL AO PAPA LEÃO X)

pindaro

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